Tio Sam escancara o jogo
Em comício durante convenção do Partido Republicano na Carolina do Norte, Donald Trump confessa: tomaria o petróleo da Venezuela e derrubaria o governo, se estivesse no poder. Maduro reage: “O Império nunca vai conseguir”
Os Estados Unidos estão desesperados diante da perda da influência sobre o continente sul-americano. No sábado, 10, o ex-presidente Donald Trump, durante convenção do Partido Republicano, na Carolina do Norte, rompeu com qualquer tipo de escrúpulo e mostrou que a América continua a ser a mesma de sempre. Diante dos desafios da geopolítica e da perda da hegemonia, Trump escancarou o jogo: “Quando eu saí, a Venezuela estava prestes a colapsar. Nós teríamos tomado o país e pegado todo aquele petróleo. Seria ótimo”, disse.
O presidente Nicolás Maduro rebateu na segunda-feira, 12, as declarações de Trump, durante encontro entre as delegações do Irã e da Venezuela. “Há dois dias, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou seu crime, um crime contra a humanidade contra o povo da Venezuela. o poder dos EUA poderia se apoderar do petróleo venezuelano, a riqueza da Venezuela. Um bom advogado diria que a confissão das partes é uma prova. Trump declarou sua culpa em crimes contra a humanidade contra o povo nobre e pacífico da Venezuela”.
Ele reagiu, apontando que este é o objetivo do imperialismo: apoderar-se das riquezas de seu povo, assegurando que “eles pensavam em vir controlar o petróleo, sendo a Venezuela a principal reserva certificada de petróleo do mundo”. O presidente foi duro: “Esta é a riqueza material que pertence única e exclusivamente ao povo da Venezuela. A mais ninguém”.
“Trump não conseguiu o que queria com a Venezuela. Nenhum império pode fazer o que quer com a Venezuela, porque estamos firmemente plantados na ideia de (Simón) Bolívar, na idéia de Chávez — construir um país independente e construir com nossos próprios esforços, como estamos fazendo, uma nova prosperidade econômica, um novo modelo econômico, com novas fontes de riqueza para nossa pátria, para nossa país”, comentou.
O ex-presidente Donald Trump disse ainda que os EUA “enriquece um ditador” ao comprar a commodity venezuelana, numa crítica direta ao seu principal adversário, o presidente Joe Biden, do Partido Democrata, que vai tentar a reeleição em 2024. “Agora estamos comprando petróleo da Venezuela, então estamos enriquecendo um ditador. Vocês acreditam? Ninguém consegue acreditar nisso. E o petróleo deles é um lixo, é horrível, o pior que podemos pegar”, declarou.
Trump disse que, durante seu mandato, congelou todos os bens do governo venezuelano nos Estados Unidos e proibiu transações com o país. A medida também proibiu transações de empresas ou indivíduos com a Venezuela e ameaçou sanções a quem descumprisse a ordem. Embargos similares são aplicados pelos EUA à Coreia do Norte, Cuba, Irã e Síria.
Em março de 2020, o governo norte-americano passou a oferecer recompensa de US$ 15 milhões por informações que pudessem levar à prisão de Maduro. A Casa Branca também estipulou valores para a prisão de outros 14 integrantes do alto escalão chavista. À época, o então secretário de Justiça, William Barr, disse que o presidente venezuelano e seu círculo conspiraram com rebeldes colombianos para “inundar os Estados Unidos com cocaína”. Segundo a ação, Maduro liderou e ajudou a administrar uma organização de narcotráfico denominada Cartel de Los Soles.
Em 2018, a agência de notícias internacional Associated Press (AP) revelou que o presidente Donald Trump teria pressionado seus conselheiros a invadir a Venezuela. A AP informou que fontes próximas a Trump alegaram que o presidente fez uma pergunta perturbadora aos seus conselheiros no Salão Oval em agosto de 2017: “Por que os Estados Unidos não podem simplesmente invadir o país conturbado?”
A proposta surpreendeu os presentes na reunião e teria levado à saída do ex-secretário de Estado Rex Tillerson e do ex-conselheiro de segurança nacional HR McMaster da administração. Tanto McMaster quanto Tillerson alertaram que a ação militar seria contraproducente e correria o risco de Trump perder o apoio dos governos latino-americanos.
O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, afirmou que o ex-presidente confessou que o objetivo sempre foi roubar os recursos da Venezuela. “Trump confessa que sua intenção era apreender o petróleo venezuelano. Todo o dano que os EUA causaram ao nosso povo, com o apoio de seus lacaios aqui, teve um único objetivo: roubar nossos recursos!”, disse. “Eles não serão capazes de fazer isso. Nós sempre venceremos!”
O embaixador da Venezuela nas Nações Unidas, Samuel Moncada, reagiu: “Trump remove a máscara para 60 países satélites, para a propaganda internacional e para todos os políticos e intelectuais que apoiaram um fantoche para governar a Venezuela. O único propósito tem sido saquear petróleo do povo venezuelano. Que pena! Aqui está a confissão do criminoso”.
Em janeiro de 2021, os Estados Unidos sancionaram uma rede de empresas de comércio de petróleo, indivíduos e embarcações que ajudaram a empresa petrolífera estatal venezuelana Petróleo da Venezuela (PDVSA) a vender petróleo bruto principalmente para a Ásia, apesar das sanções de Washington à nação sul-americana.
A medida teve como alvo uma rede que o Departamento do Tesouro dos EUA diz ter ajudado a administração Maduro, cuja reeleição de 2018 Washington chamou de farsa, intermediar a venda de centenas de milhões de dólares em petróleo venezuelano. Os Estados Unidos apoiaram Guaidó e apontaram-no como “presidente do governo de transição” de 2019 até o final de 2022.
Em maio, o ex-líder da oposição visitou Washington, onde esperava se encontrar com autoridades do governo Biden, durante uma aparição surpresa na Conferência de Washington sobre as Américas. O governo Biden afrouxou sanções contra o governo Maduro em 2022 e, em novembro do ano passado, concedeu à Chevron autorização limitada para retomar o bombeamento de petróleo da Venezuela. •