Dois Brasis em disputa
Lula lidera com folga entre os mais pobres, os jovens, as mulheres e os negros. Enquanto o atual presidente está na preferência dos mais ricos e que se situam no topo da pirâmide social
Neste artigo, trazemos as análises do Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos (Noppe), da Fundação Perseu Abramo, sobre as pesquisas mais recentes divulgadas pelos institutos. Os dados permitem olhar para quais segmentos da sociedade apoiam a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), indicando que a polarização entre ambos é marcada por clivagens sociais e demográficas.
Os dados demonstram que há contornos sociais na atual polarização política e eleitoral brasileira. Os que mais sofrem com o desastroso governo de Bolsonaro aderiram em peso à candidatura de Lula: 1) os mais pobres, que lidam com o impacto da crise econômica e da desassistência de um governo que os exclui do orçamento; 2) os mais jovens, para quem o desemprego supera a média nacional; e 3) as mulheres e os negros, onde mais recai os impactos da crise em uma sociedade estruturada pelo machismo e pelo racismo.
Em outros segmentos, sejam aqueles em que há ligeira vantagem para Lula, ou nos que dão pequena dianteira a Bolsonaro, há condições de disputar corações e mentes – como o Noppe tem reforçado a partir de sua agenda de estudos com os segmentos não-polarizados da população.
Lula lidera com folga na base da pirâmide social brasileira, ou seja, na parcela da população que possui renda familiar mensal menor que dois salários mínimos. Isso tem sido demonstrado por pesquisas de diferentes metodologias, seja as realizadas com coleta presencial ou coleta remota (telefônica).
O levantamento Genial/Quaest mais recente aponta que Lula tem 57% das intenções de voto neste segmento, contra 22% de Bolsonaro. Já o levantamento XP/Ipespe, cujas pesquisas deixaram de ser semanais após pressão da consultoria de investimentos que financia os levantamentos, trouxe Lula com 51% contra 26% de Bolsonaro.
Segundo o Datafolha, a vantagem do petista contra o atual presidente é de 36 pontos percentuais na base social, número que salta para 41 pontos em um eventual segundo turno. As pesquisas indicam que quanto maior a renda do entrevistado, maior o apoio a Bolsonaro.
Ao analisar os dados dos diferentes levantamentos por região, chegamos ao seguinte quadro. Lula tem vantagem colossal no Nordeste — 49% segundo a Quaest, em primeiro turno — e uma ligeira dianteira no Sudeste e Norte/Centro Oeste, agrupados, ambos, por alguns institutos por decisões amostrais.
Na região Sul, não há consenso entre as pesquisas. Levantamentos presenciais tendem a apontar um quadro mais favorável a Lula, enquanto os levantamentos remotos demonstram uma vantagem de Bolsonaro na região. Metodologias presenciais tendem a captar de forma mais acurada as opiniões da parcela mais pobre, menos escolarizada e localizada nos interiores em relação às pesquisas remotas.
Como temos ressaltado em nossas análises semanais para a Focus Brasil, três segmentos fundamentais para compreender a rejeição a Bolsonaro e a adesão a Lula são as mulheres, os jovens (de 16 a 24 anos) e a população negra.
Se entre os homens, Lula possui uma vantagem mais curta contra Bolsonaro, entre as mulheres, o petista têm o dobro de votos de Bolsonaro, segundo o levantamento Quaest: 48% contra 24%. A diferença é de 19 pontos, segundo a pesquisa BTG/FSB mais recente: 46% a 27%.
Entre os mais jovens, Lula tem 48% contra 27% de Bolsonaro, de acordo com a pesquisa Genial/Quaest. E 47% contra 29%, segundo a XP/Ipespe. Já entre os entrevistados e entrevistadas que se autodeclaram pretos ou pretas, segundo a Quaest, Lula tem 60% contra 22% de Bolsonaro.
Bolsonaro leva vantagem contra o ex-presidente entre os evangélicos, muito embora tal distância não seja larga como as que vimos nos segmentos pró-Lula – segundo a BTG/FSB, Bolsonaro tem 44% contra 36% de Lula.
Segundo o Datafolha, entre os empresários (autodeclarados), Bolsonaro tem 56% contra 23% de Lula. Isso pode ajudar a entender o porquê dos movimentos de boicotes contra instituições financeiras que contratam pesquisas cujos resultados podem ser de difícil digestão para um apoiador do atual presidente da República. •