A semana na história – de 25 de junho a 1º de julho
27 de junho de 1952 – Itamaraty é alvo de caça às bruxas
O diplomata e poeta João Cabral de Melo Neto é acusado de práticas comunistas e obrigado a deixar o cargo de segundo secretário da embaixada do Brasil em Londres e voltar às pressas ao Rio de Janeiro, onde responderá a processo administrativo e criminal.
A delação partiu de outro diplomata, Mário Mussolini Calábria. Mário havia lido uma carta de João Cabral a Paulo Cotrim, também diplomata, lotado em Hamburgo (Alemanha). Na carta, João Cabral pedia a Cotrim um artigo sobre a economia brasileira para ser publicado numa revista ligada ao Partido Trabalhista inglês — e recomendava uso de pseudônimo.
Calábria não titubeou: denunciou os dois como comunistas ao ministro das Relações Exteriores, João Neves da Fontoura, que, convencido do ridículo da história, engavetou a denúncia.
O delator, porém, não desistiu. Despachou a denúncia para Carlos Lacerda, principal figura da oposição — seu jornal, “Tribuna da Imprensa”, de forma cada vez mais exaltada, vinha fustigando o governo com denúncias que, verdadeiras ou não, provocavam escândalos e comprometiam a administração de Vargas, desestabilizando o governo.
Lacerda acolheu as denúncias — para publicar à sua moda. No dia 27 de junho de 1952, a “Tribuna da Imprensa” chegou às bancas com uma manchete escandalosa: “Traidores no Itamaraty”. O jornal denunciava a existência de uma célula comunista atuando no Itamaraty — à qual batizou de “a célula Bolívar” —, acusava João Cabral de ser seu principal dirigente e alertava às autoridades que o propósito da célula era pôr em funcionamento “uma peça da engrenagem internacional que trabalha para a Rússia e pretende colocar os segredos militares brasileiros nas mãos de Moscou”.
Durante uma semana, o jornal insistiu na história da infiltração comunista no Itamaraty, até que, em 18 de agosto, “O Globo” repercutiu. Coincidência ou não, ambos os jornais detestavam a poesia de João Cabral e aproveitaram para chamá-lo de “poeta hermético”.
Dessa vez deu certo. O Itamaraty abriu processo administrativo à revelia dos acusados, que só tomaram conhecimento do inquérito quando o governo publicou o ato de punição no “Diário Oficial”, colocando João Cabral em disponibilidade, por tempo indeterminado, sem vencimentos.
26 de junho de 1969 – Chega o ‘pasquim’ para fazer rir e pensar
É lançado “O Pasquim”, que se tornaria um dos mais duradouros e populares jornais alternativos do país, chegando a vender 200 mil exemplares por semana. Idealizado pelo cartunista Jaguar para ser um jornal do bairro carioca de Ipanema, mais voltado para o humor comportamental, o semanário foi abordando cada vez mais os temas políticos – mas sem perder jamais a característica de jornal de sátira e humor.
A publicação resistiu valentemente ao cerco da censura, e seus jornalistas enfrentaram perseguições e prisões. Fizeram parte de sua redação, entre outros, Millôr Fernandes, Ziraldo, Tarso de Castro, Henfil, Ivan Lessa, Sérgio Cabral, Claudius, Fortuna e Luís Carlos Maciel. “O Pasquim” também contou com colaborações de Paulo Francis, Chico Buarque, Caetano Veloso, Chico Anísio e Antonio Callado.
Todas as edições do jornal estão disponíveis no site da Biblioteca Nacional e disponíveis, com acesso livre.
28 de junho de 1969 – Revolta de Stonewall e a luta por respeito
De um confronto entre policiais e manifestantes nos Estados Unidos, em 28 de junho de 1969, surgiu a data em que se comemora o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. O protesto acontecia em defesa do clube gay Stonewall Inn, aberto em 1967, no coração do boêmio bairro de Greenwich Village, em Nova York.
A Rebelião de Stonewall foi uma série de manifestações violentas e espontâneas de membros da comunidade LGBT contra uma invasão da polícia de Nova York que aconteceu nas primeiras horas da manhã de 28 de junho de 1969, no bar Stonewall Inn, localizado no bairro de Greenwich Village, em Manhattan, em Nova York, nos Estados Unidos. Esses motins foram amplamente considerados como o evento mais importante que levou ao movimento moderno de libertação gay e à luta pelos direitos LGBT.
Os homossexuais enfrentavam um sistema jurídico anti-homossexual. Os primeiros grupos de homossexuais do país tentavam provar que os gays poderiam ser assimilados pela sociedade e apoiavam um sistema educacional não confrontacional para homossexuais e heterossexuais.
