Em entrevista exclusiva, o senador Humberto Costa, coordenador do GT das Eleições 2024 pelo Partido dos Trabalhadores, discute planos do partido para o pleito municipal deste ano, detalhando estratégias para as capitais e cidades em que o partido já possui prefeituras e cadeiras no legislativo municipal. Em clima de renovação, o PT busca consolidar-se como alternativa sólida apresentando o jeito petista de governar como solução para as cidades. Costa destaca prioridades, estratégias e desafios para o futuro político do país.

Humberto Costa, senador pelo estado de Pernambuco e Coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral do Partido dos Trabalhadores para as eleições 2024, explicou à Revista Focus como o PT se prepara para as eleições deste ano. Sob sua coordenação, o partido vai colocar em prática as recomendações da Resolução do Diretório de 8 de dezembro. 

“É nossa tarefa participar ativamente das eleições municipais de 2024, fazendo o embate contra a extrema-direita, para reeleger e aumentar as prefeituras em que estamos hoje, além de ampliar expressivamente nossa base de vereadores e vereadoras, incentivando a participação de mulheres, negros, jovens e LGBTQI+. É a partir da disputa nos municípios e da organização popular que poderemos contribuir, no próximo ano, para organizar e consolidar a base popular necessária para mudar a correlação de forças políticas e mudar o Brasil”, finaliza o documento. 

“O PT vem com força para a disputa”, avisou o senador. Uma força potencializada na bem sucedida Conferência Eleitoral Marco Aurélio Garcia, realizada com apoio da Fundação Perseu Abramo. Com a participação do Presidente Lula na abertura, candidatos e candidatas, ministros, governadores, parlamentares e lideranças partidárias acompanharam com entusiasmo as disputadas salas de debate. Foram mais de 6.500 participantes nos dois dias de evento, o que deixou clara a disposição da valente militância petista de ajudar o partido a vencer e ampliar sua presença nos executivos municipais. 

O campineiro de nascença Humberto Costa mudou-se com a família para Pernambuco aos seis anos de idade. Médico e jornalista de formação, possui pós-graduação em Medicina Geral Comunitária, Clínica Médica e Psiquiatria e Ciência Política. Foi vereador, deputado estadual e deputado federal, secretário municipal de Saúde do Recife e secretário de Estado das Cidades em Pernambuco. 

Participou da primeira gestão do governo Lula, quando criou os programas SAMU, Brasil Sorridente e Farmácia Popular. Foi o primeiro senador do PT em Pernambuco eleito em 2010 e era líder da bancada do partido no Senado quando a presidenta Dilma sofreu o golpe em 2016. Foi reeleito em 2018 para um novo mandato que vai até 2027.

Focus: Como o senhor avalia a Conferência Eleitoral Marco Aurélio Garcia?

Senador Humberto Costa: A conferência foi um grande sucesso. E o seu grande objetivo era exatamente fazer uma forte mobilização do partido em todo o país. Nós tivemos uma participação muito grande. Ao mesmo tempo, o evento foi rico em debates sobre a conjuntura nacional, sobre políticas públicas específicas do governo federal, mas também sobre campanha eleitoral, inclusive com suporte aos eventuais candidatos. Eu acredito que foi muito positivo para a militância, para que os nossos companheiros e companheiras sentissem que o partido vem com força para a disputa do ano que vem.

Qual o calendário de atividades do Grupo de Trabalho Eleitoral?

O Grupo de Trabalho é formado por integrantes da própria Direção Nacional, da Executiva Nacional do PT. Estabelecemos como primeira tarefa um diagnóstico da situação do partido em relação às eleições municipais. Priorizamos o acompanhamento por parte do GTE dos municípios com mais de 100 mil habitantes e 100 mil eleitores. Iniciamos o trabalho fazendo um levantamento na situação das capitais e dos municípios onde têm segundo turno, portanto, aqueles que têm mais de 200 mil eleitores. No segundo momento, começamos as conversas com os partidos historicamente mais próximos do PT. Conversamos com a Federação, dialogamos com o PDT, PCdoB, PSOL. Ainda faremos uma conversa com a Rede. 

Nessas conversas, começamos a identificar quais são os lugares onde há uma interseção de interesses do PT com os demais partidos. Prosseguimos com uma análise dos municípios onde há, digamos assim, divergências de encaminhamento quanto a nomes ou estratégia política. Nosso próximo passo é estabelecer as prioridades do PT. Naturalmente as prioridades são os municípios que já administramos, onde tentaremos a reeleição do prefeito ou da prefeita. Depois, os municípios que já administramos, nos quais vamos apresentar um sucessor de dentro do próprio partido.

