Roger Waters, o baixista do Pink Floyd, regrava o clássico de 1973 e carrega o álbum com uma interpretação sombria, muito de acordo com os tempos de guerra e escuridão de 2023

O cantor e compositor Roger Waters está no Brasil. Nas próximas duas semanas, vai se reapresentar ao público, brindando a audiência brasileira com uma releitura de um dos maiores clássicos da história do rock: “The dark side of the moon”. Relançado em outubro, a versão Redux do disco mais famoso do quarteto é um tiro certeiro no maistream e no conturbado cenário da geopolítica global, enquanto assistimos às duas guerras que afligem a humanidade: a do leste europeu e a da Terra Santa. 

Nos últimos tempos, Roger foi brindado com acusações de anti-semitismo, lançada por desafetos muito antes da panela de pressão no oriente médio explodir no início do mês, quando o Hamas atacou Israel e o governo israelense transformou Gaza em escombros e sangue. Para além da controversa posição do músico inglês, que nega qualquer acusação de racismo e claramente se coloca ao lado do povo palestino, a releitura do álbum cinquentenário é forte e comovente.

Roger desacelerou as canções do disco, um feito e tanto para uma obra-prima marcada pela inventividade, sacadas reflexivas e música de primeira grandeza. Ele adicionou novas letras e tornou as canções, outrora solenes e grandiosas, em labirintos auditivos sombrios, carregados de estranhamento e angústia.

É um álbum para quem quer se surpreender e não tem medo de ser instigado por questionamentos e cutucadas. Deixe os preconceitos de lado e mergulhe em provocações filosóficas. Por exemplo, “On the Run”, a terceira do álbum que era a porta de entrada para o mergulho sonoro de “DSOTM” original, aqui se transforma numa vertigem eletrônica de grande tensão. 

“Money” troca o reconhecido solo de guitarra de David Gilmour, que embasbacou tantos fãs em 1973, pelos versos mais diretos do autor da canção. Em “Time”, Roger canta sobre “um dia mais perto da morte”, mas enuncia a frase com uma voz idosa em vez do rugido juvenil de Gilmour. A música é toda mais lenta e menos ornamentada, apesar da adição de alguns arranjos de cordas dinâmicos. Mas o disco é arrebatador. •

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