A semana na história – 8 a 14 de Maio
9 de maio de 1964 – Carlos Marighella resiste à prisão
O ex-deputado comunista Carlos Marighella é localizado e preso por agentes do Dops carioca dentro de um cinema no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. Enfrentando os policiais com socos e gritos de “abaixo a ditadura militar fascista!” e “viva a democracia!”, Marighella recebeu um tiro à queima-roupa no peito. Dominado, foi levado ao Hospital Souza Aguiar e de lá para a Penitenciária Lemos Brito.
Por sua atuação como deputado federal nos anos 1940 e pela articulação de grandes greves e protestos, Marighella tornou-se o mais famoso dirigente do PCB, superado apenas pelo secretário-geral Luiz Carlos Prestes. Ficou três meses preso e, antes de cair mais uma vez na clandestinidade, publicou em 1965 o livro “Por que resisti à prisão”, uma denúncia contra a ditadura militar.
Marighella iria se distanciar progressivamente da direção do PCB até romper com a legenda em 1967. Tornaria-se comandante da Ação Libertadora Nacional (ALN), a maior organização de guerrilha urbana do país naquele período.
O dirigente comunista tornou-se um dos mais procurados inimigos da ditadura e, em 1969, foi morto em emboscada, numa ação coordenada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, um dos mais sanguinários agentes do aparelho de repressão da ditadura militar.
13 de maio de 1964 – Ditadura brasileira rompe as relações diplomáticas com Cuba
O Brasil rompe relações diplomáticas com Cuba, assinalando a mudança de orientação da política externa brasileira. Até o governo Jango, o país adotava uma linha de independência em relação aos blocos político-militares da Guerra Fria. Na Organização dos Estados Americanos (OEA), o Brasil havia negado apoio à expulsão dos cubanos proposta pelos EUA.
A nova atitude em relação a Cuba, primeiro país da América Latina a se declarar socialista, decorreu do alinhamento ideológico e diplomático aos norte-americanos, que combatiam o regime de Fidel Castro Como recompensa, os EUA ofereceriam ajuda econômica e militar à ditadura brasileira.
14 de maio de 1990 – Trabalhadores fazem greve e conseguem fechar acordo na CSN
Cerca de 4 mil metalúrgicos ocupam a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda (RJ), para impedir a demissão de 2 mil trabalhadores. A direção da empresa justificava a medida pela necessidade de reduzir custos operacionais e preparar a privatização da companhia.
Após uma paralisação de 12 horas, 625 funcionários foram readmitidos. A empresa firmou o compromisso de discutir com o Sindicato de Metalúrgicos de Volta Redonda novas medidas.
Para o diretor do sindicato, Jadir Batista, outras medidas de contenção de gastos poderiam ser adotadas, como a “demissão dos militares reformados que trabalham na CSN e moram de graça nas residências dos oficiais do Exército”.
Maio de 1964 – ‘Pif-paf’ de Millôr renova o humor
Lançada poucas semanas depois do golpe militar, a revista “Pif-Paf” abre o ciclo da imprensa alternativa que atuou corajosamente na frente de resistência à ditadura ao longo dos anos 1970 e 1980.
Editada por Millôr Fernandes, que mantinha coluna com o mesmo título na revista “O Cruzeiro” desde meados dos anos 1940, a nova publicação tinha entre seus colaboradores Jaguar, Claudius, Fortuna, Ziraldo e Sérgio Porto.
A irreverência desses mestres do humor político não seria tolerada pelos militares, e a revista fechou no seu oitavo número, depois de ameaças e prisões. Millôr vaticinou o fim da revista numa finíssima peça de humor e provocação: “Se o governo continuar deixando circular essa revista (…) dentro em breve estaremos caindo numa democracia”.
A imprensa alternativa, também chamada de nanica num contraponto à chamada grande imprensa, foi uma marca registrada da luta contra a ditadura militar. Alguns tiveram vida curta, mas outros bateram recordes de edições e de tiragem, sobrevivendo por vários anos. “O Pasquim” foi o que mais durou, ao lado de “Opinião” e “Movimento”.
Entre os muitos títulos da imprensa nanica destacaram-se “Versus”, “CooJornal”, “Em Tempo”, “Hora do Povo”, “Repórter”, “Brasil Mulher”, “Lampião” e “Tição”.