Posteriormente, vamos definir as capitais, que são muito importantes devido ao seu peso político. Aquelas onde o PT tem mais chances serão consideradas as prioritárias.

Depois, atuaremos nos municípios com mais de 200 mil eleitores. E, no caso dos diretórios estaduais, que vão lidar diretamente com os municípios menores de 100 mil eleitores, nós receberemos a demanda, e a leitura deles sobre o que é prioritário, para assim traçarmos nossas diretrizes para a campanha eleitoral.

Sobre essa questão, o senhor explicou que o GT está focado nos grandes municípios.  Tivemos duas situações recentes no estado de São Paulo com relação à realização de prévias que receberam críticas da militância. Gostaria que o senhor comentasse como o GT está trabalhando essas questões e como fica a comunicação com a militância do partido. 

Veja, na verdade, essas decisões políticas são decisões da executiva nacional ou do Diretório Nacional. O GT é basicamente um órgão executor, organizador, estruturador. O Diretório Nacional decidiu que nós iríamos evitar o máximo possível a realização de prévias. As prévias são positivas na medida em que elas mobilizam a militância, dão uma vida ao processo, mas, por outro lado, elas podem se transformar em fonte de muita disputa, às vezes de divergências muito profundas, às vezes comprometendo até mesmo o próprio processo eleitoral. Então, foi estabelecida uma regra para que, em havendo consenso, a candidatura ou a estratégia já esteja definida. Não havendo consenso, se houver alguma disputa, os dois terços do diretório municipal podem tomar uma posição, mas cabe recurso tanto à direção estadual quanto à direção municipal. Então, todos sabiam desse encaminhamento, isso tem acontecido sem problema em alguns lugares, mas, em outros, onde há uma disputa maior, realmente gerou algumas dificuldades. Mas acredito que nós vamos conseguir construir esses caminhos sem a necessidade da prévia. Não está proibido ter prévia; pode acontecer. No entanto, na medida em que há uma manifestação quase unânime, não há por que se fazer uma prévia, pois dificilmente os resultados serão diferentes daquilo que o Diretório Municipal decidiu, em larga maioria. 

O presidente Lula sancionou a destinação de recursos para o fundo partidário,a previsão é que o PT receba R$863 milhões. Tem alguma prioridade? Como será tratada, por exemplo, a questão das mulheres na formação das candidaturas? 

Nós entendemos que algumas situações já estão previamente definidas, pela própria legislação ou por resoluções do Tribunal Superior Eleitoral. Primeiramente, a cota das mulheres será religiosamente cumprida pelo PT. Da mesma forma cumpriremos tudo que se refere ao financiamento de candidaturas de pessoas negras. O PT também estabelece algumas pré-cotas, por exemplo, para jovens, para a população LGBTQIA + e tudo isso será cumprido. Agora, eu entendo que nós vamos precisar discutir um pouco mais, pois nas eleições passadas, nas eleições anteriores, tivemos muitos casos de candidatos que têm força, que têm a habilidade de conquistar um mandato, de contribuir para uma chapa forte do PT, e que, pela condição de não ser de um ou outro segmento, gerou uma certa limitação.

Acredito que é nosso papel abrir esse debate, porque é importante ampliar essa participação, e é muito importante para o partido eleger mais pessoas, conseguir ter mais parlamentares. Vou levantar essa questão para que nós possamos ter um equilíbrio, porque temos conhecimento de casos onde candidatos receberam financiamento, mas não reuniam base político-eleitoral que pudesse lhe garantir a presença. Claro que temos que manter essas cotas, mas temos que fazer uma seleção mais eficaz, no sentido de quais são os nomes mais viáveis.

Qual a sua expectativa de trabalho no Senado para esse ano de 2024?

Olha, acho que os nossos problemas, de certa forma, vão continuar, a não ser que nós, primeiro, consigamos uma musculatura maior para o nosso governo, um governo forte, que consiga estabelecer uma relação mais equitativa com o Congresso Nacional. 

Hoje isso não acontece, esse é um dos grandes problemas que o nosso governo tem, nós não temos a maioria no Congresso Nacional. Se o governo adquirir uma musculatura maior, se a sua popularidade e força junto à população crescerem, naturalmente o governo terá força política para negociar melhor as questões. 

Este ano, temos aproximadamente R$ 63 bilhões para emendas parlamentares. O presidente Lula vetou uma parte, mas nada indica que o Congresso Nacional não vá derrubar esse veto apresentado pelo presidente da República. Então, a primeira coisa é essa, nós termos musculatura. 

