Atriz sofreu infarto em Gramado, onde receberia no mesmo dia homenagem com Troféu Oscarito no Festival de Cinema. Ela foi indicada em 1957 como melhor intérprete em Cannes

A talentosa atriz Léa Garcia, que começou a carreira ainda nos anos 1950, morreu, na madrugada de terça-feira, 15, de um infarto, em Gramado (RS). Ela estava na cidade para receber uma   homenagem com o Troféu Oscarito durante a 51ª edição do Festival de Cinema de Gramado. Ela chegou a ser encaminhada para o Hospital Arcanjo São Miguel, mas chegou sem vida.

A organização do Festival de Cinema de Gramado lamentou: “Léa Garcia possuía uma história antiga com Gramado, conquistando quatro Kikitos”. A atriz tinha 90 anos e já participou de mais de 100 produções no currículo, incluindo cinema, teatro e televisão. Ela já conquistou quatro Kikitos, com “Filhas do Vento”, “Hoje tem Ragu” e “Acalanto”.

Léa consolidou uma carreira de papéis marcantes em produções dramáticas como “Selva de Pedra”, “Escrava Isaura”, “Xica da Silva” e “O Clone”. Ela foi peça fundamental na quebra da barreira dos personagens até então destinados a atrizes negras.

“Quando eu estava começando no mundo das artes ela já brilhava nas telonas. Léa Garcia é uma inspiração. Doce, gentil, talentosa, uma estrela, uma pérola. Precisamos reverenciá-la todos os dias”, afirmou a atriz Zezé Motta.

A atriz receberia o troféu Oscarito na noite de terça-feira, ao lado de Laura Cardoso. De acordo com o Hospital Arcanjo São Miguel, a causa da morte foi um infarto agudo do miocárdio. Ela havia chegado a Gramado no sábado, 12, acompanhada do filho, Marcelo Garcia. A atriz circulava diariamente pelo evento, onde acompanhou diversas sessões no Palácio dos Festivais.

Com uma célebre trajetória no mundo da arte dramática, Léa foi indicada ao prêmio de melhor interpretação feminina no Festival de Cannes em 1957 por sua atuação no filme “Orfeu Negro” que, em 1960, ganharia o Oscar de melhor filme estrangeiro, representando a França.

O filme é uma coprodução de França, Itália e Brasil e foi lançado em 1959. No dia 15 de maio daquele ano, levou a Palma de Ouro, em Cannes. Também imortalizou o Rio de Janeiro no imaginário mundial. Até o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse ter assistido ao filme.

O longa era baseado em uma peça teatral de Vinícius de Moraes, Orfeu da Conceição. Ele fazia um paralelo entre a vida nas favelas cariocas e as celebrações da Grécia antiga. A ideia era levar o mito grego de Orfeu para o morro. O elenco era formado por 45 atores – todos negros.

Na trama, o motorista Orfeu cai de amores por Eurídice e desce do Olimpo da favela para o inferno do asfalto em busca de sua amada. ‘Orfeu da Conceição’ foi uma das peças de destaque que Léa fez no início da carreira. Cotada para encenar Eurídice, Léa Garcia se encantou com a personagem Mira (de quem Orfeu era noivo) e conseguiu o papel. No filme, em vez da Mira, a atriz viveu a Serafina (prima de Eurídice).

Léa Garcia foi peça fundamental na quebra da barreira dos personagens tradicionalmente destinados a atrizes negras. Era uma referência para jovens atores e admirada pela qualidade de suas atuações. Ela seguia ativa nas artes cênicas. Em 2022, atuou nos longas “Barba, Cabelo e Bigode”, “Pacificado” e “O Pai da Rita”. •

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