CPMI do INSS: Bancada do PT aponta elo de fraudes com bolsonarismo
Parlamentares petistas questionaram o advogado Nelson Willians e o contador Milton Salvador, apontando elo entre fraudes bilionárias, associações laranjas e aliados do bolsonarismo

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS ouviu, na quinta-feira (18), o advogado Nelson Willians Fratoni Rodrigues e o técnico de contabilidade Milton Salvador de Almeida Júnior, diretor de empresas de Antônio Carlos Camilo, conhecido como “Careca do INSS”.
O primeiro depoimento do dia foi de Nelson Willians, sócio de um dos maiores escritórios de advocacia do país. Ele obteve um habeas corpus do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), que lhe permitiu permanecer em silêncio perante os parlamentares. Durante a sessão, utilizou essa prerrogativa inclusive nos questionamentos do relator, deputado Alfredo Gaspar (União Brasil).
Segundo o Coaf, transações suspeitas movimentaram cerca de R$ 4,3 bilhões do escritório entre 2019 e 2023. À CPMI, o advogado declarou ser amigo pessoal do empresário Maurício Camisotti, preso pela PF, e reconheceu a existência de operações financeiras suspeitas entre ambos.
Apesar do silêncio garantido por Nunes Marques, a bancada do PT não deixou de levantar dúvidas sobre o envolvimento de Nelson Willians no assalto ao INSS.
Lavagem de dinheiro
O deputado Rogério Correia (PT-MG) relacionou a ascensão econômica de Camisotti ao governo Bolsonaro. O empresário é dono da Ambec, uma das associações apontadas como fraudulentas no esquema.
“A Ambec era do senhor Camisotti, que o senhor disse que é amigo dele, senhor Nelson Willians. (…) Esse amigo fez isso em 2022, com o Oliveira, que já veio aqui e depois virou ministro. E ele autorizou isso”, apontou Correia.
Correia lembrou ainda das suspeitas sobre o escritório de Nelson Willians: “O senhor estava lá fazendo lavagem de dinheiro”, acusou.
“Enquanto aposentados eram enganados, escritórios e empresários movimentavam milhões em nome do assalto ao INSS”, afirmou Rogério Correia (PT-MG)
Caminhada com Pablo Marçal
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) ironizou o silêncio do depoente: “O senhor faz parte dos legendários? Já foi na caminhada promovida pelo Pablo Marçal?”.
Pimenta detalhou suspeitas sobre a Ambec, o enriquecimento ilícito de seus dirigentes e pagamentos que teriam sido feitos pelo escritório de Nelson Willians a Antônio Carlos Camilo, o “Careca do INSS”.
“O doutor Nelson Willians está dentro dessa coisa. Se é como advogado, se é como prestador de serviço, a investigação vai demonstrar. Mas não há dúvida da relação entre a Ambec, a Geap, o doutor Nelson, Camisotti e o ‘Careca’”, concluiu.
Prevaricação bolsonarista
O deputado Alencar Santana (PT-SP) criticou o silêncio do depoente e trouxe à tona entrevista de Izalci Lucas (PL-DF), que admitiu ter denunciado a fraude ao então presidente Jair Bolsonaro.
“O senador levou ao conhecimento do presidente. E a única medida foi a edição da Medida Provisória 871, cuja comissão ele presidiu. E, à época, o secretário da Previdência era Rogério Marinho. Ora, diante de uma denúncia dessas, essa foi a única medida?”, questionou Alencar.
O parlamentar exibiu ainda vídeo em que Arthur Lira cita Rogério Marinho, associado à construção do texto final da MP junto à Contag, entidade investigada pela PF.
Depoimento de Milton Salvador
Sem habeas corpus, o contador Milton Salvador de Almeida Júnior assumiu o compromisso de falar a verdade. Ele relatou que trabalhou por 14 meses para as empresas de Camilo, controlando um fluxo de R$ 10 milhões por mês. Disse não ter desconfiado dos valores até a chegada da Polícia Federal à sua casa, em abril de 2025.
Seu depoimento foi considerado o mais colaborativo pela CPMI.
“Quer dizer o senhor foi contratado através de um perfil no LinkedIn?”, ironizou Paulo Pimenta, classificando o enredo como “um roteiro de filme de máfia”.