Manifestações dividiram as ruas do Brasil: bolsonaristas focaram na defesa de Jair Bolsonaro e ataques ao STF, enquanto movimentos progressistas reforçaram o Grito dos Excluídos com pautas de democracia e justiça social

Os dois lados do 7 de Setembro: o que esquerda e direita defenderam em atos durante a data
Foto: Agência Brasil

O feriado de 7 de Setembro de 2025 voltou a evidenciar a polarização política no país. Em diversas capitais, atos simultâneos mobilizaram agendas distintas: de um lado, manifestações da direita em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro e contra o Supremo Tribunal Federal (STF); de outro, o tradicional Grito dos Excluídos, que desde 1995 marca o Dia da Independência com críticas à desigualdade e à concentração de renda.

Em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, apoiadores bolsonaristas pediram anistia ao ex-presidente, réu em processos por tentativa de golpe de Estado, corrupção e mau uso da máquina pública. Discursos também atacaram ministros do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mantendo a retórica de desconfiança contra o sistema de Justiça.

Na outra ponta, o Grito dos Excluídos reuniu sindicatos, movimentos populares, pastorais e partidos progressistas em mais de 200 cidades. 

As marchas defenderam soberania nacional, justiça fiscal e combate à fome, com o lema “Povo vivo, democracia real”. As pautas incluíram ainda críticas às privatizações, à concentração de terras e a defesa da taxação das grandes fortunas.

Atos da direita focaram na defesa de Bolsonaro e ataques ao Supremo Tribunal Federal

Fôlego desigual

Embora as manifestações tenham ocorrido em paralelo, analistas apontaram diferença de fôlego. A direita mostrou dificuldades em manter a capacidade de convocação dos últimos anos, enquanto o Grito dos Excluídos consolidou-se como uma tradição enraizada, com forte participação popular e capilaridade em comunidades periféricas.

Nas redes sociais, a disputa também foi intensa: militantes bolsonaristas impulsionaram hashtags pedindo “anistia já”, enquanto movimentos de esquerda reforçaram a necessidade de responsabilização pelos crimes contra a Constituição.

Postura institucional

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou apenas da cerimônia oficial de hasteamento da bandeira, em Brasília, ao lado de ministros e autoridades militares. Ao manter distanciamento dos atos políticos, Lula destacou que a independência deve ser celebrada como compromisso com a democracia e a justiça social, sem confundir Estado com disputas partidárias.

A cobertura internacional reforçou a imagem de um Brasil polarizado. O britânico The Guardian destacou a dependência da direita em relação a Bolsonaro, enquanto o francês Le Monde chamou atenção para a vitalidade do Grito dos Excluídos. 

O New York Times lembrou que a permanência de Bolsonaro no centro do debate mostra os ecos da tentativa de golpe de 2022. J

á veículos latino-americanos, como o Página/12 e o La Tercera, ressaltaram a força simbólica das demandas sociais brasileiras, em sintonia com o debate regional sobre desigualdade.

Grito dos Excluídos mobilizou mais de 200 cidades com pautas de democracia e justiça social

Termômetro para 2026

Especialistas brasileiros avaliam que as mobilizações de 2025 funcionaram como ensaio para as eleições de 2026. A cientista política Maria do Socorro Braga (UFSCar) observou que o Grito dos Excluídos “conseguiu pautar um discurso de futuro, enquanto os atos bolsonaristas reforçaram uma narrativa de passado”.

Para o sociólogo Celso Rocha de Barros, o bolsonarismo enfrenta dificuldades em se renovar. Já a cientista política Carolina Botelho (UFRJ) alerta que a direita mantém presença significativa, sobretudo nas redes sociais e em segmentos que rejeitam o PT.

A leitura geral é que o 7 de Setembro deixou de ser apenas uma celebração cívica e se consolidou como campo simbólico de disputa política. Entre um projeto centrado na nostalgia de um líder em crise e outro voltado a transformações estruturais, a independência nacional segue sendo palco de embates sobre o futuro do Brasil.