Maio de 1966 – A resistência sobe ao palco do teatro
Na produção teatral de 1966, três peças se destacam pelas críticas à realidade política e social brasileira, tornando-se referência na dramaturgia do país: “O Berço do Herói”, de Dias Gomes; “Navalha na Carne”, de Plinio Marcos; e “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, de Oduvaldo Vianna Filho, o Vianninha.
Inspirada nas experiências do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE, “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto, vence em maio de 1966 o 4º Festival Mundial de Teatro Universitário em Nancy, na França. O cantor e compositor Chico Buarque de Holanda musicou os versos de João Cabral de Melo Neto.
Foi a peça de estreia do grupo de Teatro da Universidade Católica (Tuca). Inaugurado em setembro de 1965, o espaço do Tuca, em São Paulo, se tornaria nos anos seguintes um palco de manifestações culturais e políticas contra a ditadura militar brasileira.
10 de maio de 1985 – Comunistas voltam para a legalidade
A aprovação do Emendão devolveu a legalidade aos partidos proscritos. Assim, o Partido Comunista Brasileiro (PCB), criado em 1922 e posto na ilegalidade em 1946, pôde finalmente recobrar seu registro e o direito de participar das eleições e da vida política nacional. A medida beneficiou também o Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
O PCdoB, na resistência à ditadura, organizou a guerrilha do Araguaia, cujos militantes foram quase todos executados pelas forças da repressão. O movimento foi encabeçado por João Amazonas (1912-2002), Pedro Pomar (1913-1976), assassinado na chacina da Lapa, e Mauricio Grabois (1912-1973), morto no Araguaia.
10 de maio de 1985 – Emendão remove o lixo autoritário
Menos de dois meses depois da posse do presidente José Sarney, é aprovado pelo Congresso Nacional o Emendão, como ficou conhecido o pacote de emendas constitucionais que alteraria vários dispositivos da Constituição em vigor, outorgada em 1967 pelos militares.
A supressão de todos os atos de exceção e dispositivos legais antidemocráticos foi um dos compromissos firmados pela Aliança Democrática – a coalizão entre o PMDB e dissidentes do PDS (Frente Liberal) que elegeu Tancredo Neves e José Sarney no Colégio Eleitoral. No processo de abertura do regime iniciado pelo ex-presidente Ernesto Geisel, já havia sido revogado em dezembro de 1978 o Ato Institucional n° 5 (AI-5).
O Emendão extinguiu o Colégio Eleitoral, que formalizava a eleição indireta dos generais presidentes na ditadura, e restabeleceu as eleições diretas para presidente e para todos os cargos eletivos. A legislação partidária foi modificada para permitir também a legalização de partidos proscritos, como o PCB e o PCdoB.
Os eleitores nas capitais estaduais, estâncias hidrominerais e municípios de segurança nacional reconquistaram o direito de escolher seus prefeitos pelo voto direto. O Emendão suprimiu também as sublegendas na eleição de senadores e a obrigatoriedade da fidelidade partidária, que impedia os políticos eleitos de mudarem de legenda. Garantiu, finalmente, o direito facultativo de voto aos analfabetos, excluídos desde 1881 do exercício democrático.
12 de maio de 1980 – Golbery tira de Brizola a sigla PTB
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concede a legenda e a sigla do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) ao grupo encabeçado pela ex-deputada Ivete Vargas, que havia feito o pedido de registro antes do ex-governador Leonel Brizola. A decisão é um golpe nos planos de Brizola, que pretendia retomar a sigla histórica depois de 15 anos de exílio. Ao saber da decisão do TSE, Brizola chorou e, num gesto teatral, escreveu as letras PTB em uma folha de papel para em seguida rasgá-la diante das câmeras.
“Consumou-se o esbulho”, afirmou Brizola, acusando o general Golbery do Couto e Silva, mentor da “abertura”, de ter patrocinado a adversária. O PTB original foi criado por Getúlio Vargas em 1945 e era o partido do presidente João Goulart, deposto pelo golpe de 1964. Pelo PTB, Brizola foi o deputado mais votado do Brasil em 1962 e pretendia disputar as eleições presidenciais de 1965, abortadas pelo golpe. Quinze anos depois, a legenda e o trabalhismo ainda tinham forte apelo eleitoral no Brasil.
Brizola já trabalhava para refundar o PTB há bastante tempo. Em 1979, antes da anistia, organizou um encontro de lideranças socialistas em Lisboa com esse objetivo. Os textos aprovados nessa reunião defendiam um “Novo Trabalhismo”, que lutasse para construir “uma sociedade socialista e democrática”.
