Intitulada “As Classes Trabalhadoras”, a pesquisa apresenta resultados que contribuem na construção de um projeto democrático popular junto aos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros. A iniciativa é do Centro de Análise da Sociedade Brasileira, o CASB, da Fundação Perseu Abramo em parceria com outras instituições.

Da redação do NOPPE/FPA*

Pesquisa aponta demandas e aponta caminhos de organização de classes trabalhadoras
Intitulada “As Classes Trabalhadoras”, a pesquisa apresenta resultados que contribuem na construção de um projeto democrático popular junto aos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros. A iniciativa é do Centro de Análise da Sociedade Brasileira, o CASB, da Fundação Perseu Abramo em parceria com outras instituições.
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Lançada na última sexta-feira (9) na sede da Fundação Perseu Abramo, em São Paulo, a mais recente pesquisa do Centro de Análise da Sociedade Brasileira (CASB) intitulada “As Classes Trabalhadoras” trouxe 4 resultados que contribuem para a construção do projeto democrático popular junto aos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros.

A pesquisa foi coordenada pelo NOPPE/FPA e elaborada pelas fundações partidárias que organizam o CASB: Perseu Abramo (PT), Lauro Campos e Marielle Franco (PSOL), Mauricio Grabois (PcdoB) e Rosa Luxemburgo (Die Linke, Alemanha). O estudo foi produzido em duas etapas: a primeira, com metodologia qualitativa, ouviu trabalhadores e trabalhadoras de empresas por plataforma da cidade de São Paulo; a segunda, entrevistou 4 mil trabalhadores da População Economicamente Ativa (PEA) de 18 a 55 anos, nas cinco regiões do Brasil. O relatório, em PDF, está disponível aqui.

Destacamos, em primeiro lugar, que os dados revelam uma situação de precarização e insegurança financeira por parte da classe trabalhadora, que se preocupa com sua saúde e com sua renda – e por conta disso demanda mais proteção social e direitos. Destacamos que 4 em cada 10 trabalhadores se sentem sob riscos psicológicos, e 1 a cada 3 teme por sua integridade física. Há insatisfação com a renda para 51% da amostra. Neste sentido, 64% veem como principal ponto negativo no trabalho por conta própria o risco de ficar incapacitado e sem renda – ainda que 38% vejam na autonomia da gestão da renda e do tempo e na possibilidade de ter maiores rendimentos uma vantagem desse modelo de trabalho. Enquanto 42% dos que possuem renda de 5 a 10 salários mínimos e sofreram acidentes de trabalho contaram com a seguridade social, entre os mais pobres 34% precisaram recorrer a parentes e amigos – indicando que quem mais precisa, é menos protegido.

O segundo dado para o qual chamamos a atenção é que a identidade como “trabalhador” é preponderante: 67% se identificam como trabalhadores, enquanto somente 4% se veem como empreendedores – o que indica o arrefecimento da ideologia do empreendedorismo na classe trabalhadora. Numa escala que considera a renda, e vai de ‘muito pobre’ a ‘rico’, 71% se consideram no espectro de classe média.

A pesquisa também indica que há potencial para aumentar a adesão à organização coletiva no mundo do trabalho, por um lado, e a participação e representação social, por outro. Se durante o campo de pesquisa (em novembro de 2023) o número de sindicalizados representava 9% dos trabalhadores ocupados, segundo o IBGE, (8% em nossa pesquisa), há demanda reprimida capaz de elevar este índice a 27% (somando os que participariam de um sindicato).

Ainda, 38% participam ou participariam de outras formas de organização. Se 55% se sentem invisíveis, por considerarem que o Estado não conhece suas demandas, 55% participariam de enquetes ou processos de escuta para formulação de políticas públicas e 55% votariam num representante de sua categoria para o Legislativo.

Por fim, ainda que a polarização se faça presente na disputa de valores, é possível verificar que há adesão considerável a reformas rumo à justiça social. Dentro da classe trabalhadora, 53% são a favor e apenas 20% são contra taxação de bilionários – entre eleitores de Bolsonaro, 40% concorda com a taxação. Ainda, 46% são a favor e apenas 24% são contra moradias populares em imóveis que devem IPTU, e uma minoria (27%) é contra a Reforma Agrária.

Os dados são promissores e demonstram potencialidades para disputar valores e um construir um projeto de sociedade mais justa junto à classe trabalhadora. Esta se vê como tal, se encontra em situação de precariedade, demanda bem-estar social e aceita, ainda que em maior ou menor grau a depender da proposta, reformas que levem a tal situação. Ainda, está disposta a se organizar em grau maior que o atual e demanda participar e ser representada politicamente.

Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos da Fundação Perseu Abramo (NOPPE/FPA)*