Em Davos, Haddad dá o recado
Ao lado de Marina Silva, o ministro da Fazenda sinaliza no Fórum Econômico Mundial os novos rumos do Brasil, anunciando agenda verde para a economia nacional, e reforça que novo governo tem compromisso social com o país
A participação do ministro da Fazenda no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, na última semana, foi uma boa estreia do chefe da economia do governo Lula no cenário internacional. A parceria com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, serviu como sinal ao mercado sobre a direção do novo governo. A ideia de crescimento econômico sustentável tendo a preservação ambiental e o desenvolvimento de uma economia verde como fatores fundamentais foi muito bem recebida pelos investidores e por empresários brasileiros presentes no Fórum.
Mas Haddad também deu um recado claro ao apontar que o país precisa ter compromisso com o seu povo ao promover crescimento com justiça social. O combate à fome e à pobreza são um dos pilares do novo governo. O ministro ainda sinalizou que o novo arcabouço fiscal virá em abril. O novo regramento substituirá o chamado teto de gastos que achatou os gastos sociais e resultou no enfraquecimento dos serviços de proteção social.
Além disso, ele e Marina insistiram que a parceria entre a economia e o meio ambiente é muito bem vista pelo resto do mundo em função do momento geopolítico. A Europa busca alternativas para o fornecimento de gás da Rússia e quer novas fontes que sejam limpas e sustentáveis. Haddad citou a produção de hidrogênio verde que é muito promissora no Brasil e pode contar com investimento público.
Uma empresa brasileira localizada em Camaçari, na Bahia, já conseguiu transformar o hidrogênio em amônia, o que facilitaria o transporte da substância, um dos principais desafios da nova tecnologia. O ministro lembrou que o Brasil também é uma potência em energia eólica, solar e hidrelétrica.
A preservação da Amazônia e dos demais biomas do país juntamente com melhores práticas no setor agrícola são fatores que também fizeram parte das discussões conjuntas realizadas por Marina e Haddad. “Saio satisfeito sobre o que ouvi do Brasil. Cheguei aqui surpreso com o grau de preocupação com o país. A mensagem que [a ministra do Meio Ambiente] Marina Silva, e eu passamos é que o Brasil segue forte e as pessoas ficaram felizes de ouvir isso”, afirmou o ministro em uma entrevista coletiva. Já a ministra do Meio Ambiente relatou a chegada de novos doadores para a preservação da floresta.
O ministro afirmou que o Fundo Monetário Internacional se disponibilizou a colaborar com a elaboração das novas regras fiscais para o país. “Eles ficaram sabendo das nossas discussões fiscais e colocaram a equipe técnica à nossa disposição para que possamos conhecer as regras atuais em vigor e apresentarmos uma proposta mais crível para o Congresso”, afirmou. Outro anúncio bem recebido pelos estrangeiros foi sobre a apresentação da proposta de reforma tributária ainda no primeiro semestre.
O diretor-executivo do Eurasia Group, Christopher Garman, em análise ao Valor Econômico, declarou que os investidores estrangeiros têm melhores expectativas sobre o Brasil do que os investidores locais, mas somente após a implementação das ações que já vinham sendo anunciadas há tempos, e que foram reforçadas em Davos, o mercado passará a confiar de fato no ministro da Fazenda.
O que motiva essa “cautela”, na opinião do analista da Eurasia, é se haverá de fato sustentabilidade das contas públicas e a trajetória da dívida pública. Por outro lado, Haddad declarou que o mercado já entendeu que governo Lula será de estabilidade e previsibilidade.
O ministro da Fazenda também participou de uma série de encontros com executivos e empresários brasileiros e estrangeiros. Na conversa com Dara Khosrowshahi, CEO do Uber, Haddad falou sobre a importância de incluir esses trabalhadores do sistema da Previdência Social. O presidente da empresa teria se colocado à disposição o governo para contribuir no debate sobre a regulação do trabalho através de plataformas.
Durante a passagem por Davos, Haddad se reuniu também com o ministro de investimentos da Arábia Saudita, Al-Fahli. Ele ainda esteve com Malloch Brown e Alexander Soros, filho de George Soros, do Open Society, e Ian Bremmer, da consultoria Eurasia. O ministro participou ainda de encontro com os banqueiros Milton Maluhy (Itaú), Octavio de Lazari e Luiz Carlos Trabuco Cappi (Bradesco). •