A Polícia Federal deflagra a 19ª fase da operação Lesa Pátria, e coloca sob a mira das investigações sobre o 8 de Janeiro outras 12 pessoas, incluindo Leo Índio, primo dos filhos de Bolsonaro

Cerco aos golpistas se aproxima do clã Bolsonaro
AUTOINCRIMINAÇÃO– Léo Índio participou dos atos de radicais que não aceitavam a derrota de Jair Bolsonaro e partiram para otudo ou nada em 8 de janeiro, uma semana depois da posse de Lula Reprodução/Facebook

Uma semana depois da CPI dos Ataques à Democracia encerrar suas atividades a aprovar um relatório indiciando 61 pessoas — incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, generais e autoridades — pela conspiração contra a democracia e a tentativa de golpe de Estado, em 8 de janeiro, a Polícia Federal voltou às ruas.

Em busca de criminosos que participaram do atentado contra os Três Poderes da República, agentes da PF deflagraram, na quarta-feira, 25, a 19ª fase da Operação Lesa Pátria. Eles cumpriram cinco mandados de prisões preventivas e 13 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Os alvos são 12 pessoas apontadas pelas investigações pelo envolvimento direto e que, de alguma forma, incentivaram, participaram ou fomentaram a tentativa de golpe que levou à invasão e depredação do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e da sede do Supremo Tribunal Federal. Os mandatos foram cumpridos em Cuiabá, Cáceres (MT), Santos (SP), São Gonçalo (RJ) e Brasília por determinação do ministro Alexandre de Moraes.

Entre os 12 investigados, está Leonardo Rodrigues de Jesus, o Leo Índio, primo dos filhos de Bolsonaro. Ele é filho de Rosemeire Nantes Braga Rodrigues, irmã de Rogéria Nantes Braga Rodrigues, primeira esposa de Jair Bolsonaro e mãe de Flávio, Carlos e Eduardo. Léo Índio estava na Praça dos Três Poderes no dia dos ataques aos prédios das instituições da República. Ele se candidatou a deputado distrital na Câmara Legislativa do DF nas eleições gerais de 2022, mas não se elegeu.

No dia 8 de Janeiro, durante os ataques em Brasília, o empresário publicou fotos do lado de fora do Congresso e diante da sede do Supremo. Esta é a segunda vez que a PF expede um mandato de busca e apreensão contra ele, que foi um dos alvos da terceira fase da Lesa Pátria.

“Os fatos investigados constituem, em tese, os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido e crimes da lei de terrorismo”, afirmou a PF em nota.

O primo Léo é um dos mais próximos amigos do vereador carioca  Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Ele também é investigado no inquérito aberto pela Procuradoria Geral da República para apurar a organização e o financiamento das manifestações de 7 de setembro de 2021, quando Bolsonaro ameaçou o STF e xingou Alexandre de Moraes. Na época, ele postou nas redes sociais uma campanha de arrecadação de dinheiro para financiar as manifestações golpistas.

No dia anterior à operação, na terça-feira, 24, o ministro Alexandre de Moraes recebeu das mãos da relatora da CPI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA) — e de integrantes da comissão parlamentar — o documento final aprovado, que aponta crimes de associação criminosa, violência política, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. Todos estão tipificados no Código Penal, por condutas dolosas.

Cerco aos golpistas se aproxima do clã Bolsonaro
BONS TEMPOS Ao lado do tio, Jair Messias Bolsonaro no Palácio da Alvorada, o primo Léo Índio tentou a sorte nas
eleições de 2022, concorrendo a uma cadeira na Câmara Legislativa de Brasília, mas não conseguiu vencer a disputa Reprodução/Facebook

O ministro incluiu o relatório final da CPI em investigações que tramitam na Corte sobre atos antidemocráticos no governo Bolsonaro. Segundo Moraes, as provas contidas no relatório serão compartilhadas com o inquérito das “fake news”, o inquérito das milícias digitais e a investigação sobre os rastreamentos ilegais da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

“O encaminhamento deve ser deferido, uma vez que é pacífico o entendimento do STF quanto à possibilidade de compartilhamento de elementos informativos colhidos no âmbito de inquérito para fins de instruir outro procedimento criminal”, justificou o ministro. 

Ele diz que o relatório aponta para um “reiterado procedimento atentatório à democracia adotado pelas milícias digitais”, além do aparelhamento da Polícia Rodoviária Federal e do desvirtuamento da Abin. Também foram citadas “as tentativas de obstrução das eleições, e posteriormente, de sua anulação”, a partir de bloqueios de rodovias, acampamentos, atos de vandalismo e tentativas terroristas, como a da bomba no aeroporto de Brasília.

Além de Bolsonaro, foram indiciados outros 60 de seus apoiadores mais radicais, incluindo os generais Walter Braga Netto, Augusto Heleno, Luiz Eduardo Ramos, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, Marco Antônio Freire Gomes e o almirante Almir Garnier Santos.

Também na quarta-feira, o advogado-geral da União (AGU), Jorge Messias, determinou a abertura de procedimento para responsabilização cível por dano ao patrimônio público das 61 pessoas que tiveram pedidos de indiciamento no relatório da CPI.

O ministro recebeu o documento pela manhã das mãos de integrantes governistas do colegiado. À tarde, o parecer foi entregue à Polícia Federal. Messias determinou o encaminhamento do documento à Procuradoria Nacional da União do Patrimônio Público e Probidade para que sejam adotadas providências necessárias ao ressarcimento pelos danos causados pelas 61 pessoas citadas no parecer. “Bem como as demais medidas judiciais e administrativas cabíveis”, complementou.

Ele afirmou que as duas unidades especializadas da Procuradoria Geral da União devem avaliar o relatório e as provas na tentativa de buscar o pleno ressarcimento dos cofres públicos.

O parecer da comissão, com 1.300 páginas, foi aprovado na semana passada por 20 votos a 11. O relatório diz que os ataques foram o ponto alto de uma conspiração para manter Bolsonaro no poder, derrubando Lula. “O dia 8 de janeiro foi uma tentativa intencional e premeditada de encenar um golpe de Estado”, aponta o documento. •