A semana na história – 1º a 7 de Maio
2 de maio de 1932 – Santos, São Paulo e Rio têm greve
Na capital paulista, trabalhadores de várias categorias profissionais entram em greve reivindicando a proibição do trabalho de menores de 14 anos, a regulamentação dos direitos da mulher e a jornada de 8 horas de trabalho na indústria. Cruzam os braços também os ferroviários da São Paulo Railway, os operários das fábricas de calçado, os vidreiros, os tecelões e os garçons. Além das reivindicações gerais, cada categoria apresenta exigências específicas. A polícia reage, prendendo dezenas de lideranças operárias.
4 de maio de 1932 – Conquista: 8 horas de trabalho
O presidente Getúlio Vargas atende a uma das principais reivindicações dos operários e estabelece que todos os trabalhadores urbanos, nas fábricas, escritórios e estabelecimentos comerciais, e que exerçam suas funções durante o dia, terão sua jornada limitada a oito horas diárias e a seis dias por semana. Todos terão direito a um dia de descanso semanal, preferencialmente aos domingos. O trabalho noturno é limitado a sete horas. Trata-se de uma vitória histórica dos trabalhadores, que havia décadas lutavam pela jornada de trabalho de oito horas.
1º de maio de 1940 – Getúlio assina decreto do salário mínimo
Getúlio Vargas baixa decreto determinando que todo trabalhador brasileiro, sem distinção de sexo, tem direito a um salário mínimo mensal que deve satisfazer, segundo o texto do decreto, “às suas necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte”. O decreto do salário mínimo não contemplou os trabalhadores do campo.
Pela primeira vez no Brasil, o Dia do Trabalho foi comemorado num estádio de futebol — o São Januário, no Rio de Janeiro. Getúlio entrou no campo do Vasco da Gama em carro aberto, sob aplausos de 40 mil trabalhadores. A festa foi organizada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda e transmitida pelo rádio a todo o país.
Getúlio falou à multidão que “os trabalhadores brasileiros nunca obtiveram, sob os governos eleitorais, a menor proteção, o mais elementar amparo. Para arrancar-lhes os votos, os políticos profissionais tinham de mantê-los desorganizados e sujeitos à vassalagem dos cabos eleitorais”.
1º de maio de 1943 – Presidente consolida as leis do trabalho
Getúlio assina a Consolidação das Leis do Trabalho durante as comemorações de 1º de Maio, na Esplanada do Castelo, Rio de Janeiro. Cerca de 100 mil pessoas compareceram ao ato público, muitas delas carregando a bandeira nacional e faixas em homenagem ao presidente. Duzentos operários da Companhia Siderúrgica Nacional, uniformizados, levaram um enorme cartaz, com os dizeres: “Volta Redonda, a maior realização do Brasil; Getúlio Vargas, seu idealizador e construtor”. Também com bandeiras, todos os presidentes de sindicatos e federações fizeram uma longa fila em frente ao Palácio do Trabalho.
6 de maio de 1959 – Fidel chega ao Brasil em visita oficial
O primeiro-ministro de Cuba, Fidel Castro, chega ao Brasil para uma visita oficial de um dia. Segundo o presidente Juscelino Kubitschek, a visita de Castro é parte do esforço de unir os países do continente para articular a Operação Pan-Americana (OPA), destinada a promover o desenvolvimento dos países da região.
Líder do Movimento 26 de Julho, que depôs o ditador Fulgencio Batista em janeiro, Fidel tinha uma dívida de gratidão com o governo brasileiro, que reconhecera oficialmente o novo governo cubano poucos dias depois da vitória da revolução. Durante sua estada, ele cumpriu uma extensa agenda oficial e foi recebido com entusiasmo, sempre cercado por políticos, estudantes e empresários durante sua breve estadia.
Encontrou-se com o ministro da Guerra, Henrique Teixeira Lott, compareceu a almoço oferecido por Juscelino e discursou por três horas na Esplanada do Castelo a uma multidão que empunhava bandeiras de Cuba.
No discurso, referiu-se ao Brasil como “irmão maior”, exaltou a Operação Pan-Americana, opinou sobre reforma agrária e justiça revolucionária e criticou a ausência de investimentos norte-americanos na América Latina. Compareceu também à sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), onde debateu com cerca de 300 jovens.
