O rombo dos barões
Na última semana, uma bomba sacudiu o país com a revelação do maior escândalo do mercado financeiro nacional. A Americanas escondeu passivos equivalentes à metade do seu patrimônio
O rombo de bilhões no caixa da rede varejista Lojas Americanas, um dos gigantes do mercado nacional, pôs a nu o caráter predatório de parte dos capitalistas brasileiros. Adeptos do “deus mercado” e ícones do empreendedorismo e da mão invisível, os principais acionistas do grupo perverteram a máxima do filósofo e economista inglês Adam Smith, instituindo a lógica da mão grande. O país está diante do maior escândalo financeiro do mercado de capitais brasileiro.
Na última semana houve a descoberta que chocou o mercado financeiro e deixou a imprensa aturdida: a Americanas esconderam passivos equivalentes a metade do seu patrimônio. As “inconsistências contábeis” superam a casa dos R$ 20 bilhões — e sabe-se agora que o grupo detém uma dívida que supera R$ 41 bilhões.
Além de colocar a bolsa de valores de São Paulo em polvorosa, a suposta “fraude contábil” da Americanas trás um prejuízo de quase R$ 7 bilhões aos bancos públicos. Só no BNDES, o grupo deve R$ 2,5 bilhões. Além das empresas públicas, o rombo levou como um tsunami dezenas de médios e pequenos investidores, ocasionando a falência de alguns fornecedores. O mercado reagiu mal.
Tendo como acionista principal a gestora de fundos 3G Capital, dos empresários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, classificados pela revista Forbes entre os mais ricos do país e do mundo, o rombo no balanço da Americanas levou o caso para a barra dos tribunais. Lemann é um dos controladores agora da holding Eletrobrás, privatizada criminosamente pelo governo Bolsonaro. Ele também é um dos idealizadores da iniciativa Renova BR, curso de formação política que tem ajudado a moldar uma nova geração de parlamentares no Brasil.
Um dos maiores credores da Americanas, o banco BTG Pactual propôs ação no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro para exigir maior desembolso dos controladores, que se negam a fazê-lo. “O caso em questão é a triste epítome de um país. Os três homens mais ricos do Brasil, ungidos como uma espécie de semideuses do capitalismo mundial ‘do bem”’, são pegos com a mão no caixa daquela que, desde 1982, é uma das principais companhias do trio”. O trecho em questão, compõe a ação impetrada pelo banco privado no Tribunal de Justiça do Rio.
O teor da briga entre os barões, de um lado André Esteves, do BTG, e, do outro, os controladores da Americanas, demonstra o caráter irresponsável e ganancioso de parte das classes empresariais no país. Na última semana, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) constituiu uma força-tarefa de áreas técnicas para analisar o caso Americanas. Sete procedimentos foram abertos para analisar o assunto, incluindo a conduta dos acionistas de referência formado por Lemann, Sicupira e Telles.
Agora, o que se espera, é que os bancos públicos, cujo capital pertence ao povo brasileiro, não fiquem à mercê de chicanas jurídicas e seja devidamente reembolsado. É patético assistir em país com tantas carências o baronato bilionário se digladiando. Enquanto isso, 33 milhões de brasileiros estão passando fome. •