Multimedalhista se despede de Paris com quatro pódios e soma seis no total. No Taiti, dois pódios para o país. Mesatenista é a primeira atleta paralímpica brasileira a atuar em Jogos Olímpicos. Em comum a todas as histórias, a digital do Bolsa Atleta 

Ouro faz de Rebeca a maior medalhista olímpica do país
Simone Biles e Jordan Chiles reverenciam Rebeca Andrade no pódio do solo em Paris 2024 Elsa/Getty Images

Rebeca Andrade estava tensa. Mas não a tensão de quem espera o pior. O olhar aflito, surpreendentemente míope, está voltado para o placar do ginásio onde acontece as finais solo da ginástica artística em Paris.

A apresentação havia sido épica e o ouro já reluzia. A atleta brasileira já havia se consagrado dias antes, mas ainda havia tempo para um novo capítulo: o lugar mais alto do pódio com direito a referência de ninguém menos que Simone Biles.  

Já são seis medalhas olímpicas, feito inédito. Uma delas, alem do ouro, também tem sabor especial: o bronze por equipe, que coroa um trabalho com o influência direta de políticas de incentivo ao esporte. Foi em 2004, segundo ano da primeira gestão de Lula, que surgiu um dos programas mais importantes da história do esporte nacional e um dos maiores do mundo: o Bolsa Atleta. Nada menos do que 241 dos 276 participantes brasileiros dos jogos são beneficiados pelo programa.

A evolução da ginástica artística é o exemplo mais contundente dos efeitos da iniciativa. E não é de hoje. Já são sete medalhas conquistadas desde os Jogos Olímpicos de Londres em 2002 – naquela edição veio o inédito ouro de Arthur Zanetti nas argolas. Depois, foram duas pratas e um bronze no Rio 2016, um ouro e uma prata em Tóquio 2020.

Em Paris, todas as meninas da equipe que levou o terceiro lugar são beneficiadas pelo Bolsa Atleta. Além de Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira recebem valores que variam entre R$ 5.543 e R$ 16.629 por mês.

O programa teve reajuste em 2024 de 10,86%. Não custa lembrar que o esporte foi escanteado desde o golpe contra Dilma em 2016, mas foi com Bolsonaro que deixou de ter um ministério próprio para virar apenas uma secretaria. 

A própria Rebeca Andrade celebrou, em reportagem publicada pelo portal do Governo Federal, a retomada da Bolsa Atleta. “É importante para que a gente consiga comprar os novos materiais de treinamento, essenciais para que a gente consiga evoluir e continuar tendo conquistas também. E ajuda muitos atletas a ajudarem seus familiares, que é algo que preocupa muita gente também. E podermos cuidar da nossa saúde, da saúde dos nossos familiares, cuidar da nossa parte aqui dentro, da arena, sabe? É essencial, eu estou muito grata”, afirmou. 

Além do Bolsa Atleta, os investimentos federais na ginástica passam pela Lei das Loterias, Lei de Incentivo ao Esporte e convênios do Ministério do Esporte com a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). Em 2010, um convênio do MEsp com a CBG investiu R$7,2 milhões na compra de equipamentos. Nos últimos 20 anos, R$95,5 milhões foram repassados para a entidade por meio da Lei das Loterias.

A brasileirinha que encantou o mundo com Brasileirinho

Chamada de rainha pelos brasileiros após a conquista da prata em Paris, Rebeca Andrade já é a maior atleta olímpica da história do país. Mas sua trajetória também teve providencial empurrão de outra estrela da ginástica: Daiane dos Santos, hoje conhecida pelas novas gerações pelo seu trabalho como comentarista ou até mesmo por ter participado do programa dominical Dança dos Famosos. O seu legado, no entanto, deveria estar na ponta da língua de qualquer pessoa que ame esporte no Brasil. 

Para quem tem mais de 30 anos, Daiane dos Santos sempre foi e sempre será a brasileira que encantou o mundo ao som de Brasileirinho, clássico de Waldir Azevedo que embalou a sua apresentação em Atenas 2004. Foi ela a responsável pelo primeiro ouro olímpico do país na modalidade, e primeira campeã negra da história da ginástica. 

Tudo isso, claro, com apoio do Bolsa Atleta. “O Bolsa Atleta é um programa muito importante para o Brasil, quando a gente fala de esporte. Hoje é o maior mantenedor dos atletas, a gente pode ter mais atletas competindo, treinando mais tranquilos, porque eles têm hoje uma renda que ajuda. Isso é muito importante. A gente perdia muitos, principalmente nessa fase da adolescência, que a grande maioria das famílias é de baixa renda, precisa ajudar em casa, precisa se manter, comprar equipamento, comprar alimento também. Então o Bolsa Atleta veio para isso, para dar essa estrutura de que a gente precisa, necessita e sempre vai necessitar” afirmou, também em entrevista ao portal do governo. 

Mais de nove mil bolsas são pagas atualmente

Ouro vale ouro. Prata vale ouro. Bronze vale ouro. A frase que virou meme durante os Jogos Olímpicos de Paris dá bem a dimensão do que significa cada medalha conquistada pelos atletas brasileiros. A maioria deles, claro, conta ou já contou com o Bolsa Atleta.

A retomada do programa é vista com grande otimismo por profissionais do setor e as razões estão nos números. De 2011 até agora, a União pagou R$ 5,8 milhões em apoio financeiro aos atletas que já são medalhistas nos Jogos Olímpicos de Paris. 

Além deles, mais de nove mil atletas são beneficiados atualmente pelo programa e recebem bolsas que variam de R$410 a R$16,6 mil. Entre os 276 esportistas brasileiros que estão participando das Olimpíadas, 241 recebem o auxílio financeiro, criado em 2004, por Lula.

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