‘A mensagem que fica é que a vida deve ser um palco para a expressão pessoal. Que cada um de nós encontre seu próprio caminho para fazer isso’, escreveu o diretor em uma de suas últimas colunas, sobre ‘Ainda estou Aqui’

Pioneiro do Cinema Novo, Cacá Diegues morre aos 84 anos no Rio
Cacá Diegues nasceu em Maceió (AL), em 1940, e mudou-se para o Rio aos 6 anos. Deixa filhos, esposa e netos.

Morreu na madrugada desta sexta-feira (14), no Rio de Janeiro, o cineasta Cacá Diegues, um dos nomes mais importantes da história do cinema brasileiro e um dos principais expoentes do Cinema Novo. O diretor faleceu aos 84 anos, vítima de complicações pós-operatórias.

Autor de filmes marcantes que ajudaram a moldar a identidade do cinema nacional, Diegues dirigiu obras como Xica da Silva (1976), Bye Bye Brasil (1979) e Um Trem para as Estrelas (1987), além de Deus é Brasileiro (2003). Com uma filmografia que transitava entre o popular e o sofisticado, ele sempre retratou com profundidade a cultura, a sociedade e as contradições do Brasil. Bye Bye Brasil, em especial, é considerado um dos retratos mais fiéis do país no cinema.

No auge do Cinema Novo, na década de 1960, Diegues atuou ao lado de nomes como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Ruy Guerra, ajudando a consolidar um movimento que revolucionou a forma de fazer cinema no Brasil, com uma abordagem crítica e engajada da realidade nacional.

"Xica da Silva", "Cinco Vezes Favela", "Deus É Brasileiro" e "Bye Bye Brasil" são alguns dos filmes mais lembrados do cineasta Cacá Diegues

“Xica da Silva”, “Cinco Vezes Favela”, “Deus É Brasileiro” e “Bye Bye Brasil” são alguns dos filmes mais lembrados do cineasta Cacá Diegues Foto: Reprodução


Trajetória e vida pessoal

Carlos José Fontes Diegues nasceu em Maceió, Alagoas, em 1940, mas mudou-se ainda na infância para o Rio de Janeiro, onde cursou Direito antes de se dedicar ao cinema. Foi casado com a cantora Nara Leão, com quem teve dois filhos, Isabel e Francisco. Em 1981, casou-se com a produtora Renata Almeida Magalhães, sua companheira até o fim da vida. Além da esposa e dos filhos, ele deixa três netos.


Repercussão

Pioneiro do Cinema Novo, Cacá Diegues morre aos 84 anos no Rio

A morte de Cacá Diegues gerou grande comoção no meio artístico e político. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a perda e destacou a importância do cineasta:

“Levou o Brasil para as telas do cinema, mostrando nossa história, nosso jeito de ser, nossa criatividade.” O presidente também mencionou filmes icônicos do diretor, como Deus é Brasileiro.

A Academia Brasileira de Letras (ABL), instituição que Diegues fazia parte desde 2018, também emitiu nota de pesar: “Sua obra equilibrou popularidade e profundidade artística ao abordar temas sociais e culturais com sensibilidade.”


Resistência e posição política

Diegues também viveu momentos difíceis durante a ditadura militar. Entre 1969 e 1972, ele e a então esposa Nara Leão precisaram se exilar na França e na Itália. Em entrevista, ele relembrou esse período como uma das piores experiências de sua vida: “Paris é uma cidade incrível, mas o problema não é onde você está, e sim onde você não pode estar.”

Ao longo da vida, nunca deixou de se posicionar politicamente. Em seu último artigo publicado no jornal O Globo, no dia 9 de fevereiro, ele criticou as políticas de deportação de imigrantes nos Estados Unidos e alertou para um “retrocesso civilizatório”.

Em outra coluna recente, ao comentar o filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, deixou uma reflexão que, agora, ecoa como um testamento:

“Fazer a vida valer a pena não significa acumular riquezas ou status, mas sim viver com propósito, em equilíbrio. A mensagem que fica é que a vida deve ser um palco para a expressão pessoal. Que cada um de nós encontre seu próprio caminho para fazer isso”.

Com sua partida, o cinema brasileiro perde um de seus maiores mestres, mas sua obra segue viva, refletindo a identidade e as transformações do país.