Diretor do Sesc por quatro décadas é referência em gestão cultural, o sociólogo transformou a instituição em uma potência a partir de  São Paulo, tendo iniciado seu trabalho em 1968

A cultura brasileira perde Danilo Miranda; sociólogo transformou o Sesc em potência
‘MINISTRO PARALELO’ – Nas redes sociais, foi grande a comoção. Artistas, produtores e admiradores reverenciaram a importância de Danilo Miranda para a cultura brasileira. Danilo era conhecido por muitos como “Ministro paralelo” da cultura

Danilo Miranda, morto no último domingo, tornou-se uma das principais referências em gestão cultural à custa de muito trabalho duro à frente do Sesc.  Diretor da instituição por quatro décadas, Miranda chegou a fazer uma reunião com os colaboradores mais próximos dias antes de ser internado no início de outubro. “Se não tivesse Danilo Miranda, não tinha teatro em São Paulo. Só teria musical”, afirmou o dramaturgo José Celso Martinez, o Zé Celso, em entrevista realizada em abril de 2023. Miranda foi padrinho de casamento de Zé Celso e Marcelo Drummond.

Sob a direção de Miranda, Sec adquiriu um protagonismo cultural relevante em todas as áreas e suas unidades viram pólos de espetáculos, exposições, shows, abrigando e ampliando também os serviços educativos, esportivos e de saúde que  também estavam no escopo das atividades da instituição. Desde a década de 1980, as várias unidades na cidade e no interior do estado de São Paulo tornaram-se centros importantes de difusão cultural e artística e de convivência no espaço urbano.

 O ex-seminarista e sociólogo começou a trabalhar no Sesc em 1968. Migrou para o Senac, outra entidade do chamado sistema S (conjunto de instituições de apoio ao trabalhador criado nos anos 1940 para promover acesso à formação profissional e acesso à cultura e lazer). Passou a trabalhar como diretor regional do Sesc em 1984, quando o Sesc Pompéia, projeto arquitetônico de Lina Bo Bardi inaugurado dois anos antes, era um dos principais centros de cultura na cidade de São Paulo.

Apesar de não esconder sua predileção pelo teatro, Miranda abriu os Sescs a todas as manifestações artísticas. Em sua longa atuação como diretor do Sesc, abriu espaço também para os debates sobre a gestão cultural e auxiliou a criação de políticas públicas para o setor. Isso transformou o nome de Danilo Miranda sempre lembrado como ministro ou secretário da Cultura, ainda que ele nunca tenha recebido convite formal para o cargo.

Durante seus quase 40 anos de atuação, o Sesc dobrou de tamanho (só este ano, serão inauguradas mais 11  unidades na capital e no interior do estado de São Paulo) e criou uma alternativa de acesso à cultura situada entre os equipamentos públicos e a iniciativa privada com sua política de preços acessíveis, estímulo às atividades gratuitas e criação de um circuito, sobretudo para peças e shows, que conseguia atingir bairros com poucas opções de lazer.

A importância que o Sesc deu à cultura brasileira, inclusive na àrea da gastronomia (as “comedorias” dos Sescs passaram oferecer pratos inspirados na cozinha paulista de duas décadas para cá), no entanto, não foi impedimento para que o Sesc atraísse artistas estrangeiros. Vieram ao Brasil a  convite do Sesc grandes nomes da cultura mundial, como a artista iugoslava Marina Abramovic, a atriz francesa Isabelle Huppert e o filósofo francês Edgar Morin e músicos como o norte-americano Wynton Marsalis e a caboverdiana Cesária Évora.

Sua morte, aos 80 anos de causas não reveladas pela família, foi lamentada por diversas personalidades.  “Meu coração está apertado, uma tristeza por vê-lo partir e perder seus olhos, seus ouvidos, sua inteligência, seu amor pelo teatro, pela dança, pela música, pelo sonho, pela emoção que apenas a arte é capaz de trazer de volta para nós”, disse a cantora Daniela Mercury.  

A atriz e diretora Christiane Tricerri lamentou a morte do amigo: “Adeus, obrigada por tanto. Você nos recebeu, sempre, de braços abertos e fez de nossa São Paulo a cidade mais cultural e diversa desse país.”  “Ainda em choque com a morte desse gigante gestor cultural que acompanhou minha carreira desde o primeiro álbum lançado. Danilo vai fazer muita falta, gente”, lamentou a cantora Teresa Cristina. “Se você aqui já assistiu a um show meu em qualquer uma das unidades do Sesc São Paulo, foi graças a esse imenso gestor, tido por muitos, inclusive, como um ministro interino da Cultura”, afirmou o cantor Geraldo Azevedo. •