Em 12 de maio de 2016, Dilma Rousseff era afastada da Presidência da República, em decisão do Senado, num processo nefasto que colocou o país a caminho de retrocessos e abriu espaço para a extrema-direita

Num dos momentos mais trágicos da história do país depois da retomada da democracia em 1985, o Senado aprovava, em 12 de maio de 2016, a admissibilidade do processo de afastamento da então presidenta Dilma Rousseff da Presidência da República. A proposta foi aprovada por 55 votos a 22, depois de dezoito horas de sessão. Naquela manhã, ela disse que o processo de impeachment era “fraudulento” e um “verdadeiro golpe” contra o povo brasileiro.

Aplaudida diversas vezes durante sua fala no Palácio do Planalto, Dilma disse que o que estava em jogo no processo era “o respeito às urnas, a vontade soberana do povo brasileiro e a Constituição”. O vice-presidente Michel Temer (MDB) foi oficialmente notificado e se tornava naquele mesmo dia o presidente interino do país.

Na saída do Planalto, Dilma reiterou que não cometeu crime de responsabilidade e se disse alvo de injustiças. “É um processo frágil, juridicamente incompetente, é a maior das brutalidades que pode ser cometida contra qualquer ser humano: puni-lo por um crime que não cometeu. Não existe injustiça mais devastadora do que condenar um inocente”.

Ela acusou o seu adversário na disputa presidencial de 2014, o tucano Aécio Neves de liderar uma oposição “inconformada” com o resultado das eleições e que passou a “conspirar abertamente” pelo seu afastamento. “Tenho sido alvo de intensa e incessante sabotagem. O objetivo evidente tem sido me impedir de governar”, desabafou a então presidenta.

Dilma acrescentou que o maior risco para o país era ser dirigido por um governo “sem voto, que não tem legitimidade”. “A população saberá dizer não ao golpe. Aos brasileiros que são contra o golpe, faço um chamado: mantenham-se mobilizados, unidos e em paz. A luta para democracia não tem data para terminar. E nós vamos vencer”.

Ao lado do ex-presidente Lula e do presidente nacional do PT, Rui Falcão, Dilma repetiu o discurso de que não cometeu crimes. E frisou que os atos dos quais é acusada — mudar gastos do governo sem aprovação do Congresso e manobras contábeis para maquiar as contas públicas — são “corriqueiros”. “Esses atos foram feitos por todos aqueles que me antecederam. Se não era crime naquela época, também não é crime agora”, advertiu

Em 3 de fevereiro de 2022, quase seis anos depois que Dilma foi destituída de um mandato legitimamente conquistado nas urnas, com mais de 54,5 milhões, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), reconheceu que ela sofreu um golpe. O “motivo real” de impeachment de Dilma foi falta de apoio político, não pedaladas, afirmou Barroso, em artigo para a edição de estreia da revista do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). •

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