Um novo capítulo nas relações Brasil-China: parceria estratégica trará R$ 27 bilhões em investimentos
Visita de Estado de Lula consolida cooperação em setores estratégicos e reforça papel do Brasil na construção da ordem global multipolar

A visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, iniciada no último domingo (11), marca um ponto de inflexão na política externa brasileira e no aprofundamento da parceria estratégica com a segunda maior economia do mundo. Durante dois dias de compromissos, Lula participou do IV Fórum da CELAC-China, do Fórum Empresarial Brasil-China e de reuniões bilaterais com líderes e executivos de empresas estratégicas, que resultaram em acordos e investimentos na ordem de R$ 27 bilhões para o Brasil.
O encontro ocorre em um momento-chave para o reposicionamento do Brasil no cenário internacional, com foco na reindustrialização verde, segurança alimentar, ciência e tecnologia, além do fortalecimento do comércio sul-sul. A China, hoje principal parceiro comercial do Brasil, se consolida também como investidor direto em setores estratégicos como energia, infraestrutura, defesa e saúde.
Na abertura do IV Fórum CELAC-China, realizado em Pequim, Lula destacou o papel do Brasil e da América Latina na construção de uma nova governança global. Em seu discurso, o presidente reforçou a necessidade de uma ordem internacional mais inclusiva, multipolar e soberana, baseada em respeito mútuo e desenvolvimento sustentável.
Lula criticou a persistência de “formas colonizadas de pensar a política e a economia” e propôs uma aliança de interesses entre China e América Latina para enfrentar os desafios da fome, da pobreza e da emergência climática. O presidente também celebrou os 20 anos da CELAC e a relação de confiança com a China, firmada desde o primeiro mandato de seu governo, em 2004.
“A luta contra a fome, a pobreza e as mudanças climáticas exige maior protagonismo do Sul Global. A China tem papel essencial nesse processo, e a América Latina deve ser tratada como parceira, não como zona de influência”, declarou Lula.
Fórum Empresarial: investimentos e acordos estratégicos
No Fórum Empresarial Brasil-China, realizado também na capital chinesa, foram firmados acordos em áreas de ponta, como energia sustentável, conectividade digital, infraestrutura e indústria. Um dos destaques foi o anúncio de um investimento de US$ 1 bilhão para a produção de SAF (combustível sustentável para aviação), liderado pela Envision Group.
Outro resultado concreto foi a criação de um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em energia renovável, em parceria entre a Windey Technology e o SENAI CIMATEC. Já na área da saúde, o Brasil firmou acordos para a construção de uma plataforma nacional de produção de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) e o desenvolvimento de vacinas e equipamentos médicos de ponta, como os da empresa VMI.
Em seu discurso de encerramento do Fórum, Lula reafirmou o compromisso do Brasil com uma reindustrialização verde, digital e inclusiva. Ele ressaltou que o programa Nova Indústria Brasil oferece uma base sólida para parcerias com empresas chinesas e que o país voltou a ser atrativo para investimentos estrangeiros, graças ao restabelecimento da capacidade de planejamento do Estado e à estabilidade institucional.
“O Brasil recuperou sua credibilidade. Aprovamos uma Reforma Tributária histórica, com o apoio do Congresso, que trará mais racionalidade e segurança para investidores. A China saltou da 14ª para a 5ª posição entre os que mais investem diretamente em nosso país. Estamos prontos para dar o próximo passo”, afirmou Lula.
A visita reforça o alinhamento diplomático entre Brasil e China em fóruns multilaterais, como o BRICS, o G20, a OMC e o grupo BASIC, que atua em questões climáticas. A reunião entre Lula e o presidente chinês Xi Jinping, marcada para esta terça-feira (13), deve consolidar sinergias entre os programas nacionais de desenvolvimento e intensificar a coordenação nos principais debates globais — com destaque para a COP30, que será realizada em Belém (PA), em novembro.
Lula e Xi Jinping devem ainda discutir a ampliação da infraestrutura de conectividade digital, a expansão do comércio de alimentos e minerais, e novos mecanismos de financiamento para projetos de desenvolvimento sustentável.
Meio século de parceria e futuro comum
Ao completar 50 anos de relações diplomáticas, Brasil e China não apenas ampliam o intercâmbio comercial, como reafirmam a construção de uma parceria estratégica de longo prazo, alicerçada em confiança mútua, complementaridade econômica e objetivos comuns para o século XXI.
“Brasil e China são atores incontornáveis nos grandes temas globais. Estamos unidos pela vontade de criar um mundo mais justo, multipolar e sustentável. Hoje colhemos os frutos do que começamos a plantar juntos há duas décadas”, concluiu Lula.