Primeira apresentação ao vivo de OPROPRIO acontece no sábado (20) com ingressos esgotados

Henrique Nunes 

Em disco de estreia, Yago Oproprio funde “música de protesto” com baladas existencialistas
Divulgação

O recado foi direto ao ponto, sem trocadilhos e peripécias vocais – recursos tão caros aos singles que o revelaram para o Brasil.

 “Farei uma pausa para lançar o melhor disco do ano”, garantiu o rapper Yago Oproprio, em publicação feita no Instagram no início de março.

Para os fãs, cada vez mais numerosos, a afirmação nada tinha de soberba. Desde o mega sucesso de Imprevisto, em 2022, Yago tem entregado tudo sem falsas promessas. Ele fala, vai lá e cumpre. 

De novo. Oproprio, o disco, chegou no dia 28 de maio e já tem cara de clássico. 

Além da lírica afiada para construir crônicas urbanas, marca presente desde os bem sucedidos singles Helipa, Amor Incendiário e, claro, Imprevisto, Yago Oproprio mostra agora, em seu primeiro álbum, que também sabe “pisar no freio”. Falar manso.

Bom, pelo menos nas harmonias e no jeito de cantar, porque a mensagem continua a ter o peso de coqueteis molotov lançados contra o sistema, contra desilusões amorosas e até contra o bilhete de metrô.

A rebeldia, ainda que mais contida, dita o ritmo de cada uma das dez faixas. É o que vemos (e ouvimos) em Jejum: Se nois tá junto não precisa de revólver/BOPE fica em CHOQUE quando vê a revolta popular”. Ou em Inofensiva, em que reflete sobre a inevitável submissão da classe trabalhadora às normas impostas pelo patrão: Penso na desculpa/Antes pra me ausentar da culpa/Sem entender a solução/Mais uma noite atordoado na segunda/Falha na conduta/Nem quero saber que horas são”.

A esta altura, se você ainda não o conhece, deve pensar que só tem “oreiada” nas letras – termo usado por Emicida para músicas que querem passar recado para determinado público alvo, quase sempre com cara de lição de moral. 

Ele próprio, Yago, deve ter feito cálculos para não parecer um grande paladino da moralidade ao intercalar faixas mais densas e engajadas no meio de outras com temática, digamos, menos politizadas. 

Em Catedrais, por exemplo, Yago questiona a própria fé ao dizer: “Ando no Centro visitando Catedrais/Já não acredito em Jesus ou Satanás/O tempo passa, eu quero provas mais cabais”.

Até aqui, o clima parece meio nublado, como num domingo frio e soturno de São Paulo. O sol, no entanto, logo reaparece em Fora do Tom – em melodia que flerta com ícones contemporâneos da MPB. “Vou juntando os meus pedaços pra saber quem sou/Distribuindo meus retalhos por aí/Vou descobrir como chegar a pé.”

A pé, numa satisfatória caminhada intranquila, chegamos ao auge do álbum com aquela que talvez seja a faixa com maior potencial de hit, embora o sol aqui seja apenas uma projeção a ser alcançada. “Seguindo meu caminho/Olhando o horizonte/Me sinto bem melhor que ontem/Pois entendi que nada é definitivo”.  Segundo Yago,  Melhor que Ontem é para ser ouvida logo após o término de uma relação, mas muita gente entendeu como um mantra anti-depressão. 

Ainda há tempo para se divertir quase que descompromissadamente em Linha Azul, onde relata um dia pulando catracas e guardando o dinheiro da passagem para comprar salgadinhos.

Yago Oproprio apresentará o álbum na íntegra pela primeira vez em show (já com ingressos esgotados) marcado para o próximo dia 20 de julho na Áudio, em São Paulo. O menino de 29 anos, nascido na Zona Leste da Capital, que já morou na Venezuela, tem tudo para se confirmar como um dos grandes da sua geração. E, ao que tudo indica, com o melhor disco de 2024.

Em 2022, Opropio “declarou voto” em mensagem anti-Bolsonaro

Lançada em meio a um dos processos eleitorais mais turbulentos da história, em 2022, a faixa Questão de Tempo não poupa críticas ao desgoverno de Jair Bolsonaro, deixando claro que de lado estava – mesmo sem citar Lula na letra.

No trecho “Tô relatando um país de cara a tapa/ Se a ditadura for voltar então já me mata/ Porque daqui pra frente vai ser só desgraça“, ele mostrava preocupação com a postura autoritária do então mandatário da República.

Depois, cita Bolsonaro nominalmente para denunciar a hipocrisia e preconceito da classe média brasileira: Idolatrava o seu mestre Bolsonaro/ Sonhava em ser gerente, mas já era aposentado/ Mantinha duas filhas muito bem treinadas, educação Tapa na cara e com preto cê não namora/