À noite, o líder cubano foi o convidado de um jantar com políticos e empresários brasileiros. No evento, foi apresentado ao prefeito de São Paulo, Ademar de Barros, que manifestou seu desagrado com o uso do “paredón” — fuzilamento dos principais dirigentes do antigo regime pelos revolucionários — depois da revolução.
Sem saber da fama do prefeito (“rouba mas faz”), Fidel deixou-o furioso com a resposta: “Estamos fuzilando só os grandes ladrões de dinheiro público!”. Ademar foi embora sob gargalhadas, dizendo que Fidel era um “Jânio Quadros sanguinário”.
1º de Maio de 1962 – Parlamentarismo vira um estorvo
O presidente João Goulart defende o fim do parlamentarismo, como forma de viabilizar a aprovação imediata das chamadas Reformas de Base — agrária, urbana e bancária. Do alto do palanque erguido em Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro, para as festividades de 1º de maio, Jango conclama a multidão a uma “atitude mais enérgica” em defesa das reformas.
Estava dada a largada para a campanha contra o sistema de governo implantado oito meses antes como saída negociada com os militares para empossar Jango na Presidência, após a renúncia de Jânio Quadros.
A investida de Jango instalou a crise do regime. No discurso, ele se declarou disposto a recuperar seus plenos poderes presidenciais. Diante dessa posição, o gabinete liderado por Tancredo Neves não teve mais condições de se manter no poder e seria desfeito no dia 26 de junho.
Partiria da área militar o ultimato para antecipação do plebiscito. O marechal Henrique Teixeira Lott, em entrevista, protestaria contra a instabilidade a que o parlamentarismo submetia o país. Em seguida, os ministros militares fariam conjuntamente uma declaração de apoio à antecipação do plebiscito.
2 de maio de 1967 – Militares entram na repressão política
É criado o Centro de Informações do Exército (CIE), que seria um dos maiores responsáveis pela repressão, tortura e assassinatos de membros de organizações de esquerda no Brasil. Ligado diretamente ao gabinete do Ministério do Exército, o CIE colaborou para a implantação de centros de tortura em dependências militares e em aparelhos clandestinos de repressão, como a Casa da Morte, em Petrópolis (RJ) — foto acima —, a “boate” de Itapevi e a Fazenda 31 de Março, ambas em São Paulo.
Em todos esses locais eram correntes a prática de torturas, execuções e desaparecimentos de adversários políticos do regime. Pouco tempo depois do CIE, foi criado o Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa), com os mesmos objetivos. A Marinha tinha o seu Centro de Informações (Cenimar) desde 1957. Nos primeiros anos da ditadura, o Cenimar já atuava na repressão, em parceria com o delegado Sergio Paranhos Fleury, do Dops de São Paulo. Os três centros militares de informações competiam entre si na caçada aos oposicionistas e na brutalidade dos métodos.
Maio de 1967 – ‘Quarup’ desvenda um Brasil profundo
No romance “Quarup”, Antônio Callado traça um painel social e político do Brasil desde o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, até o primeiro ano da ditadura militar. O romance é um testemunho dos enfrentamentos sociais no país, antes e imediatamente depois do golpe, na perspectiva de Nando, um padre em conflito com suas obrigações religiosas. O convívio com os índios do rio Xingu e a paixão por uma jovem militante dos movimentos do campo conduzem Nando ao engajamento político, às vésperas do golpe.
O livro percorre o Brasil profundo dos camponeses e indígenas, numa trama que aborda a política institucional, os partidos de esquerda, as ligas camponesas e os sindicatos de trabalhadores rurais. Também denuncia as torturas. Publicado no momento em que muitos jovens se engajavam em organizações revolucionárias, “Quarup” é um livro que marcou aquela geração de brasileiros.
1º de maio de 1968 – Governador vira alvo em ato na Sé
A chegada do governador Abreu Sodré à comemoração oficial do Dia do Trabalho foi o estopim para a vaia da multidão, calculada em 20 mil pessoas, reunida na praça da Sé, em São Paulo. Sodré pega o microfone e afirma que a manifestação é uma “prova evidente de que em nosso Estado a democracia respira”. Estudantes e operários reagiram e responderam com palavras de ordem, usando megafones. Jogaram ovos e pedaços de pau contra o palanque das autoridades. O governador foi atingido por uma pedra.
