Guinada à direita radical nos Estados Unidos
Republicanos escolhem um dos expoentes da ultradireita dos Estados Unidos para assumir a liderança dos deputados. Mike Johnson foi fundamental nos esforços do Congresso para anular as eleições de 2020 e se opõe ao aborto e ao casamento gay
A ultradireita conservadora e evangélica do Partido Republicano está se tornando hegemônica na legenda que deve confirmar o empresário e ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump para a disputa presidencial em 2024. Os republicanos escolheram o deputado Mike Johnson, da Louisiana, para comandar a Câmara dos Deputados. Ele é considerado um extremista de posições radiais quanto aos costumes. Além disso, ele cotou contra a certificação da vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais de 2020.
Johnson é o cristão evangélico que conquistou o cargo de porta-voz na quarta-feira, 25, com o apoio unânime dos republicanos da Câmara. Ele já se manifestou veementemente contra a homossexualidade, chamando-a de “inerentemente antinatural” e de “estilo de vida perigoso” e ligando-a à bestialidade, de acordo com artigos descobertos na quarta-feira pela CNN.“Os especialistas projectam que o casamento homossexual é o sombrio prenúncio do caos e da anarquia sexual que poderá condenar até mesmo a república mais forte”, escreveu em 2004 .
Em uma audiência ocorrida na Comissão de Justiça, o deputado partiu para cima de uma médica, Yashica Robinson, membro do conselho de Médicos de Saúde Reprodutiva, para tratar de uma questão que mexe com os ânimos dos eleitores nos Estados Unidos. “Você apoia o direito de uma mulher que está a poucos segundos de dar à luz uma criança saudável fazer um aborto?”, questionou. A médica respondeu que essa situação nunca ocorrera em seu consutório. Mas ele não se fez de rogado: “Mas isso acontece. E se uma criança estiver na metade do canal da hora do parto? Um aborto é permitido então?”
Tais opiniões divergem fortemente daquelas da maioria dos americanos, de acordo com pesquisas de opinião que revelaram que o público apoia amplamente os direitos dos homossexuais. A ascensão abrupta de Johnson ao cargo de principal líder da Câmara na última semana, ocorreu durante uma “deprimida e dividida conferência republicana” — segundo observações do New York Times. A guinada à direita do Partido Republicano, que abandonou o seu antecessor mais tradicional, o deputado Kevin McCarthy, da Califórnia, parece preocupante.
“Se você não acha que passar de Kevin McCarthy para MAGA [“Make America Great Again”, o slogan de Trump nas eleições — “Fazer a América grande novamente”] Mike Johnson mostra a ascensão deste movimento e onde realmente reside o poder do Partido Republicano, então você não está prestando atenção”, disse o deputado Matt Gaetz, republicano da Flórida que arquitetou a queda de McCarthy, em uma entrevista ao podcast “War Room”, produzido por Steve Bannon, o ex-guru do presidente dos EUA que é também é próximo da família do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Eleito para o Congresso em 2016, Johnson, advogado e ex-presidente do conservador Comitê Republicano de Estudos, nunca liderou uma comissão poderosa no Congresso ou serviu no nível mais alto da liderança da Câmara.
Os democratas atacaram imediatamente o papel fundamental que ele desempenhou nos esforços do Congresso para anular as eleições de 2020. Johnson foi um apoiador leal de Trump e continuou a utilizar um podcast que apresenta com a sua esposa, uma conselheira pastoral licenciada, para protestar contra a acusação de que o ex-presidente conspirou para interferir nas eleições de 2020.
Mas ainda mais do que o seu negacionismo eleitoral, a carreira política do Sr. Johnson foi definida pelas suas posições políticas, pautadas e moldadas pela agenda ultra-conservador evangélica. “Não acredito que haja coincidências”, disse em seu primeiro discurso no plenário da Câmara como presidente. “Acredito que Deus ordenou e permitiu que cada um de nós fosse trazido aqui para este momento específico. Neste momento. Esta é a minha crença”.
Filho de um bombeiro e o primeiro de sua família a se formar na faculdade, Johnson tinha 12 anos quando seu pai foi queimado e ficou incapacitado no cumprimento do dever. “Tudo que eu sempre quis ser quando crescesse era chefe do corpo de bombeiros em Shreveport”, disse. Mas a explosão que feriu seu pai “mudou as nossa trajetória”.
Para mostrar apoio à cara tese da igualdade racial, Johnson disse ao público no passado que ele e sua esposa haviam adotado um adolescente negro que conheceram por meio de um grupo de jovens evangélicos – como no filme “The Blind Side”. Mas, brincou: “sem as perspectivas da NFL”. •
Advogada de Trump se declara culpada
A situação jurídica de Donald Trump continua a se deteriorar, enquanto crescem as expectativas no caso que o ex-presidente enfrenta acusado de conspirar contra a democracia e a vitória eleitoral de Joe Biden em 2020. A advogada Jenna Ellis, que atuou na campanha presidencial de Donald em 2020, fez um acordo e se declarou culpada.
“Se eu soubesse então o que sei agora, teria me recusado a representar Donald Trump”, disse Ellis, enquanto lia em lágrimas uma declaração ao tribunal na manhã de terça-feira, 14. Ela chegou a um acordo com os promotores da Geórgia, tornando-se a quarta co-ré no caso de conspiração envolvendo o ex-presidente, que tenta voltar à Casa Branca em 2014.
Foi uma reviravolta dramática para a advogado de 38 anos que há muito tempo era uma proeminente defensora pública do ex-presidente, muitas vezes aparecendo na mídia conservadora para defendê-lo de maneira entusiasmada. Após a eleição presidencial de 2020, ela era presença constante na mídia e apareceu várias vezes ao lado de Rudy Giuliani, advogado pessoal de Trump, repetindo as alegações infundadas de que a eleição foi roubada e que Biden não poderia ter sido eleito.
É mais um golpe legal a Trump enquanto ele tenta concorrer novamente à Casa Branca como candidato do Partido Republicano. O empresário multimilionário é acusado em quatro casos criminais separados e também está enfrentando outros processos na esfera civil. Mas seus problemas pouco fizeram para impedir seu apelo às bases republicanas. Trump é o favorito indiscutível para conquistar a indicação do partido para a disputa presidencial de 2024. •