Jair mais encalacrado
O ex-presidente Bolsonaro está encrencado por conta da venda de joias e relógios. Ele será apontado como o mandante da trama pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid
As maracutaias do ex-presidente Jair Bolsonaro estão sendo expostas à luz do dia e o que está vindo à tona é desmoralizante. Ele ordenou ao seu ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, preso há três meses num quartel do Exército, que vendesse joias de luxo não declaradas à Receita Federal. O dinheiro foi entregue diretamente a ele, nos Estados Unidos. O escândalo ganhou as páginas dos jornais do mundo inteiro.
Na sexta-feira, 18, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, autorizou a quebra do sigilo bancário das contas de Bolsonaro e Cid nos EUA. A ex-primeira-dama Michele Bolsonaro também teve os sigilos quebrados. A situação jurídica do ex-presidente é grave. Ele enfrenta acusações de crimes como lavagem de dinheiro, peculato e improbidade. Ele pode vir a ser preso.
O advogado Cezar Bittencourt, que representa o ex-braço direito de Bolsonaro, Mauro Cid, disse que seu cliente vai confirmar a participação na trama, desencadeada ainda no ano passado. As joias dadas de “presente” a Bolsonaro foram vendidas nos Estados Unidos e o dinheiro foi embolsado pelo ex-mandatário. Cid vai abrir a boca e declarar ter recebido essas ordens de Bolsonaro antes de o presidente deixar o cargo.
Bittencourt disse que, em dezembro de 2022, Cid perguntou sobre um relógio Rolex que o presidente recebeu do governo da Arábia Saudita em 2019. Bolsonaro respondeu que Cid deveria “lidar com isso”, o que acabou levando o assessor a vender este e outro relógio de grife nos EUA e entregar o dinheiro para Bolsonaro. Os relógios foram vendidos por US$ 60 mil.
Em março, Bolsonaro havia recebido determinação do Tribunal de Contas da União (TCU) para a devolução de presentes. Em março deste ano, a defesa dele entregou uma caixa de joias masculinas à Caixa Econômica Federal, em Brasília. As peças tinham sido enviadas a Bolsonaro por intermédio de uma comitiva chefiada pelo então ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia), que tinha visitado a Arábia Saudita em 2021.
Um outro conjunto de joias sauditas foi retido pela Receita Federal naquele ano, no aeroporto de Guarulhos. Quando o caso veio à tona, Bolsonaro disse, inicialmente, não ter pedido nem recebido nenhum tipo de presente em joias do governo da Arábia Saudita.
Há uma semana, a Polícia Federal acusou Bolsonaro de receber dinheiro da venda dos dois relógios. Elas faziam parte de um total de três conjuntos de joias entregues ao então presidente pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos.
Os funcionários do gabinete de Bolsonaro trouxeram as joias para o Brasil sem declará-las, o que gerou suspeitas de lavagem de dinheiro e posse pessoal ilegal de itens do governo. Essa investigação tornou-se pública em março.
O Brasil exige que os cidadãos que chegam de avião do exterior declarem mercadorias com valor superior a US$ 1 mil e paguem uma taxa de 50% sobre o valor acima desse limite. As joias seriam isentas de impostos se fossem um presente oficial para o Brasil, mas não para Bolsonaro, que deveria pagar os impostos.
Bolsonaro e seus advogados afirmam que os conjuntos de joias foram presentes pessoais e, portanto, podiam ser vendidos se ele desejasse. Os investigadores dizem que ele não registrou as joias em sua coleção pessoal até pouco antes de deixar o cargo.
Quando o assunto veio a público em março, Bolsonaro inicialmente disse que não sabia dos presentes, mas seus auxiliares deram várias versões. Na sexta-feira, 18, o ex-presidente disse que Cid tinha autonomia sobre como lidar com as joias e não recebia encomendas.
Cid foi preso em maio por acusações de falsificação de cartões de vacina contra a covid-19 para membros de sua própria família e para Bolsonaro e sua filha. Em julho, ele foi chamado para depor a uma comissão especial do Congresso que está investigando a violência de 8 de janeiro por partidários de Bolsonaro na capital, Brasília. Ele permaneceu em silêncio durante toda a sessão. A semana promete. •