Derrotado na disputa pela sigla do PTB, Brizola fundaria o Partido Democrático Trabalhista (PDT) com forte presença no Rio Grande do Sul e no Rio.
12 de maio de 1988 – Movimento negro se torna mais atuante
No centenário da assinatura da Lei Áurea, as principais entidades do movimento negro se recusam a participar de festas oficiais, focadas na figura da princesa Isabel. As organizações realizam atos públicos em diversas cidades do país, que lembram a luta dos escravos. Os militantes protestam contra a discriminação, a exclusão e os problemas sociais ainda enfrentados pela população afrodescendente.
No Rio de Janeiro, grupos saem às ruas entoando versos contra o racismo no Brasil, como os do samba-enredo da Mangueira: “Será que já raiou a liberdade ou foi tudo uma ilusão?”
Apesar da natureza pacífica do protesto, a polícia cercou os manifestantes, impedindo-os de se aproximar do monumento a Duque de Caxias, considerado por alguns como um símbolo da sociedade escravocrata.
10 de maio de 1986 – Padre Josimo é assassinado
O padre Josimo Tavares, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), é assassinado com dois tiros dados pelas costas pelo pistoleiro Geraldo Rodrigues, em Imperatriz (MA). Pelo crime, Geraldo recebeu 50 mil cruzados de Osmar Teodoro da Silva, proprietário de terras e vereador pelo PMDB. O padre foi vítima da repressão no campo na sua forma privada, em que milícias, jagunços e matadores resolvem, por meio do assassinato, as pendências da posse da terra.
Diante da reação popular pela morte do padre Josimo, o ministro da Reforma Agrária, Nelson Ribeiro, e o diretor da Polícia Federal, Romeu Tuma, presentes ao enterro, diante de cerca de 3 mil pessoas garantiram que a justiça seria feita. Em 1988, o pistoleiro foi condenado a 18 anos de prisão, mas fugiu diversas vezes da cadeia. Osmar Teodoro da Silva foi preso em 2001 e condenado a 19 anos em 2003.
Poucos dias antes de sua morte, o sacerdote escreveu em testamento: “Nem o medo me detém. É hora de assumir. Morro por uma causa justa. Agora, quero que vocês entendam o seguinte: tudo isso que está acontecendo é uma consequência lógica do meu trabalho na luta e defesa dos pobres, em prol do Evangelho, que me levou a assumir essa luta até as últimas consequências”.
12 de maio de 1978 – Máquinas ficam paradas nas fábricas do ABC
Trabalhadores do turno da manhã da fábrica de caminhões da Scania-Vabis, em São Bernardo do Campo (SP), batem o cartão de ponto e cruzam os braços diante das máquinas. É o inicio de uma onda de greves por melhores salários que iria tomar conta da região do ABC paulista e se espalhar pelo país nos meses seguintes. Um dos líderes do movimento é Luiz Inácio Lula da Silva (foto).
A paralisação na Scania desafiava a lei antigreve da ditadura e surpreendeu os patrões por sua organização: sem piquetes e com a adesão pacífica dos quase 2.500 trabalhadores de todos os turnos. A principal reivindicação era um reajuste salarial de 20%, acima do índice oficial do governo, um desdobramento da campanha pela reposição salarial deflagrada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema em setembro do ano anterior.
A diretoria do sindicato foi chamada pela empresa para intermediar a negociação com os grevistas. Em 15 de maio, assembleia dos trabalhadores rejeitaria a proposta patronal de reajuste de 6,5% e deu prazo de três dias para que a empresa melhorasse a oferta.
Naquela altura, a greve já tinha se estendido aos 10 mil metalúrgicos da Ford e aos 1.500 da Mercedes-Benz. Na fábrica da Volks, a greve começou em um setor em que trabalhavam mais de mil operários. O sindicato conduziu as negociações caso a caso, como havia feito na Scania. Entre maio e agosto, cerca de 120 mil trabalhadores de 132 empresas do ABC paulista conseguiram aumentos e antecipações salariais, como resultado direto ou indireto do movimento grevista.
A primeira onda de greves dos metalúrgicos do ABC fortaleceu a organização dos trabalhadores em torno do sindicato e serviu de exemplo para outras categorias por todo o país. O modelo de negociação por empresa desconstituiu, na prática, a estrutura oficial de federações patronais e de empregados, que se limitava a aplicar a política salarial do governo. As greves sem piquetes, organizadas por comissões de fábrica, fortaleceram a organização por local de trabalho, que também não era prevista na legislação.