A segunda coisa é que, este ano, nós temos pautas seríssimas, pautas estruturais. Por exemplo, a segunda etapa da reforma tributária, que é a mais complexa, que vai mexer com temas como a renda, o patrimônio… Outra questão importante, além dessa busca por uma musculatura maior por parte do governo, é nós estabelecermos que alguns temas, são estruturais, são importantes para a sociedade brasileira, e se a sociedade não se mobilizar, dificilmente nós vamos conseguir aprová-los. 

Eu me refiro especialmente à segunda etapa da reforma tributária, que vai mexer com a renda, o patrimônio, e isso vai gerar resistências gigantescas da parte das elites econômicas do nosso país. E é uma coisa estrutural necessária, porque todos os estudos, pesquisas, trabalhos que vêm sendo feitos, tanto no Brasil como fora do país, demonstram um agravamento da desigualdade entre a minoria mais rica e a população mais pobre. 

Se o Brasil quer se desenvolver, quer se tornar um país efetivamente marcado por valores civilizatórios elevados, nós temos que enfrentar esse problema da desigualdade. E uma das formas é encarar essa questão do imposto de renda. Como o presidente Lula dizia, nosso governo quer colocar os pobres em orçamento e os ricos no imposto de renda. E essa vai ser uma luta difícil, pesada. E eu acredito que ela só terá sucesso se a sociedade se mobilizar. Nós temos aí movimentos sociais, movimento sindical, movimento de trabalhadores sem terra, movimentos de categorias profissionais, movimentos de associações de moradores e a população, em geral, que precisam ir para a rua para cobrar que o Congresso Nacional corrija essas distorções gigantescas. 

No Brasil, não se paga imposto de renda por recebimento de juros e dividendos. Existem outras distorções muito grandes. E eu acredito que esses pontos são pontos importantes para o governo. Por outro lado, eu acho também que a extrema-direita, o centrão, vão tentar avançar com as suas pautas. Antigamente, quando a gente falava de base de apoio do governo, era a busca de um número de parlamentares para aprovar as propostas de interesse do governo. Hoje é necessário ter gente para aprovar essas propostas, mas é necessário ter força para impedir que o centrão e a extrema-direita aprovem as suas pautas. O centrão não é somente mais um agrupamento fisiológico. Ele tem vínculos fortes com o setor financeiro, com o agronegócio. Então, tem uma pauta que querem impor ao governo, muitas vezes sem qualquer vinculação com o programa de governo aprovado pela população quando elegeu o presidente Lula.

Quais os temas macro que serão tratados pelo GT?

Bem, nós queremos, obviamente, dentro de uma linha que o próprio presidente Lula defendeu, dar um caráter nacional a essa disputa. Essa polarização ou essa calcificação, como dizem alguns cientistas políticos, está aí e acho que vai demorar.

Então, não há como fugir de travar um debate com essa extrema-direita, com o bolsonarismo. Nós queremos, sim, dar um viés nacional a essa disputa. Ao mesmo tempo, o PT tem uma tradição de governar municípios, estados, que nós resumimos anteriormente no modo petista de governar, e que nós vamos tentar resgatar de maneira combinada com as políticas públicas nacionais. Deveremos ter discussões para tratar de um programa de governo geral para todos esses municípios. 

Vamos trabalhar com o objetivo de ampliar o número de prefeituras que nós administramos, além de ampliar o número de vereadores do partido hoje. Queremos que o resultado da eleição represente uma vitória das forças que sustentam o governo. Neste sentido, vamos tentar construir alianças onde o PT não tenha a força necessária para fazer a disputa. 

Mobilizamos o presidente Lula para participar da campanha naqueles lugares que nós vamos considerar as prioridades das prioridades. E acredito que, com isso, nós podemos ter um bom resultado. Nosso objetivo imediato, retomados os trabalhos do partido, é começar a resolver os problemas. Onde nós temos problemas, vamos procurar nos debruçar e estimular os outros municípios para que até meados de março, nós tenhamos já uma definição de candidaturas, de alianças, enfim.

Gostaria de fazer considerações finais?

Eu quero primeiramente agradecer a possibilidade de participar do Focus. Entendo que é muito importante nós utilizarmos a imprensa partidária para colocarmos os nossos militantes e a sociedade também à par do que nós pretendemos fazer. E eu termino dizendo que sou otimista em relação a essa eleição. Acredito que o PT pode ter um bom desempenho e esse bom desempenho pode se materializar na eleição de mais prefeitos, mais vereadores e, em muitos casos, na projeção de novos quadros políticos que vão, sem dúvida, materializar o futuro do nosso partido. 

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