Não basta a eleição de Lula
O estimulante anúncio de Lula de que, eleito presidente, anulará a reforma trabalhista, a exemplo do que ocorreu na Espanha, soou para a maioria dos trabalhadores brasileiros como uma luz no fim do túnel cavado pelos golpistas que derrubaram Dilma e elegeram Bolsonaro presidente.
A perspectiva de recuperar direitos trabalhistas tungados pela reforma e remontar a máquina social e econômica desmantelada pela dupla Temer-Bolsonaro desperta nos brasileiros a consistente esperança de que é possível, sim, reconstruir o país.
Mas sabe Lula e sabemos todos nós que isso não se dará num passe de mágica, um dia após a mudança de governo. Lembro-me de um episódio de iniciativa do então senador paranaense Roberto Requião (MDB-PR).
Quando o Congresso aprovou a proposta do senador tucano José Serra (PSDB-SP), autorizando a Petrobrás a vender até 70% de suas jazidas (incluído aí o tesouro do Pré-Sal, que Lula pretendia destinar ao financiamento de uma revolução na Educação, pensando no futuro), Requião enviou um ofício aos embaixadores de todos os países com representação no Brasil com uma grave advertência: “Qualquer Estado estrangeiro que adquirir bens da Petrobrás será indiciado, em um governo brasileiro democrático, pelo crime de receptação de bens roubados da Nação”.
A corajosa ameaça de Requião, no entanto, não se concretizaria com um mero decreto de expropriação das empresas e bens estatais que Bolsonaro e Paulo Guedes vêm mascateando pelo mundo privado na bacia das almas.
Para recuperar pacificamente para os brasileiros o que vem sendo esbulhado por Bolsonaro, o próximo governo – governo Lula, a julgar por todas as pesquisas realizadas até agora – dependerá da composição do Congresso Nacional que será eleito nas eleições de outubro deste ano.
E é exatamente por isso que tenho rebatido o bordão que repito desde que Lula anunciou que disputará as próximas eleições. Para reaver os direitos trabalhistas e recuperar o que foi tungado do povo será, sim, essencial eleger Lula. Mas só isso não será suficiente.
É preciso eleger Lula, mas apenas isso o deixará de mãos atadas se, simultaneamente, os eleitores não levarem para a Câmara Federal e para o Senado uma maioria de candidatos nacionalistas, comprometidos com a propriedade social das riquezas e com a volta dos direitos dos trabalhadores.
É por isso que insisto e reitero: vamos eleger Lula, de preferência no primeiro turno. Mas junto com ele temos que escolher um Parlamento que compartilhe a bandeira lulista: recuperar direitos perdidos e devolver o Brasil de novo para o Brasil.