Os últimos anos da década de 1960, no entanto, foram muito controversos, visto que muitos movimentos sociais estavam ativos ao mesmo tempo, como o movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, a contracultura dos anos 1960 e as manifestações contra a guerra do Vietnã.
26 de junho de 1968 – Passeata dos cem mil afronta a ditadura
Na manhã de 26 de junho, estudantes, artistas, religiosos e intelectuais se concentram nas ruas do centro do Rio de Janeiro. Às 14h, iniciam uma passeata com cerca de 50 mil pessoas. Uma hora depois esse número já havia dobrado e os manifestantes ocupam toda a avenida Rio Branco. O ato, que ficaria conhecido como a Passeata dos Cem Mil, foi a maior manifestação de protesto desde o golpe de 1964.
Dias antes, a manifestação fora marcada e imediatamente proibida pela ditadura, que avisou que reprimiria duramente qualquer tentativa dos estudantes de saírem às ruas. Mas os jovens não se intimidaram e confirmaram a passeata. Diante da iminência de um banho de sangue, o regime militar foi obrigado a recuar.
Os manifestantes caminharam pelas ruas do centro do Rio, gritando slogans como “Abaixo a ditadura”, “O povo organizado derruba a ditadura”, “Só povo armado derruba a ditadura”, Libertem nossos presos” e “Abaixo o MEC-Usaid”. Diante das lojas fechadas, os estudantes pediam: “Abram suas portas; quem quebra é a polícia”.
Durante a marcha, foi eleita uma comissão de representantes da sociedade civil, que seria recebida pelo general Costa e Silva dias depois. No encontro, o grupo pediu a libertação de estudantes presos, mais verbas para as universidades e mais vagas, o fim da censura e a reabertura do restaurante Calabouço. Nenhuma das reivindicações foi aceita. Por isso, na semana seguinte 60 mil estudantes voltariam a realizar uma passeata no centro do Rio, mas o auge do movimento já havia passado.
A Passeata dos Cem Mil marcou o ápice da reação da sociedade contra o regime, a censura, a violência e a repressão às liberdades. Mais uma vez, a ditadura iria reagir endurecendo o regime, como se veria no final de 1968.
27 de junho de 1979 – Projeto de anistia blinda torturador
O general João Baptista Figueiredo encaminha ao Congresso Nacional projeto de lei de anistia parcial, que abrange os cassados por atos de exceção e exclui os condenados por “terrorismo, assalto, sequestro e atentado pessoal” que ainda tenham pena a cumprir. Por outro lado, o projeto da ditadura concede indulto prévio, geral e irrestrito aos agentes da repressão que torturaram, sequestraram e assassinaram.
O MDB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Anistia Internacional criticaram a proposta, chamando-a de “limitada”, “restritiva”, “decepcionante” e “mesquinha”. Mesmo enfrentando resistências de setores políticos e das Forças Armadas, Figueiredo tentou capturar a bandeira da anistia, que naquele momento era a reivindicação democrática mais importante no país.
Os governadores, as bancadas da Arena e o Judiciário foram convocados para a assinatura no Palácio do Planalto. Em seu discurso, o general reivindicou o projeto como um gesto generoso no processo de “abertura” política. Os objetivos políticos eram: 1) surpreender a opinião pública com uma ação positiva; 2) Esvaziar uma mobilização que estava expondo, no país e no exterior, os porões da repressão, as torturas, assassinatos e “desaparecimentos”; 3) Permitir o retorno de líderes exilados como Leonel Brizola, Miguel Arraes, Francisco Julião e Luís Carlos Prestes.
Também era fundamental controlar os desdobramentos da anistia, que certamente viriam para responsabilizar e punir agentes da repressão.
30 de junho de 1980 – Inédito: Papa visita o brasil pela primeira vez
O papa João Paulo 2° chega ao Brasil para uma visita de 12 dias, a primeira de um sumo pontífice ao país. Suas aparições em 14 cidades reuniram multidões, num total de 13 milhões de pessoas. A visita deu visibilidade mundial aos problemas sociais do país, como o desemprego e a miséria. O papa esteve nas favelas do Vidigal, no Rio, e de Alagados, em Salvador, viu a seca no Nordeste e encontrou trabalhadores no estádio do Morumbi, em São Paulo. Mesmo tendo enquadrado a chamada “igreja progressista” e criticado o que considerava “ação politica” das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), a visita de João Paulo 2° foi incômoda para a ditadura.
