Dinheiro contra desmatamento
Casa Branca sinaliza reforço ao Fundo Amazônia, na tentativa de reverter a destruição e o desmatamento na florestra tropical. Mas o secretário da ONU dá um pito nos países desenvolvidos e alerta para o aumento desenfreado do uso de combustíveis fósseis, como petróleo e gás, em plena emergência climática
No esforço de estreitar as relações entre Brasil e Estados Unidos, a Casa Branca quer mostrar à comunidade internacional que mantém sua preocupação quanto à agenda ambiental. O presidente Joe Biden anunciou planos para aumentar o financiamento dos EUA ao Brasil para ajudar o governo Luiz Inácio Lula da Silva e outras nações em desenvolvimento a combater as mudanças climáticas e reduzir o desmatamento na floresta amazônica durante reunião com líderes na quinta-feira, 20.
Durante a reunião do Fórum das Principais Economias sobre Energia e Clima, Biden prometeu US$ 1 bilhão para o Green Climate Fund, um programa liderado pelas Nações Unidas que busca ajudar os países em desenvolvimento a se tornarem mais resilientes às mudanças climáticas. “Como grandes economias e grandes emissores, devemos intensificar e apoiar essas economias”, justificou. Os países que compõem o fórum são responsáveis por cerca de 80% do produto interno bruto global e das emissões de gases de efeito estufa.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, desafiou os esforços climáticos de Biden e de outros líderes na mensagem para a reunião de cúpula. Ele acusou os países de perseguirem a expansão a qualquer custo na perfuração de petróleo e gás e outras políticas de energia suja das nações mais ricas. Isso seria o equivalente a uma “sentença de morte” para o planeta — criticou.
O desafio surgiu quando a guerra da Rússia na Ucrânia e outras ameaças ao suprimento mundial de petróleo e gás de curto prazo estão levando os EUA e algumas outras nações a aumentar a produção de petróleo, gás natural e carvão para suprirem suas fontes de energia. A adoção renovada dos combustíveis fósseis está ampliando os conflitos com os esforços, planos e promessas climáticos feitos em plenárias internacionais. A promessa de reduzir os gases de efeito estufa estão longe de virarem realidade.
Biden abriu a cúpula relatando os bilhões de dólares de seu governo em esforços climáticos e anunciando US$ 1 bilhão em novos financiamentos climáticos para nações em desenvolvimento, bem como outras legislações e programas. Nos Estados Unidos e em outros lugares, no entanto, a adoção renovada dos combustíveis fósseis está criando conflitos com os esforços, planos e promessas climáticos.
“As divisões geopolíticas não devem torpedear a luta climática mundial”, alertou Guterres. “A ciência é clara: novos projetos de combustíveis fósseis são totalmente incompatíveis” com a manutenção do aquecimento global dentro dos limites com os quais os EUA e cerca de 200 outras nações se comprometeram no acordo climático de Paris de 2015.
O pito de Guterres eclipsou o anúncio de Biden de mais dinheiro com a promessa de reverter o desastre na Amazônia. O presidente dos EUA se comprometeu a destinar US$ 500 milhões em cinco anos para reduzir o desmatamento no Brasil.
A medida tornaria a América um dos maiores contribuintes do Fundo Amazônia, um programa de conservação estabelecido há mais de uma década, que conta hoje com contribuições de Alemanha e Noruega e permaneceu congelado durante o governo Jair Bolsonaro. No entanto, esse investimento exigiria ainda a aprovação do Congresso, onde o Partido Republicano se mantém refratário à agenda ambiental.
A administração Biden pretende reduzir as emissões de gases de efeito estufa pela metade até 2030 e instou os países desenvolvidos a fornecer assistência climática internacional às nações mais pobres. “Os impactos da mudança climática serão mais sentidos por aqueles que menos contribuíram para o problema, incluindo nações em desenvolvimento”, disse.
O financiamento vem depois que o presidente prometeu em 2021 trabalhar com o Congresso para quadruplicar o apoio climático dos EUA aos países em desenvolvimento para US$ 11,4 bilhões por ano até 2024. O governo não está nem perto de atingir essa meta. No ano passado, a Casa Branca aprovou apenas US$ 1 bilhão para ajudar os países mais pobres a lidar com as mudanças climáticas.
“Estamos em um momento de grande perigo, mas também de grandes possibilidades”, disse Biden. “Com o compromisso certo e o acompanhamento de todas as nações nesta chamada, a meta de limitar o aquecimento a 1,5ºC pode ficar ao nosso alcance”. O pedido do presidente de financiamento climático adicional provavelmente enfrentará forte oposição da Câmara controlada pelos republicanos. O fórum das principais economias inclui Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Chile, China, Egito, Comissão Europeia, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, Coreia do Sul, México, Nigéria, Noruega, Arábia Saudita, Turquia, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e Vietnã.