Na cúpula amazônica desta semana, o mundo deve estar ao lado dos povos indígenas — e exigir proteção para a floresta tropical. O apelo é do ator estadunidense Mark Ruffalo, em artigo emocionante

Mark Ruffalo

Alguns dos momentos mais gratificantes da minha vida como ator são quando interpreto papéis que falam sobre os desafios que a humanidade enfrenta. Em ‘Os Vingadores’, por exemplo, em que eu interpreto o Hulk, a equipe tenta desfazer o “estalo de dedos” — um evento apocalíptico provocado pelo vilão Thanos para erradicar metade de todos os seres vivos.

Como um bom amigo meu diz: “A fantasia não é uma fuga do nosso mundo, mas um convite para se aprofundar nele”. O simples fato é que a humanidade desencadeou eventos de extinção — e o colapso da Amazônia é um desastre que será terrível para todos nós na vida real.

Estamos à beira do que os cientistas estão chamando de “ponto de inflexão” para a bacia amazônica, o que significa que a destruição chegará a um ponto em que a floresta não pode mais se regenerar. Este será o final da Terra.

Mais de 10 mil espécies poderiam ser eliminadas, iniciando um efeito dominó que afetaria o clima do nosso planeta, nossa água e suprimentos de alimentos em todos os lugares — levando muitas vidas humanas com ele. Então, mesmo que você viva do outro lado do globo, esse também é um problema seu.

Os cientistas nos dizem que não temos muito tempo para reverter este quadro — e para isso, devemos proteger 80% da Amazônia e gerenciar de forma sustentável os outros 20%.

A boa notícia é que há ‘Vingadores’ da vida real nos mostrando o caminho. Porque enquanto temos brincado de consumir e destruir, os povos indígenas têm conservado quase toda a biodiversidade que este planeta ainda possui. Sem brincadeira: 80% da biodiversidade restante do planeta está em terras indígenas.

Silenciosamente, eles provaram que a maneira mais inteligente de nos salvar a todos é reconhecer e proteger seus territórios. Mas tragicamente, esses povos indígenas estão sendo removidos, atacados e até mortos por vários vilões: governos hostis, lobbies poderosos, tráfico, madeireiros e mineração.

E na última semana, eles enfrentaram uma batalha importante: a cúpula da Amazônia. Líderes de todos os países amazônicos se reuniram no Brasil para decidir o futuro da floresta. E nossos salvadores da Amazônia estão lutando para garantir que tenhamos todas as proteções de que precisamos.

É hora de os reforços chegarem de todos os lados, e de todos nós percebermos e aceitarmos o quão altas são as apostas. A sabedoria indígena diz que as decisões que tomamos hoje devem resultar em um mundo sustentável sete gerações no futuro. Este é um chamado dos filhos das gerações que nos seguirão. Todos nós estamos sendo solicitados a nos reunir e despertar o que é heroico em nós. Vamos nos comprometer juntos para ajudá-los.

Precisamos virar todos os olhos para a cúpula da Amazônia como um momento decisivo para o mundo inteiro. A melhor maneira de fazer isso é conscientizando os líderes de que estamos todos observando o que eles fazem. E esse olhar público já está dando frutos.

Em julho, graças à ação do novo governo brasileiro, o desmatamento caiu pelo menos 60% em comparação com o mesmo mês do ano passado. Agora precisamos que eles se comprometam a reconhecer os territórios indígenas e proteger 80% da floresta agora, de acordo com as recomendações científicas.

Ouvi dizer que costumava haver muitas “questãos ambientais”. Mas agora, é tudo uma luta: pela própria vida. Tal luta me lembra dos ‘Vingadores: Ultimato’ em direção à sua conclusão e das 14.000.605 linhas do tempo que o Doutor Estranho testemunha: de todas elas, havia apenas uma em que eles venceram.

As chances foram empilhadas contra eles, assim como parecem estar contra nós. Mas, assim como os Vingadores, apenas nossas ações juntas podem vencer as probabilidades para que a vida na Terra vença. Vamos fazer isso. •

* Ator, produtor, ativista e cofundador do The Solutions Project. Este artigo foi publicado em 6 de agosto no jornal britânico The Guardian.

Tradução: Olímpio Cruz Neto

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