Haddad diz que o Brasil tem a oportunidade agora de reverter o ciclo da alta de juros e reduzir a Selic, justamente no momento da turbulência internacional por conta da crise financeira nos EUA

Queda da Selic: chegou a hora

A crise financeira provocada pela quebra de dois bancos nos Estados Unidos, o Silicon Valley Bank e o Signature, resgatados pelo Federal Reserve e o Tesouro americano, pode ser a oportunidade que o Banco Central tem para reverter a taxa de juros no Brasil. O próprio Fed deve tirar o pé do acelerador por conta da crise e “congelar” ou diminuir o ritmo da alta dos juros praticados nos EUA.

A avaliação é do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Na última segunda-feira, ele disse que o Brasil tem “gordura”, ao contrário do mundo, para viabilizar o corte da Selic. O ministro considera que há pouco espaço para a manutenção do aumento de taxa de juros no mundo diante do cenário de turbulência. Os juros reais no Brasil são os mais altos do mundo: 8%.

“Diria que tem uma gordura no Brasil que permite a nós, tomando as providências que estão sendo tomadas [pela equipe econômica] e vêm sendo reconhecidas pelo Banco Central nas atas que divulga, penso que temos espaço [para corte de juros] que o mundo não tem”, disse.

Num evento promovido pelo Grupo Globo, em São Paulo, o ministro chamou atenção para o limite prudencial de elevação dos juros no cenário internacional sob risco de os países desorganizem suas economias. Isso geraria mais dificuldade para buscar o centro das metas de inflação no curto prazo. Haddad destacou a robustez do sistema financeiro nacional.

“Temos espaço para, mesmo em uma situação de turbulência internacional, se a gente harmonizar políticas fiscal e monetária, conseguimos ancorar e navegar em mares internacionais revoltos porque nossa condição permite isso. Vamos ver o tamanho do estrago fora, mas penso que estamos preparados para qualquer cenário”, declarou.

O alto patamar de juros no Brasil — a taxa básica está em 13,75% ao ano – tem sido alvo recorrente de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de membros do governo diante de um cenário de desaceleração da economia.

A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central será nesta terça-feira, 21. E cresce a pressão da sociedade civil organizada para que o BC baixe a Selic. Na última segunda-feira, 13, houve um ato no Rio de Janeiro em defesa da redução dos juros no Clube de Engenharia. O ato contou com as presenças de representantes do PT, PSOL e PCdoB. A presidenta  nacional do PT, Gleisi Hoffmann, denunciou que os juros atuais impedem o crescimento do país. “Roberto Campos Neto tinha de ter decência, vergonha na cara, pegar o boné dele e ir embora, e deixar a presidência do Banco Central”, afirmou. Ela disse que o ato é o início de “uma cruzada por crescimento e emprego”.

“O embate com o Campos Neto é político, não é econômico”, disse. “Ele representa um projeto que não foi eleito nas urnas. Ele não podia estar onde ele está”. O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) defendeu que o presidente do Banco Central ternha mandato coincidente com o do presidente da República. Ele criticou Campos Neto, apontando-o como baluarte dos interesses do sistema financeiro. “É uma armadilha, estão querendo amarrar o presidente Lula”, advertiu Lindbergh. “Eles querem jogar o Brasil numa recessão econômica”.

Na terça-feira, 14, a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou o convite a Campos Neto a prestar esclarecimentos sobre a política monetária. Ele irá à CAE em 4 de abril. Ele deverá ainda explicar o que levou o BC a cometer um erro na série de estatística do câmbio, no período de outubro de 2021 a dezembro de 2022, que totalizam US$ 14,5 bilhões. Além do presidente do BC, também vão debater com os parlamentares o ministro Fernando Haddad e a ministra do Planejamento, Simone Tebet. •