Em suas falas, o papa defendeu a reforma agrária e a liberdade sindical. No encontro com os trabalhadores, afirmou que “o bem comum da sociedade requer, como exigência fundamental, que a sociedade seja justa”. E acrescentou: “Repelir a luta de classes é também optar resolutamente por uma nobre luta a favor da justiça social”. No Morumbi, João Paulo 2° recebeu uma carta do líder da oposição metalúrgica, Waldemar Rossi, denunciando o assassinato de Santo Dias (1979) e outros trabalhadores pela repressão brasileira. No Recife, defendeu a reforma agrária: “Os bens da terra são de todos”. Em Teresina, repetiu o que dizia uma faixa da multidão: “Pai Nosso, o povo tem fome”.
O polonês Karol Wojtila havia sido escolhido papa em 1978 e logo se tornou um importante ator político global. João Paulo 2° projetou e apoiou o movimento Solidariedade, chefiado pelo operário católico Lech Walesa, o que contribuiria para a queda dos regimes comunistas no final da década de 1980. Ao longo de seu pontificado, que durou 26 anos, João Paulo 2° combateu a Teologia da Libertação e tentou enquadrar seus maiores expoentes, como os bispos brasileiros dom Paulo Evaristo Arns e dom Luciano Mendes de Almeida.
27 de junho de 2007 – Conflito no alemão vira um massacre
Confronto entre forças policiais e o crime organizado no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, se converte em massacre, em 27 de junho de 2007, deixando um saldo de 19 mortos. Após o assassinato de dois policiais em Osvaldo Cruz, na Zona Norte do Rio, as forças de segurança investiram contra o crime organizado.
Em 2 de maio, teve início a ocupação militar no Complexo do Alemão. Desde então, vítimas eram contabilizadas quase todos os dias. Em 27 de junho, 1.200 policiais civis e militares e 150 agentes da Força Nacional haviam sido mobilizados para enfrentar resistência ao cumprimento da missão.
Em outubro, relatório de peritos forenses designados pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência comprovaria havia, no total, 70 projéteis nos corpos, 54 deles em pontos letais: costas, pescoço e cabeça. Os baleados na cabeça eram seis, e ao menos dois apresentavam “evidências de morte por execução sumária e arbitrária”, segundo o laudo pericial.
28 de junho de 1997 – Primeira parada do orgulho em São Paulo
Inspirada nas “gay pride parades” realizadas desde 1969 nos Estados Unidos, a primeira Parada do Orgulho Gay reúne em São Paulo cerca de 2 mil pessoas que protestam contra a discriminação e a violência sofridas por gays, lésbicas e travestis. O tema central da manifestação – “Somos muitos, estamos em várias profissões” – procura dar visibilidade ao público GLT (gays, lésbicas e travestis) e sensibilizar a sociedade para o convívio respeitoso com as diferenças, pressionando o Estado a garantir os direitos da comunidade homossexual.
Organizações como o Grupo Gay da Bahia e o Grupo Atobá apontavam um número crescente de crimes contra a comunidade GLT. Na década de 1990, foram registrados 1.256 casos de assassinatos por homofobia.
Em 1999, já com o nome de Parada do Orgulho LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros), o evento entrou no calendário oficial da cidade de São Paulo, tornando-se o maior do mundo no gênero.
27 de junho de 2007 – Cresce o apoio ao pequeno produtor
O governo Lula anuncia financiamento recorde para a agricultura familiar, por meio do Plano Safra de 2007/2008. Serão R$ 12 bilhões aplicados nas diversas linhas de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), maior valor já destinado na história do programa, 20% superior ao do ano anterior.
Desde 2002, o volume de recursos crescera cerca de 420% — de R$ 2,2 bilhões, em 2002/2003, para R$ 12 bilhões, em 2007/2008. Em 2007, 2,2 milhões de famílias teriam acessado o crédito rural.
Outras inovações foram a redução da taxa de juro, a ampliação dos limites de renda e financiamento e a diversificação do público-alvo. Os recordes de financiamento seriam anunciados anualmente, chegando a R$ 24,1 bilhões em 2014/2015.
O Plano Safra da Agricultura familiar atingiria 5.454 municípios e ampliaria o tipo de atividade financiada, passando a incluir atividades cooperativistas, agroflorestais e agroindustriais.
Em 2008, como resposta à crise econômica mundial, o governo lançaria uma linha de crédito específica para financiar a infraestrutura e o aumento da produtividade da agricultura familiar.
De 2003 a 2011, a renda dos agricultores familiares cresceria 52%, e 3,7 milhões deles ingressariam na classe média rural. Em 2014, 74% da mão de obra no campo seria empregada pelo setor, e 70% dos alimentos consumidos no Brasil seriam produzidos pela agricultura familiar.