O teatro nacional de luto
O ator e diretor teatral Aderbal Freire Filho morre, aos 82 anos, no Rio. Dilma lamenta a despedida do artista: “Era um visionário e muito generoso”. O artista foi saudado por Chico Buarque: “Era da maior importância. É muita pancada para o teatro”
As artes cênicas brasileiras perderam um dos seus grandes nomes na quarta-feira, 9. O ator e diretor de teatro Aderbal Freire Filho morreu no Rio de Janeiro, aos 82 anos. Ele era casado há 19 anos com a atriz Marieta Severo. Aderbal estava internado por conta de complicações de um AVC hemorrágico e morreu em um hospital da Zona Sul da cidade. A ex-presidenta Dilma Rousseff, artistas e amigos lamentaram a passagem do artista.
“Sempre esteve ao lado do bom combate, mesmo em tempos sombrios, quando sonhar em liberdade era uma ação política libertária. Tenho profunda admiração por ele e sua arte”, comentou. “Aderbal é um dos inovadores do teatro brasileiro, sempre inquieto e irreverente, dono de um grande senso de humor e um coração do tamanho da generosidade dos grandes humanistas e artistas. Era um visionário”.
Em nota, ela lembrou que, antes de ser lançada candidata à Presidência, foi chamada de futura presidenta pelo diretor teatral e ele foi duramente criticado. “Em 2009, quando estivemos juntos num ato de entrega de medalhas de ordem cultural pelo governo, ele me saudou como futura presidenta do Brasil. Foi alvo de críticas e de ataques na mídia. E não esmoreceu. Na campanha que dividiu o país pelo meu impeachment, de novo fez a defesa da democracia. E denunciou o golpe de 2016”, disse.
Advogado que dedicou a vida aos palcos, Aderbal Freire-Filho nasceu em Fortaleza. Mas foi no Rio de Janeiro que se transformou em um dos maiores nomes do teatro brasileiro. Ele mexeu com a forma de encenar as histórias e, ao longo dos últimos 50 anos, fez história. “Comecei minha carreira em teatro como ator no Ceará com 13 anos”, contou.
“O teatro não acontece só no palco ou ele não acontece todo no palco. Ele acontece na imaginação do espectador. O palco é um potencializador da emoção. É isso que o palco é”, disse em entrevista. Em 1972, ele dirigiu a peça “Apareceu a Margarida”, monólogo com Marilia Pêra no papel de uma professora autoritária e violenta. A peça era uma crítica dura e corajosa ao regime militar, que estava no auge repressão.
A arte dramática era o que movia Aderbal. Ele dizia que gostava de fazer muitas coisas ao mesmo tempo. O palco era o cenário principal, mas, vez ou outra, passeava também pela televisão e pelo cinema. Foi ator junto com os amigos Domingos de Oliveira e Paulo José no filme “Juventude”, que mostra um encontro de três homens na casa dos 70 anos relembrando os melhores momentos da vida.
Ele também criou o Centro de Demolição e Construção do Espetáculo (1989-2003) e foi membro do Conselho Diretor do Festival Ibero-americano de Teatro, de Cádiz, Espanha. Coordenou a comissão que criou o curso de direção teatral da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Entre as peças que escreveu, estão “Lampião, rei diabo do Brasil” (1991), “No verão de 1996” (1996), “Xambudo” (1998), “Isabel” (2000) e “Depois do filme” (2011).
Na TV Globo, dirigiu e atuou no seriado “Tapas e beijos”. Aderbal estava internado por conta de complicações de um AVC hemorrágico e morreu, aos 82 anos, em um hospital Copa Star na Zona Sul do Rio.
Chico Buarque se mostrou triste com a morte do diretor e ator de teatro: “Era da maior importância para o teatro brasileiro. É muita pancada para o teatro, sabe. Zé Celso [Martinez] lá atrás, agora há pouco a Aracy [Balabanian], agora Aderbal… Tá dureza!”.
A atriz e escritora Fernanda Torres também elogiou o artista. “Era um cara de teatro, incrível, que te ajudava a parir uma cena, que tinha um conhecimento de palco, de personagem extraordinário. Aderbal, vá em paz, meu mestre. Esse cara incrível que você foi e é. E Marieta: meu beijo imenso para você”, disse. •