Depois da crise nos bancos estadunidenses, é a vez dos europeus. Dúvidas sobre o Deutsche Bank arrastam instituições financeiras para uma semana de perdas nas bolsas de valores

O mercado financeiro viveu uma semana de pânico. Principalmente na Europa. Depois da crise do Credit Suisse com sua aquisição forçada pelo UBS, por pressão direta do Banco Central da Suíça, o medo continuam varrendo a zona euro. As dúvidas pairavam na sexta sobre o Deutsche Bank, que há anos dá sinais de vulnerabilidade. 

Os seguros contra inadimplência do maior banco alemão dispararam na sexta-feira, 25, e imediatamente as perdas na bolsa se espalharam como fogo em todo o setor, sem exceção. Com a operação de resgate do Credit Suisse ainda muito presente, e a crise na banca regional americana que levou duas instituições à quebra, a sensibilidade dos investidores está à flor da pele. 

E isso se refletiu na evolução do índice Stoxx Europe 600, que agrupa os principais bancos europeus, em baixa de 3,78% no final da sessão. Deutsche Bank (-8,5%), Société Générale (-6%) e Commerzbank (-5%) foram os mais penalizados. 

As autoridades monetárias e governamentais insistem na solidez do sistema financeiro europeu, mas a mensagem não é bem-sucedida. O medo de que a turbulência não tenha desaparecido e um novo terremoto com epicentro em Frankfurt começa a ganhar força como uma nova preocupação. A exposição ao mercado imobiliário dos EUA é citada entre seus problemas. Mas a origem vem de longe. 

Não passa despercebido que o Deutsche Bank — como foi o caso do Credit Suisse — está esgotado por mais de cinco anos de escândalos. A entidade foi multada em 2015 em US$ 2,5 bilhões de dólares por participar na manipulação do índice Libor (taxa do mercado interbancário de Londres) em conjunto com outros bancos.

Em 2018, foi investigado por Bruxelas por fazer parte de um cartel no mercado secundário de títulos soberanos e em 2019 por um cartel no mercado de câmbio. A Comissão Europeia tem uma investigação aberta para apurar também se o Deutsche Bank manipulou mercado secundário de dívida pública na negociação de títulos em euros entre 2005 e 2016. Apesar das múltiplas frentes, o banco pareceu recuperar o fôlego em 2022, quando lucrou mais de US$ 5 bilhões de euros, seu melhor resultado desde antes da crise financeira.

A desconfiança volta aos bancos no momento em que os líderes europeus realizam uma reunião cúpula com o objetivo de enviar uma mensagem para acalmar os mercados financeiros. O presidente do Eurogrupo, o irlandês Paschal Donohoe, insiste junto dos dirigentes da UE para que avancem na União Bancária, e pediu à Comissão Europeia que apresente as propostas legislativas para ajustar os procedimentos de resolução da crise. 

Donohoe também exigiu que a reforma pendente do fundo de resgate do euro, bloqueada pela Itália, seja ratificada. O chanceler alemão, Olaf Scholz, presente naquele encontro, não se esquivou do assunto: “O Deutsche Bank se modernizou. É um banco rentável. Não há motivos para preocupação”, tentou tranquilizar.

Enquanto isso, a capitalização do banco alemão — que caiu mais de 14% na pior sessão — continuava caindo. Agora ronda os 18 bilhões de euros, e desde a implosão do Silicon Valley Bank perdeu mais de 25% do seu valor na bolsa. 

Resgatado o Credit Suisse, o Deutsche Bank é o grande candidato a ser o centro das atenções. Existem algumas semelhanças entre os dois: são símbolos financeiros de seus respectivos países, embora degradados, estiveram na mira dos reguladores por suas más práticas, recorreram a investidores no Golfo Pérsico para recapitalizar e suas ações estão sangrando por anos depois de atingir o pico em 2007, antes da Grande Recessão.

Mas também há diferenças. O Deutsche Bank é maior que o Credit Suisse. Mas isso preocupa. Por ser maior, seu potencial impacto sobre o sistema financeiro é grande. Ao encerrar 2022, o banco contava com 1,3 trilhões de euros em ativos, mais do dobro do banco suíço naquela data: 570 bilhões. Esses números o colocam como o oitavo maior banco europeu — o Credit Suisse era o décimo sétimo. 

A velocidade com que os bancos quebraram nas últimas semanas acentua a sensação de insegurança. Na sexta-feira, dia 10, o Silicon Valley Bank caiu. No domingo, dia 19, o Credit Suisse foi resgatado. Agora, com o Deutsche Bank na mira, a questão é: ele cai em sua própria fraqueza ou em um ataque implacável dos mercados, onde os investidores podem ganhar dinheiro vendendo? 

A questão gerou uma cascata de análises. “Não temos preocupações sobre a viabilidade do Deutsche Bank. Para deixar bem claro, o Deutsche não é o próximo Credit Suisse”, diz enfaticamente um relatório da Autonomous Research. “Embora a confiança esteja frágil e o mercado se lembre dos problemas anteriores à reestruturação de 2019, o perfil financeiro do Deutsche melhorou substancialmente”, diz o JPMorgan. 

Ainda assim, as notícias são preocupantes. E é isso que explica o medo dos investidores. O pânico é alimentado por quedas na bolsa, notícias negativas, viralização nas redes sociais e uma nova perda de confiança dos investidores. Este é o desafio do Deutsche Bank. •

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