Os dois presidentes conversaram pela primeira vez na quinta-feira; o líder brasileiro foi convidado pelo ucraniano a visitar o país e instado a apoiar o ‘plano de Kiev’, que tem apoio de europeus e Estados Unidos 

DIÁLOGO Os líderes de Brasil e Ucrânia conversaram durante 30 minutos por videochamada. O líder estrangeiro agradeceu o apoio na ONU

De patinho feio na comunidade global por conta da atuação isolacionista de Jair Bolsonaro, o Brasil voltou ao palco da política internacional como um ator relevante com capacidade de diálogo e trânsito entre líderes de diferentes matizes ideológicas. Na quinta-feira, 2, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pediu a Luiz Inácio Lula da Silva que o Brasil considere o plano de paz apresentado por Kiev, com dez pontos para encerrar a guerra iniciada pela Rússia.

Os dois conversaram por 30 minutos em um tom cordial e sem excessos. Do lado ucraniano, não houve sequer um pedido por armas, já que Kiev teria entendido que Lula não estaria disposto a falar sobre o assunto. Em janeiro, o brasileiro descartou o pedido do chanceler Olaf Scholz para o envio de munição para a Ucrânia. Lula justificou dizendo que não gostaria de alimentar ainda mais o conflito entre Rússia e Ucrânia — países irmãos com uma história em comum, mas em guerra há um ano.

O presidente do Brasil tem defendido que os líderes de outros países precisam participar de uma iniciativa para a construção da paz e do diálogo entre Rússia e Ucrânia. “A guerra não pode interessar a ninguém”, justifica. A proposta do petista vem sendo chamada de “clube da paz” e é analisada pela Rússia.

O plano de Kiev é apoiado pelos europeus, em especial por Emmanuel Macron, presidente da França. Mas não encontra qualquer respaldo em Moscou e nos aliados dos russos. Zelensky convidou Lula para uma visita para Kiev. A presença de líderes internacionais na capital do país tem se transformado numa estratégia de propaganda por parte dos ucranianos para tentar mostrar força diante dos russos.

Segundo o jornalista Jamil Chade, Lula não rejeitou o convite. Mas sinalizou que essa não seria a prioridade neste momento e que oportunidades não faltarão. O presidente da Ucrânia agradeceu a Lula pelo fato de o Brasil ter votado pela condenação da agressão russa, em resolução da Assembleia Geral da ONU. O Brasil foi o único país dos Brics a endossar o texto – o bloco é formado também por Rússia, Índia, China e África do Sul. O ucraniano também destacou o esforço do brasileiro em conversas com EUA, França e Alemanha. Lula sinalizou que vai levar o assunto também para a China, no final deste mês. •

O plano de Kiev

1. Segurança da maior usina nuclear da Europa, Zaporizhzhia na Ucrânia, ocupada pela Rússia.

2. Garantias de exportações de grãos da Ucrânia

3. Segurança energética e ajuda para restaurar infraestrutura.

4. Libertação de presos, incluindo prisioneiros de guerra e crianças deportadas para a Rússia.

5. Restauração da integridade territorial da Ucrânia.

6. Retirada das tropas russas e cessação das hostilidades

7. Criação de um tribunal especial para processar os crimes de guerra russos.

8. Proteção do meio ambiente, desminagem e restauração das instalações de tratamento de água

9 Medidas para impedir escalada de conflitos e garantias para a Ucrânia

10. Declaração formal de fim da guerra

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