Organizações clandestinas como a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), a Ação Libertadora Nacional (ALN) e a Ação Popular (AP), entre outras, participaram ativamente do protesto, que culminaria com a tomada e a queima do palanque montado em frente à Catedral da Sé. Após o conflito, uma passeata saiu da praça e percorreu as principais ruas do centro.
1º de maio de 1970 – Operário morre em prisão no Dops
O dirigente do Partido Operário Revolucionário Trotskista (Port), Olavo Hansen, é preso enquanto distribuía panfletos, em São Paulo, no Dia do Trabalhador. Levado ao Dops, foi torturado durante cinco dias. Muito ferido, apesar dos protestos de outros presos políticos, não recebeu assistência médica. Foi levado ao Hospital do Exército somente no dia 8 de maio, já em estado de coma. Ele teria se “suicidado”.
1º de Maio de 1979 – Morte de Fleury cheia de mistério
O delegado da polícia civil de São Paulo Sérgio Paranhos Fleury morre no mar em Ilhabela (SP), onde fazia uma passeio de lancha. Fleury foi um dos mais sanguinários agentes da repressão. Chefiou o Esquadrão da Morte, que assassinava pobres supostamente criminosos, comandou o Dops em São Paulo e atuou na Operação Bandeirante (1969) e no DOI-Codi. Em 1969, preparou a emboscada e assassinou Carlos Marighella. Em 1971, torturou militantes do MR-8 até localizar o refúgio de Carlos Lamarca, assassinado numa emboscada no sertão da Bahia. Fleury era considerado o maior arquivo vivo da repressão, o que gerou suspeitas em torno de sua morte. Não foi realizada autópsia.
1º de maio de 1989 – Direita faz ataque em Volta Redonda
É inaugurado em Volta Redonda (RJ) um memorial em homenagem aos três metalúrgicos mortos durante a invasão do Exército à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Os operários William Fernandes Leite, Valmir Freitas Monteiro e Carlos Augusto Barroso morreram durante a violenta repressão militar aos grevistas que ocupavam a CSN, em novembro do ano anterior. Em 2 de maio, o monumento projetado por Oscar Niemeyer foi destruído por um atentado a bomba. Trinta quilos de explosivos foram usados. O evento foi atribuído à direita.
6 de maio de 1997 – Vale é privatizada a preço de banana
Às 17h42, o leiloeiro da Bolsa de Valores do Rio, Frederico Runte Jr., bate o martelo, encerrando a venda do controle acionário da maior mineradora de ferro do mundo, a Companhia Vale do Rio Doce, por R$ 3,3 bilhões.
Adiado por oito dias, devido a liminares concedidas pela Justiça a uma avalanche de ações que pediam a suspensão da venda da estatal, o leilão foi iniciado às 12h11, mas ficou suspenso por cinco horas, tempo necessário para que os advogados do governo e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), coordenador do programa de privatização, derrubassem as duas últimas medidas liminares que o impediam. Mas bastaram 13 minutos para que fosse dado o último lance.
Venceu o Consórcio Brasil, liderado pelo grupo Vicunha, que cinco anos antes, no governo de Itamar Franco, adquirira a estatal Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Integravam também o grupo vencedor a Previ e outros fundos de pensão de estatais e fundos de investimentos. Foi derrotado o consórcio Valecon, liderado pelo empresário Antonio Ermírio de Moraes, franco favorito na disputa até o último minuto.
Na Praça 15, em frente à Bolsa do Rio, os manifestantes contrários à venda se envolveram em dois episódios de conflito com a polícia. No primeiro, duas pessoas ficaram feridas; no segundo, sete.
Quando, após o leilão, o ministro do Planejamento, Antonio Kandir, simbolicamente bateu novamente o martelo, uma outra liminar já havia suspendido os efeitos do leilão. A venda só foi concretizada quatro dias depois, com a entrega de um cheque de R$ 3.199.974.496 ao governo pelo presidente da CSN, Benjamin Steinbruch.
O fato foi festejado como o maior resultado desde o início das privatizações. A diferença entre o cheque e o valor total do leilão foi destinado ao pagamento de sócios minoritários. A partir daí, o governo transferia o controle da histórica companhia de capital misto criada em 1942 por Getúlio Vargas para um consórcio liderado pela CSN.