Desenho do ataque à democracia foi encontrado em documento armazenado no aparelho de telefone de Mauro Cid, o ajudante-de-ordens envolvido em todas as tretas de Bolsonaro. As provas são eloquentes: o plano para fechar o TSE e impedir a vitória de Lula foi feito no Palácio do Planalto

O ataque à democracia foi tramado no coração do governo. As provas estão no smartphone do ex-ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro. De acordo com a Polícia Federal, está cada vez mais difícil qualquer tentativa de Bolsonaro negar que planejou e tentou dar um golpe de Estado. O celular do faz-tudo, o tenente-coronel Mauro Cid, que será ouvido pela CPI dos Ataques à Democracia nesta terça-feira, 20, é uma montanha de provas de que um atentado à democracia foi tramado dentro do Palácio do Planalto quando o ex-capitão era presidente.

As revelações mais recentes foram publicadas, na quinta-feira, 15. A revista Veja teve acesso a um relatório do setor de inteligência da Polícia Federal sobre o que foi encontrado no celular de Mauro Cid. O telefone, vale lembrar, acabou na mão dos policiais depois do tenente-coronel ser preso na operação que investiga as fraudes em cartões de vacinação. Segundo a reportagem, uma das coisas que a PF encontrou foi um documento chamado “Forças Armadas como Poder Moderador”, que descreve passo a passo como um golpe poderia ser dado caso Bolsonaro perdesse as eleições. 

A estratégia começaria com Bolsonaro enviando às Forças Armadas um documento que denunciaria “inconstitucionalidades praticadas pelo Judiciário”. A partir daí, daria-se o golpe em etapas. A primeira, seria nomear um interventor, que, então, definiria um prazo para o “restabelecimento da ordem Constitucional”.

O terceiro passo seria colocar a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal sob comando do interventor. Em seguida, atos do Poder Judiciário seriam suspensos e alguns magistrados seriam afastados e passariam a ser investigados. Por fim, o tal interventor suspenderia outros atos considerados inconstitucionais, haveria substituição dos ministros do TSE e novas eleições seriam realizadas — sem prazo.

O documento reforça as evidências encontradas pela Polícia Federal na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres em Brasília. Em 14 de janeiro, a PF encontrou um documento com uma minuta de um decreto de intervenção na Justiça Eleitoral. A chamada minuta golpista encontrada na residência de Torres foi incluída no processo por determinação do corregedor-geral da Justiça Eleitoral, Benedito Gonçalves.

No Senado Federal, após as novas provas virem à tona, parlamentares do PT cobraram a punição de todos os envolvidos. “Sem anistia para quem ataca a democracia”, resumiu o senador Humberto Costa (PT-PE). “Esses documentos comprovam, de forma cabal, todo o esquema milimetricamente traçado para um golpe de Estado. Tudo em posse de um dos principais assessores do então presidente da República. É inconteste”.

A situação de Bolsonaro é mais que complicada, uma vez que sobram evidências de que ele agiu como mentor intelectual de todas as ações golpistas ocorridas antes, durante e após as eleições de 2022. Não só o plano de golpe estava no celular de seu assessor direto como o documento se encaixa perfeitamente na narrativa mentirosa que Bolsonaro e seus cúmplices espalharam nos últimos anos.

Ainda em 2021, o então presidente da República deu início a uma campanha contra o sistema eleitoral. Ele declarou que tinha provas de que as eleições de 2018, na qual foi eleito manipulando as redes sociais e distribuindo fake news contra o então candidato Fernando Haddad (PT) haviam sido fraudadas para impedi-lo de ganhar no primeiro turno. 

Uma mentira. Ele nunca mostrou quaisquer evidências ou provas. Mas as acusações viraram fake news espalhadas nas redes sociais. A campanha ainda foi fortalecida pela tentativa de se aprovar o voto impresso e pela reunião de Bolsonaro com embaixadores de outros países, realizada no Palácio da Alvorada, na qual mentiu mais uma vez sobre a segurança das eleições.

Foi o ex-presidente e seu entorno que também difundiram a tese mentirosa de que o artigo 142 da Constituição permitiria às Forças Armadas agir como um poder moderador em caso de crise entre os Três Poderes. Em maio de 2020, por exemplo, Bolsonaro postou no Twitter live com o advogado Ives Gandra Martins e ressaltou: “A politização no STF e a aplicação pontual da 142”.

Ora, depois de Bolsonaro atacar as urnas, criar crise com o Judiciário e espalhar a ideia das Forças Armadas como poder moderador, aparece no celular de seu assessor mais próximo um plano de golpe para anular as eleições intitulado “Forças Armadas como Poder Moderador”? Como diz Humberto Costa: “prova cabal”. Agência PT

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