A fina flor do golpismo na mídia agora está fora dos jornalões. Augusto Nunes, Rodrigo Constantino, Alexandre Garcia e Guilherme Fiúza estão nas trincheiras da internet para destilar ódio e ataques à democracia. Mas posam de liberais-conservadores

<strong>As penas de aluguel do fascismo</strong>

O que antes enfrentávamos como uma imprensa institucionalizada e alinhada ao neoliberalismo, em conglomerados de mídia e seus veículos, cedeu espaço a um grupo de jornalistas radicalizados à extrema-direita brasileira, criando um nicho de leitores-eleitores que passaram a enxergar o país pela lente de uma insurreição golpista.

A resposta, tardia, quando impõe limites constitucionais à propagação de notícias falsas travestidas de opinião e a mobilizações digitais que insuflam atentados à democracia e alegam fraude nas eleições mesmo sem apresentar provas, agora é chamada de “ditadura da toga” e alimenta atos antidemocráticos pelo país.

O modus operandi é um perigoso jogo de versões para entrar em uma queda de braço com o Judiciário. Ao incendiar brasileiros, com plena consciência de estarem cometendo crimes, sabem que haverá reação e a isso chamam de censura.

Com o verniz de jornalismo, estes personagens dão a chancela a um outro lado do jogo golpista: os influenciadores digitais. Muitos usam veículos e jornalistas que assim se comportam para dar crédito a atos antidemocráticos em todo o país, sempre com a chancela da “fonte confiável e isenta”, se opondo à cobertura factual de veículos tradicionais, que agora são “vendidos e de esquerda”. 

O golpismo dá lucro

No início de novembro, o dono do grupo Jovem Pan, Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, afirmou: “a desobediência civil não sairá do meu bolso”. E anunciou a demissão de Guilherme Fiuza, Augusto Nunes, Caio Coppolla e Carla Cecato, que chegou a fazer comerciais eleitorais para Jair Bolsonaro. Adrilles Jorge, ex-BBB e comentarista político da emissora, já havia pedido afastamento para concorrer nas eleições a deputado federal pelo PTB de São Paulo. E não foi eleito. Recentemente, em solidariedade aos colegas golpistas, as ex-jogadora de vôlei Ana Paula Henkel, outro nome forte no golpismo midiático, pediu demissão da emissora.

Curioso notar que, até o momento do fim do pleito, Tutinha não tinha preocupação em “financiar” a desobediência civil”. Pelo contrário. Ele lucrou. De acordo com Guilherme Ravache, do UOL, a Jovem Pan, alinhada a Bolsonaro, viu seu faturamento crescer 30% desde 2021. Um salto de R$ 77,8 milhões para R$ 101,6 milhões.

Ainda segundo o colunista, o aumento dos ativos da empresa no período também chama atenção. Em 2020, o valor era de R$ 104,5 milhões, mas saltou para R$ 134 milhões no ano seguinte. Já o lucro líquido cresceu de R$ 9 milhões para R$ 15,7 milhões. Ou seja, a desobediência civil para Tutinha era um negócio. Com Bolsonaro presidente, e concorrendo ao pleito, valia a pena o risco.

Os pistoleiros da mídia

O time barra pesada conta com nomes como Guilherme Fiuza, Rodrigo Constantino, Augusto Nunes, Alexandre Garcia, Paulo Figueiredo, J.R. Guzzo, Flávio Gordon (conta retida no Twitter), Ana Paula e Carla Cecato.

Juntos, essa turma soma, em todos seus canais de comunicação, como Instagram, Twitter e YouTube, um total de 20,1 milhões de seguidores. Além da audiência que alcançam nos veículos que ainda lhes dão espaço. Isso gera lucro, além do caos, graças à monetização de canais e assinaturas pagas.

E o espaço só cresce. No Telegram, por exemplo, Paulo Figueiredo tem 133 mil inscritos, a quem alimenta diariamente com mensagens golpistas e republica seu conteúdo proveniente de outros canais. No mesmo ambiente, Guilherme Fiúza tem quase 22 mil inscritos e Flavio Gordon, 9 mil.

Enquanto alguns permanecem na Jovem Pan, como é o caso de Paulo Figueiredo, que diariamente incendeia o golpismo, outros demitidos foram em busca de novas casas para destilar o mesmo discurso de sempre: eleições fraudadas, incentivo a uma cobrança de ação das Forças Armadas, ataques a Lula e a todos que se opõem ou criticam o bolsonarismo.

Além de seus próprios canais e espaços, encontraram guarita em veículos como a revista Oeste, o “portal” Terra Brasil e jornais como O Povo e Gazeta do Povo, porta-estandartes do fascismo verde-amarelo, onde encontram livre espaço para incendiar o caos e a desordem no país.

Na nova casa, a revista Oeste, Guilherme Fiuza, Ana Paula Henkel e Augusto Nunes criaram um programa pelo YouTube chamado “Oeste Sem Filtro”, com uma nova integrante, a jornalista Paula Leal – o nome do programa contém uma aproximação trágica a outra jornalista que promove desinformação e já comandou o “Sem Censura”, na TV Brasil: Leda Nagle, que tem 1,34 milhões de inscritos em seu canal no YouTube.

Na mesma revista, além dos já citados, Guzzo, ex-editor de Veja, nos anos 80, que chegou a afirmar na nova casa que o ministro Gilmar Mendes é líder de “facção pró-crime” e assinou uma capa dizendo que “Lula está de volta à cena do crime”, segue firme. Também lá, outras penas de aluguel se colocam como extremistas. Caio Coppola, Flávio Gordon e Constantino assinam como colunistas. Apesar das diárias incitações golpistas e incisivas tentativas de questionar o resultado das eleições, se dizem não de extrema-direita, mas “liberais-conservadores”.

Se hoje adotam a antítese do jornalismo, mas se dizem o suprassumo da isenção, fazem parte de um covil que propaga ódio e uma realidade paralela conspiracionista, nomes como Alexandre Garcia, Guilherme Fiuza, Augusto Nunes e Rodrigo Constantino já fizeram parte da grande mídia. Hoje a atacam como “parte do sistema” e “esquerdista”.

As serpentes se voltam contra o ninho que lhes deu o espaço quando moderados. Se antes a imprensa gozava de prestígio, mesmo abraçando o golpismo velado, hoje concorre com a beligerância de quem se diz jornalista e sofre com a retaliação de milhões de seguidores da desinformação. Nada é por acaso. A pergunta que fica é: há um caminho reverso para detê-los? •