O machismo na sociedade e na política, por Gleide Andrade
A luta por igualdade passa pelo reconhecimento e pela garantia de que não há limites à presença das mulheres na política e em todas as esferas da sociedade, destaca a secretária de Finanças do PT, em artigo

Em 17 de abril de 2016, o então deputado Jair Bolsonaro votou pela abertura do processo de impeachment sem crime contra Dilma Rousseff, fazendo homenagem ao torturador da jovem militante que viria a ser a primeira mulher presidenta da República. No dia seguinte a revista Veja publicou a matéria: “Marcela Temer: bela, recatada e ‘do lar’”, fazendo a apologia de uma mulher submissa e sem opiniões, que viria a ser a primeira-dama do país após o golpe; alguém que cuidava da casa e saía apenas para “levar Michelzinho à escola e ir à dermatologista”.
Os dois episódios, num intervalo de apenas 24 horas, expõem bem o papel que a direita e as elites conservadoras deste país reservam às mulheres. A direita quer as mulheres — incluindo a primeira-dama — caladas, apagadas, submissas ao homem, em casa, no trabalho e na política. É justamente por romper com essas expectativas que Janja, a esposa do presidente Lula, se tornou alvo frequente de ataques machistas daqueles que buscam autopromoção à custa da misoginia. Muitos dos que se incomodam com o papel que Janja desempenha ignoram que ela é militante do PT desde a adolescência e que, como mulher, petista e feminista, tem pleno direito de ter voz na política.
A visão de mundo atrasada e machista está também na raiz de boa parte das críticas à escolha do presidente Lula ao nomear Gleisi Hoffmann como ministra das Relações Institucionais do governo. Por ignorância ou preconceito (às vezes ambos) repetem chavões que se ouviram quando Lula a indicou para presidir o PT, em 2017. Omitem o sucesso de Gleisi ao manter o partido unido em seu momento mais difícil: pós-golpe, em plena farsa da Lava Jato e da prisão ilegal de Lula. Tentam apagar sua competência na articulação política da campanha presidencial de 2022, quando construiu uma coligação de 12 partidos e ampliou a frente democrática no segundo turno.
Em todos esses desafios, estive ao lado de Gleisi e do presidente Lula, seja como Secretária de Organização do PT de 2017 a 2019, ou como Secretária de Finanças do PT, de 2019 até hoje, durante uma das eleições mais difíceis que enfrentamos. Ser mulher e ocupar a Secretaria Nacional de Finanças do PT me levou a enfrentar as perseguições machistas, por meio da mídia e de adversários da direita, tanto a nível nacional quanto local, em Minas Gerais, e por vezes em meu próprio partido, o primeiro no Brasil a garantir a paridade entre mulheres e homens em todos os postos de direção. O machismo é algo estrutural, arraigado na sociedade. Romper com ele requer de todos nós, mas sobretudo dos homens de esquerda, lucidez e desprendimento.
O PT completou 45 anos em fevereiro deste ano e, agora, em mais um Dia Internacional das Mulheres, reafirmamos nosso compromisso com a luta pela emancipação feminina, pelas políticas de combate ao feminicídio e a todas as formas de violência contra a mulher, e com a ampliação da participação das mulheres em todos os espaços de poder para que possamos eleger mais mulheres comprometidas com a emancipação feminina.
Que neste 8 de março, reafirmemos que as mulheres devem ocupar todos os espaços que desejarem: na presidência de partidos, nas secretarias de finanças, à frente de ministérios estratégicos, como a Secretaria de Relações Institucionais, e em qualquer outra posição de poder e decisão que escolherem. A luta por igualdade passa pelo reconhecimento e pela garantia, na prática cotidiana, de que não há limites para a presença das mulheres na política e em todas as esferas da sociedade.
Gleide Andrade é secretária Nacional de Finanças e Planejamento do PT