Luís Nassif: Campos Neto comanda um ataque ao Real, exigindo prudência de Lula
Em um primeiro momento, Lula fez bem em apontar sua ação deletéria. Agora, é a hora da pausa, por diversas razões
É hora do presidente Lula dar uma trégua em sua guerra com Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central.
Campos Neto é, talvez, o mais irresponsável presidente da história do banco, desde que era apenas a Sumoc (Superintendência de Moeda e Crédito). Joga politicamente, não teve pudor em induzir a uma reversão de expectativas, mesmo a economia brasileira apresentando fundamentos sólidos.
Começou com o discurso em evento em Washington e prosseguiu com telefonemas pessoais a pessoas do mercado e da economia real, visando criar um clima de desestabilização do governo.
Em um primeiro momento, Lula fez bem em apontar sua ação deletéria. Agora, é a hora da pausa, por diversas razões.
- O quadro nos Estados Unidos é bastante complexo, com a proximidade das eleições e as indefinições do Partido Democrata.
- As dúvidas do FED em relação à taxa básica.
- O fato de que, no segundo semestre, a inflação sofrerá problemas com a alta de alimentos.
Nos últimos dias instaurou-se uma corrida contra o Real. É uma corrida sem fundamentos. O que significa que poderá ser revertida em um ponto qualquer do futuro, quando parte do mercado entender que a desvalorização tanto do Real quanto das ações foi excessiva.
Mas esse primeiro momento é irracional, porque não é baseado em análises técnicas. Corre-se atrás da depreciação porque Campos Neto preparou o estouro da boiada e a formação da taxa Selic é controlada por um cartel da Faria Lima. Em outros tempos, havia outros investidores na dívida pública brasileira. As loucuras do período Bolsonaro afastaram gradativamente os investidores internacionais, permitindo a Paulo Guedes, assessorado por Campos Neto, transformar o Banco Central e o mercado em um campo de experimentos para suas manobras.
Os diretores nomeados por Lula agiram corretamente na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) não abrindo divergência – sabendo que, em qualquer hipótese, haveria maioria para a paralisação da queda da Selic. Sua estratégia consiste em não confrontar o mercado e, com a mudança na presidente do BC, haver uma condução técnica em direção a uma taxa civilizada de juros.
É hora de Lula se dar conta desse jogo e não fornecer mais álibi para as manobras do cartel. Especialmente porque, no segundo semestre, ao que tudo indica, o grande fantasma a ser enfrentado será o câmbio, mais que as taxas de juros.