Jards Macalé: perdemos o mais incendiário da MPB
Músico carioca, que morreu nesta segunda-feira (17) aos 82 anos, era figura frequente em trabalhos de artistas como Caetano Veloso e Gal Costa

Pouco mais de duas semanas após a morte de Lô Borges, um dos mais inventivos representantes da MPB, a música brasileira volta a estar de luto: nesta segunda-feira (17), o carioca Jards Macalé não resistiu a uma parada cardíaca após um procedimento cirúrgico e veio a óbito, aos 82 anos.
Sua trajetória, iniciada nos anos 1960, foi construída quase sempre sem a pretensão de ser protagonista. Inquieto, provocador e inventivo, Jards era figura onipresente nos bastidores da MPB, firmando parcerias com os principais expoentes do gênero. Foi ele, por exemplo, que ensinou Caetano Veloso a tocar violão e ajudou o músico baiano na concepção do disco Transa – pelo qual não levou os créditos.
Sua atuação política também foi marcante e ativa: no lugar de mensagens subliminares contra a ditadura militar, ele preferiu fazer o papel de agregador e incendiário. Em 1973, sob censura cultural intensa, Macalé organizou no Museu de Arte Moderna o show “O Banquete dos Mendigos”, marcando os 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O evento reuniu Chico Buarque, Gal Costa, Raul Seixas, Gonzaguinha, entre outros artistas. A presença da ONU deu alguma proteção, mas a polícia cercou o local — o show se tornou símbolo de resistência cultural e política.
Mas a postura barulhenta não o definia por completo. Basta notar a mensagem que algumas de suas mais emblemáticas canções diziam, como Vapor Barato e Mal Secreto, ambas em parceria com o poeta Waly Salomão. A rebeldia permanecia presente, mas com doses de esperança.
Não à toa, o presidente Lula, em mensagem publicada logo após a morte do músico, escreveu: “Jards Macalé dizia que o amor é um gesto político. E que em tempos de ódio e de intrigas como os que vivemos recentemente, pouca gente falava do amor, e por isso era tão importante cantá-lo. Essa visão de mundo me aproximou de Jards: política e amor devem andar juntos. Não podem ser separados”.
Ainda jovem, Jards proferiu que “não queria ser moderno, queria ser eterno”. Já o é.



