O neoliberalismo e a miséria
Alberto Cantalice
A insistência do Banco Central em manter em patamares pornográficos a taxa de juros é um acinte ao povo brasileiro. Nenhum empresário ou investidor deixará de ganhar 13,75% de juros com o capital na inércia, ao invés de se arriscar em investir na produção ou na aquisição de bens.
A remuneração dos títulos da dívida pública brasileira tem sido ao longo dos anos o principal indicador da extrema concentração da renda e da riqueza no país. A contínua e renitente alta da taxa de juros nos coloca como uma das nações mais desiguais do mundo, índice que nos envergonha a todos.
O legado deixado pelos governos Temer e Bolsonaro produziu a tragédia de 33 milhões de cidadãos brasileiros em situação de gravíssima insuficiência alimentar. Eufemismo para a proliferação da fome.
O baronato brasileiro, tendo à frente o presidente do BC, Roberto Campos Neto, é insensível ao panorama vivido pelas camadas populares. Não enxergam as ruas e avenidas do país cheias de miseráveis e pedintes. O pleno emprego, que é uma das missões do BC “independente”, é completamente ignorado pela atual gestão, que a despeito de conter a inflação garroteia a economia nacional asfixiando o desenvolvimento do país.
O quase consenso construído no Brasil para que se abaixe a taxa Selic, além de ignorado, é tratado com certo pouco caso por Campos Neto. Afilhado político de Paulo Guedes e do candidato derrotado em 2022, o atual presidente do BC tudo faz para que os esforços da equipe econômica do presidente eleito não tenham êxito e que estes não consigam o estabelecido no programa de governo de Lula.
É preciso frisar que cada ponto percentual a menos na taxa de juros representa a bagatela de R$ 75 bilhões de economia para o Tesouro Nacional. Esses bilhões que deveriam estar aquecendo o ambiente econômico, gerando empregos e renda, estão sendo drenados para o rentismo e engordando o patrimônio de quem já tem muito.
Manter esse patamar de juros pode ser considerado como um crime de lesa-pátria. É inadmissível tamanha insensibilidade com a miséria brasileira. Não dá mais para achar natural esse estado de coisas. Não foi isso que o povo escolheu nas últimas eleições. Não é só boicote. Tem cara, corpo, jeito e cheiro de má-fé!