PRESENÇA A ex-presidenta foi ovacionada na solenidade de posse de Jorge Messias, na Advocacia-Geral da União

Dilma Rousseff, que permaneceu em Brasília depois de 1º de Janeiro,  se emocionou ao retornar ao Planalto depois de seis anos e foi ovacionada em solenidades de posse dos ministros

O que Dilma vai fazer ou deixar de fazer no terceiro mandato do presidente Lula permanece no terreno da especulação absoluta dos colunistas políticos, mas até mesmo a imprensa corporativa, que passou o ano de 2022 apostando que o ex-presidente Lula “esconderia” a ex-presidenta Dilma na campanha, teve de se render às evidências.

Presente às cerimônias oficiais da posse, Dilma continuou em Brasília ao longo da primeira semana de janeiro e compareceu à posse de ministros como Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social) e Esther Dweck (Gestão e Inovação no Serviço Público). Ela discursou na solenidade que alçou Jorge Messias ao cargo de ministro-chefe da Advocacia-Geral da União.  E, mesmo ausente, também teve o nome mencionado pelo chanceler Mauro Vieira.

Dilma foi saudada pelo novo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, enquanto era aplaudida de pé pelos convidados na posse que encheu o primeiro andar do Palácio do Planalto. “A sua presença aqui neste ato, como a senhora foi recebida, é uma reparação histórica das injustiças que a senhora sofreu”, disse Padilha. Ela foi saudada aos gritos de “Dilma, guerreira da pátria brasileira”, no evento. Outros presentes, como o presidente da Câmara, Arthur Lira, não tiveram o mesmo tratamento.

Dilma já havia sentido o acolhimento de seu retorno ao Congresso Nacional no dia da posse de Lula. Ele entrou no salão negro e se deparou com a ex-presidenta, acompanhada de outro ex-presidente da República, o maranhense José Sarney. No Planalto, na cerimônia de posse, sua entrada no salão principal também provocou fortes emoções.

NO CONGRESSO Dilma cumprimenta Lula no dia 1º de janeiro, ao lado de José Sarney e de Rosa Weber

Os aplausos e homenagens foram justos. Mas nada menos do que Dilma merecia como reconhecimento de ex-ministros de seus dois mandatos, colaboradores de seu governo ou simplesmente mulheres e homens que reconhecem, desde 2016, que ela sofreu um Golpe de Estado e saiu da Presidência no meio do seu segundo mandato em 2016 num processo de impeachment sem crime de responsabilidade.

O tratamento dado a Dilma nas posses de ministros também contrasta com as terríveis imagens da votação do impeachment na Câmara dos Deputados, há seis anos, quando o então deputado Jair Bolsonaro dedicou seu voto ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. Nada isso pode cair no esquecimento.

A presença de Dilma em Brasília também revela que o papel político da ex-presidenta pode ocupar no futuro passa por também por uma reconstrução da memória de seus dois mandatos — o último, inconcluso.

O legado de Lula tem suas continuidades — e diferenças, evidentemente — no mandato e meio que Dilma cumpriu. O massacre midiático que a ex-presidenta sofreu, desde quando Eduardo Cunha começou a armar o impeachment, já no início de 2015, tentou apagar os avanços de seus mandatos. E, claro, sempre negou que foi golpe.

E o que veio depois do Golpe de 2016 deu no que deu: a emergência de uma direita ressentida e furiosa, a eleição de Bolsonaro, os quatro anos de obscurantismo de um governo fascista e genocida.

Por isso é que Dilma, ocupando a primeira fila de assentos na diplomação de Lula no Congresso ou comparecendo a posses nos primeiros dias do governo Lula 3, é saudada, aplaudida e acolhida, cena que foi também comum aos atos e comícios na campanha de Lula em 2022.

Na posse de Alexandre Padilha, na segunda-feira, dia 2 de janeiro, Dilma chegou a comentar que tinha ficado “comovida”. “Nós entramos no Palácio do Planalto depois de seis anos. Ainda não fomos ao Alvorada, mas um dia vamos entrar para matar a saudade”, disse. 

Mal sabia a ex-presidenta que, menos de uma semana depois, o Palácio do Planalto seria destruído e saqueado por uma turba de terroristas. O mundo virtual, no entanto, está, mais uma vez, lhe fazendo alguma reparação.

Depois da prisão dos bolsonaristas que promoveram a barbárie no domingo, 9 de janeiro, voltou a circular trecho de entrevista de 2104 em que Dilma explica como ensinava ao neto Gabriel no que podia tocar e no que não podia tocar no Alvorada da “vovó”. “Às vezes, o Gabriel tenta mexer em alguma, e eu digo: ‘Não, meu filho, aí não pode mexer’. Aí ele me pergunta a razão, e eu respondo: ‘Não pode mexer porque isso não é da vovó. Isso pertence ao povo brasileiro’”. •

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