David Crosby voa para longe

Fundador dos Byrds e de Crosby, Stills, Nash & Young, a lenda do rock americano morre aos 81 anos e deixa um legado de eternas e inesquecíveis canções. Ele foi a verdadeira inspiração para ‘Easy Rider’ e era a cara do Verão do Amor em 67

É difícil imaginar os loucos anos 60 e 70 sem lembrar de pelo menos duas ou três canções do cantor e compositor americano David Crosby. Esteio de duas grandes bandas de rock que moldaram a música pop — The Byrds e Crosby, Stills, Nash & Young —, Crosby ajudou a desenhar a rica cena dos Estados Unidos com algumas das mais emblemáticas canções da história: “Turn, turn, turn” (1965), “Eight Miles High” (1966), “Renaiscense fair” (1967) e “Long time gone” (1969).

Pois o lendário Crosby, um dos guitarristas e compositores mais importantes do rock, morreu na última quinta-feira, 19. Ele tinha 81 anos e vinha lutando bravamente contra um câncer. Crosby era um assíduo comentarista das redes sociais e, até à véspera de sua morte, interagia no Twitter. Na quarta-feira, elogiou a ativista Greta Thunbergar, presa por protestar em defesa do meio ambiente. “Ela é corajosa… Nada menos”, disse.

Crosby foi introduzido duas vezes no Hall da Fama do Rock & Roll, como membro fundador dos Byrds e também do quarteto CSN&Y. Foi um músico que trouxe influências do jazz, ampliando o folk-rock e ajudou a moldar uma geração de jovens que ganhou o mundo nos anos 60. Sua influência se estendeu às novas gerações do folk por sua afinação e vocais de harmonias complexas e delicadas.

Se alguém representava ainda o ideal hippie e da contracultura em pleno século 21, este alguém era Crosby. Em 1968, escreveu “Triad”, uma ode ao amor livre, gravada em versões distintas pelos Byrds, Jefferson Airplane e CSN&Y. Já a canção “Almost Cut My Hair”, que gravou também com CSN&Y no álbum “Déjà Vu”, é até hoje visto como hino de lealdade à contracultura.

O New York Times noticiou que a imagem de Crosby como “o maconheiro de olhos brilhantes e hedonista sardônico da era cósmica” foi modelo para o personagem Billy, interpretado por Dennis Hopper no filme “Easy Rider” (1969), dirigido, co-escrito e co-estrelado por Peter Fonda. O músico foi amigo de gente louca e de espírito livre daquele período de sexo, drogas e rock and roll, como os quatro Beatles, Bob Dylan, Jack Nicholson e Jerry Garcia, do Grateful Dead. Reza a lenda que tinha os melhores baseados dos EUA.

David Van Cortland Crosby nasceu em 14 de agosto de 1941, em Los Angeles, de família com raízes profundas na história americana que remontam ao domínio holandês em Nova York no século 17. Sua mãe, Aliph Van Cortland Whitehead, descendia da proeminente família Van Cortland. Seu pai, Floyd Crosby, foi diretor de fotografia vencedor do Oscar cujos créditos incluíam o clássico faroeste “High Noon”, era membro do clã Van Rensselaer.

Crosby tinha 16 anos quando ganhou seu primeiro violão, do irmão mais velho, Ethan. David começou, como tantos outros no início dos anos 60, tocando música folk. Depois, passou a ouvir jazz e absorveu a música dos Everly Brothers, o que o ensinou como estratificar harmonias em padrões diáfanos. O som dos Byrds emanou o Verão do Amor em 1967.

O primeiro prêmio Grammy veio para Crosby com o álbum de estreia do grupo CS&N, lançado em maio de 1969. Eles ganharam como melhor novo artista. O disco contém “Wooden Ships” duas outras canções de Crosby: a brilhante “Guinevere” e a elegíaca “Long Time Gone”, que ele escreveu após o assassinato de Bob Kennedy em 1968.

Naquele mesmo ano, sua namorada Christine Hinton, morreu em um acidente de carro durante uma tarefa de rotina. Mais tarde, o Crosby viu isso como o ponto de inflexão que o levou à depressão e ao uso pesado de drogas. “Não consegui lidar com isso”, disse. “Eu estava muito apaixonado e ela nunca mais voltou. Foi quando comecei a me envolver mais com drogas pesadas”.

Alimentado por drogas e egos, o agora quarteto rapidamente começou a se fragmentar. No ano seguinte, todos os quatro membros lançaram álbuns solo. O álbum de Crosby, “If I Could Only Remember My Name”, lançado em 1971, vendeu bem, mas foi o menos bem recebido. Crosby não gravaria outro álbum solo por 18 anos. 

A partir de 1972, Crosby lançou uma série de álbuns de sucesso com o Nash, seu aliado mais próximo na banda. Todos os três de seus primeiros álbuns conjuntos ganharam ouro, impulsionados pelas músicas mais comerciais de Nash. Em 1973, ele se reuniu com os outros quatro Byrds originais para um álbum, mas foi mal recebido. Durante grande parte dos anos 70, também trabalhou como cantor de estúdio, apoiando amigos famosos como Jackson Browne e James Taylor. Nos anos 80 e 90, fez um trabalho semelhante com Phil Collins.

Ao longo dos anos 70, os quatro se reuniam de tempos em tempos. Mas na década de 1980, Crosby estava cada vez mais infringindo a lei. Ele foi preso pela polícia de Dallas em abril de 1982, acusado de posse de drogas e armas. Passou nove meses na prisão. Em 1985, ele foi preso sob a acusação de dirigir embriagado, atropelamento e fuga e posse de uma pistola escondida e preso por um ano. Só abandonou as drogas pesadas em 1986.

Crosby detalhou suas dificuldades em duas autobiografias: “Long Time Gone” (1988) e “Since Then: How I Survived Everything and Lived to Tell About It” (2006), ambas escritas com Carl Gottlieb.  •