A esquerda argentina, peronista no seu eixo fundamental, tem um arraigo profundamente nacionalista. O kirchnerismo —, de Nestor e Cristina e, agora, de Alberto Fernández —, reivindica esse perfil característico do peronismo.

Os governos de Nestor e de Cristina reverterem as tendências privatizadoras que tinham predominado na Argentina, fortalecendo o Estado e as empresas públicas do pais.

Alberto Fernández foi escolhido por Cristina para retomar o governo e o ciclo de governos anti-neoliberais. Sua política econômica voltou a se centrar nas questões sociais, na retomada do crescimento econômico e no resgate do papel ativo do Estado.

O governo de Fernández foi surpreendido, assim que assumiu, pela pandemia, com todas suas consequências econômicas e sociais. As eleições de um terço do Senado e metade da Câmara de Deputados refletiu o empobrecimento da população, assim como erros na politica de retorno dos estudantes às escolas — muito explorada pela direita —, levando a uma vitória da direita, insuficiente para deixar o governo em minoria no Congresso, mas que resultou na perda da maioria absoluta.

No entanto, o governo Fernández não interrompeu o programa com o qual foi eleito. Ele revogou, por meio de decreto, as privatizações de empresas de energia e centrais elétricas, postas em pratica por Maurício Macri, seu antecessor, no seu projeto de retomada do neoliberalismo.

O decreto anulou vários artigos das medidas de Macri, revertendo a privatização de empresas como a Dioxitec, a Transener e as centrais termoelétricas Manuel Belgrano e San Martin.

Essas medidas se dão no mesmo momento em que o governo desenvolve difíceis negociações com o FMI para redefinir os pagamentos do acordo assinado por Macri. Uma dívida externa que os Kirchner tinham renegociado e foi reestabelecida por Macri.

Entre as decisões do governo na mesma direção há a recuperação da gestão da compra de gás da Bolivia, assim como as licenças exploratórias da bacia das Malvinas, no oeste do mar argentino.

Esse conjunto de medidas – e outras que devem acompanhá-las – faz parte da reversão do programa neoliberal de Maurício Macri. É o resgate do papel ativo do Estado, tanto com seu fortalecimento econômico, como com a retomada das políticas sociais dos governos de Nestor e Cristina.

Depois da derrota eleitoral, o governo colocou em pratica um plano emergencial de atendimento das necessidades imediatas da massa da população, cuja ausência foi um dos fatores do revés eleitoral.

Dessa forma, Alberto Fernández coloca em prática o que chamou de segunda parte do seu governo, buscando reverter a situação política e se preparando para o grande enfrentamento eleitoral com a direita em 2023, quando deve se candidatar à reeleição.

Para isso, o presidente da Argentina conta também com a divisão e as duras pugnas na oposição, entre um setor mais extremista e um de direita menos radical, que propõem candidatos distintos.

As eleições no Brasil são um fator que conta no futuro argentino, não somente pela provável vitória do Lula, mas também pela retomada do crescimento econômico brasileiro, que teria efeitos positivos sobre a economia argentina.

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