O dinheiro vivo do clã Bolsonaro
Mais uma denúncia contra o ex-capitão que não se explica perante a Nação, como no caso dos 27 cheques depositados na conta da primeira-dama pelo ex-policial militar aposentado Fabrício Queiroz
O presidente de extrema direita Jair Bolsonaro deve explicações à sociedade brasileira sobre como ele e sua família compraram 107 imóveis desde a década de 1990, dos quais ao menos 51 adquiridos total ou parcialmente por meio de pagamento com dinheiro vivo. As aquisições imobiliários totalizam, em valores atuais, cerca de R$ 25,6 milhões. É inaceitável o silêncio do ex-capitão diante do descomunal escândalo. A compra de imóveis com tal montante em dinheiro em espécie é prática inerente a organizações criminosas.
Não se sabe a origem dos recursos, mas provavelmente são de rachadinhas e esquemas de corrupção, comprovando práticas ilícitas e corruptas de Bolsonaro. A operação suspeita denunciada pelo portal UOL desmascara o ex-capitão, que construiu ao longo do tempo um sólido patrimônio imobiliário incompatível com seus ganhos oficiais.
Há uma infinidade de denúncias. Até hoje ele não explicou à Nação, por exemplo, os 27 cheques depositados na conta da primeira-dama, Michele Bolsonaro, no valor de R$ 89 mil, emitidos por amigo íntimo da família, o policial militar aposentado Fabrício Queiroz. Tampouco a história intrigante da Wal do Açaí, secretária do gabinete de Bolsonaro quando ele era deputado, que nunca pôs os pés em Brasília.
A propósito, apresentei um projeto de lei (PL 48/2015) em tramitação na Câmara dos Deputados para acabar com a circulação de dinheiro em espécie. Isso impediria, por exemplo, a gigantesca e suspeita operação imobiliária do clã Bolsonaro.
Há pouco tempo, a Índia tomou medida fundamental para um verdadeiro e bem intencionado combate à corrupção: o fim do dinheiro em espécie. Lá, anulou-se em 86% a circulação das cédulas.
Minha proposta estabelece, contudo, que a impactante mudança seja realizada de maneira paulatina, em um prazo de transição de dez anos, para a população se adaptar. Significa adotar 100% das transações por meio digital em uma década.
Além do combate à corrupção, a medida, a exemplo da Índia, poderá permitir o aumento da arrecadação do Estado devido à drástica redução da sonegação e ao aumento do número de cidadãos que passaram a declarar imposto de renda. Dificultará operações suspeitas como a praticada pela família Bolsonaro, combaterá a informalidade e reduzirá custos com a não emissão do papel-moeda.
As transações digitais são mais seguras que as com dinheiro físico e a desmonetização é uma tendência mundial, a partir de uma maior democratização do uso da tecnologia. Na Suécia, hoje em dia menos de 1% das transações financeiras é realizado com dinheiro em espécie, que deverá estar extinto lá até 2030.
O projeto proíbe a cobrança de taxas nas operações de débito por bancos e empresas de crédito e facilita a extinção de crimes como assaltos a bancos, a postos de gasolina, ‘saidinhas de banco’ e arrombamento de caixas eletrônicos. Terroristas, sonegadores, lavadores de dinheiro, cartéis de drogas, assaltantes e corruptos estariam mais facilmente na mira do controle financeiro.
Não se trata do fim do dinheiro, mas do uso do papel-moeda. Garante-se um ambiente financeiro com muito mais transparência. Proponho a extinção do uso, da fabricação e da circulação do papel-moeda no Brasil. Isso não quer dizer que defenda a moeda virtual. Desejo uma moeda nacional, contabilizada e que circule digitalmente.
É uma solução eficaz para alguns dos problemas do Brasil. Deve estar em discussão, portanto, na sociedade brasileira. Sem medo de polêmicas e das diversas reações, precisamos garantir um país mais transparente para o futuro. •