Envolvido em escândalo sexual, o jogador Daniel Alves está preso na Espanha por acusação de estupro. Caso se assemelha ao de outros atletas ricos e levanta a conivência de dirigentes do esporte

Na Copa do Catar, disputada em novembro de 2022 a convocação do veterano e estrelado Daniel Alves, aos 39 anos, três Copas do Mundo e uma quantidade de títulos nacionais e internacionais, levantou críticas ferozes e defesas apaixonadas, de comentaristas esportivos a torcedores da pátria de chuteiras. A copa foi aquilo que foi, com a eliminação do Brasil nas quartas-de-final e uma campanha decepcionante. Nos últimos dias, Daniel Alves voltou a ser assunto. Mas, agora, das páginas policiais:  o atleta está preso em Barcelona desde 20 de janeiro acusado de estupro.

A vítima foi abordada pelo jogador em uma casa noturna em 30 de dezembro de 2022 em Barcelona. A mulher de 23 anos começou a denunciar o jogador na mesma noite, depois de ter sido atendida em um hospital especializado em vítimas de estupro. “É um caso com mais indícios que o comum, de fato, e não acho que seja porque o denunciado seja um personagem público”, diz a advogada, Ester Garcia López, em entrevista ao UOL. “Há mais indícios porque as coisas foram feitas de forma imediata”. 

Lopéz refere-se ao protocolo de atendimento às vítimas de chamado No Callen, que orienta casas noturnas e espaços de lazer nesses casos, instituído na Catalunha em 2018. Além disso, a advogada afirma que as tentativas de culpabilizar a vítima tentadas por Daniel Alves — ele afirmou, inicialmente, que o sexo teria sido consensual —, foram por terra pelas inconsistências de sua versão. “O depoimento de nossa cliente não tinha nenhuma falha. Já o dele tinha várias”, diz Ester.

É mais um jogador da elite acusado de violência contra a mulher. Em 2022, Robinho, com prisão decretada pela Justiça italiana, veio para o Brasil para não ser preso, o que não o impediu de fazer campanha nas redes sociais para o candidato Jair Bolsonaro e até de visitar um acampamento golpista. Robinho foi condenado pelo estupro coletivo de uma mulher albanesa em 2013. O feminicídio de Elisa Samudio pelo goleiro Bruno, cercado de violência e crueldade que chocou o Brasil, resultou em condenação e prisão do atleta, que hoje está em liberdade assistida.

Nenhum desses casos de agressão sexual envolvendo atletas, alguns com estofo de ídolos internacionais, parece comover a comunidade esportiva. Em artigo publicado na quarta-feira, 25 de janeiro, o ex-jogador e comentarista esportivo Walter Casagrande criticou o “código de silêncio” que impera entre jogadores, técnicos, dirigentes e a imprensa esportiva.

“Homens casados, muitos com filhas, se omitem, e de uma certa forma aceitam a convivência com quem comete esse e outros crimes”, criticou, duramente, o ex-atacante de futebol.

“Não se pode mais passar pano para ninguém que comete o crime de estupro, seja ele quem for. Acusado por este crime, Daniel está preso e sem direito a fiança. A Justiça espanhola não quer correr o risco de ser alvo de deboche por parte do suposto criminoso Daniel, como o criminoso Robinho faz com a Justiça italiana. A imprensa esportiva precisa, sim, falar repetidamente sobre o caso do Robinho. Senão, sua postura será equivalente à dos jogadores omissos e no mínimo coniventes”. •

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