Pelo menos 36 veículos de imprensa do país aderiram à paralisação e outros 12 atuam parcialmente, diz sindicato

Fernanda Otero

A maior paralisação em 40 anos em defesa dos direitos dos trabalhadores em comunicação. Foi assim que a direção do Sindicato dos Jornalistas de Portugal descreveu a greve geral da categoria que aconteceu no dia 14 de março, a segunda greve geral da história da categoria. A primeira greve geral aconteceu em 1982. 

Composta por onze itens principais, a pauta de lutas exige reposição salarial da inflação de 2022, pagamento de insalubridade, horas extras, salário justo, entre outros pontos. “Não é aceitável demitir aqueles com décadas de experiência editorial porque ganham um pouco mais do que a média. Não é aceitável que fotojornalistas paguem por seus próprios equipamentos. Não é aceitável condenar repórteres e editores de imagem a atuarem como autônomos eternamente e sem garantias. Não é aceitável que estagiários recebam 150 euros por mês. Não é aceitável que freelancers recebam 20 euros por artigo. Não é aceitável que metade dos municípios do país não tenham um jornal local”, diz a nota do Sindicato dos Jornalistas português.

Aproximadamente 60 redações do país além de freelancers cruzaram os braços. Durante as 24 horas de paralisação, jornais deixaram de ser impressos, portais não foram atualizados e rádios não transmitiram. Tanto veículos da comunicação pública quanto de redes privadas somaram forças em defesa do jornalismo.

Houve manifestação em pelo menos três importantes cidades: Coimbra, Lisboa, a capital, e Porto. Entre os principais veículos de comunicação nacionais, muitos tiveram uma adesão significativa à greve geral, causando restrições importantes no fluxo de notícias. Correspondentes internacionais em Madrid, Paris e Rio de Janeiro também aderiram ao movimento.

A greve geral começou a ser organizada em janeiro após ser votada e aprovada por unanimidade em assembleia. A categoria se mantém mobilizada desde o ano passado, impulsionada por sucessivos cortes e abusos promovidos pela holding Global Media Group, GMG, uma gigante da comunicação portuguesa. Entre as empresas que fazem parte do grupo encontram-se marcas de referência como a Rádio TSF, jornais centenários como o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias, o jornal esportivo O Jogo e o econômico Dinheiro Vivo

Em dezembro do ano passado, a GMG anunciou um plano de reestruturação que previa a demissão de aproximadamente 200 funcionários. Os salários, que estavam atrasados desde outubro, foram pagos em janeiro e a holding impôs aos trabalhadores pagamento parcelado do bônus de Natal a ser efetuado durante 2024. No dia 10 de janeiro, os funcionários da holding realizaram uma paralisação de 24 horas. O Sindicato convocou todos os jornalistas para prestarem solidariedade aos colegas da GMG com a finalidade de alertar políticos e sociedade civil sobre a situação do setor.

A jornalista Sara Gerivaz, do Jornal de Notícias, em entrevista ao podcast P24, do Público, declarou que ao menos outros três dias de ação já haviam ocorrido nos últimos meses e que elas só aconteceram graças a solidariedade dos colegas que acompanham o que vem acontecendo no JN. “Sem jornalismo não há democracia. Isso parece um chavão, mas é uma realidade”, declarou.

Por meio de nota enviada à redação da Focus, o Sindicato informou que ainda não há posicionamento oficial do governo em resposta à greve. Comunicou ainda que Portugal está na fase de formação de governo e que possíveis desdobramentos aguardam a posse do novo primeiro-ministro, o direitista Luís Montenegro. 

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