A atriz carioca Cláudia Jimenez morre aos 63 anos, mas deixa um legado de personagens marcantes na comédia televisiva nacional e uma carreira de papéis em novelas, teatro e no cinema brasileiro

 

Eu adoro. É o que eu sei fazer de melhor. Me considero uma comediante. (…)  A minha Sorbonne foi a ‘Escolinha [do Professor Raimundo]’. Trabalhar com aquelas pessoas [Chico Anysio, Walter D’Ávila], se você não aprender é porque não nasceu pra isso. Na TV, eu gostaria de ter algum diretor que bancasse um projeto diferente do humor que eu sempre fiz. Um personagem que fosse tragicômico. Para mostrar que eu também posso. (…) Estou na estante de ‘engraçada’. Então é pra lá que eu vou ser solicitada.” Em uma de suas últimas entrevistas ao jornal Folha de S. Paulo, a atriz Cláudia Jimenez, que morreu no sábado 20 de agosto, definiu assim sua relação com o humor e a comédia.

A partir do duplo lugar complicado de ser mulher e comediante, especialidade da arte dramática que exige a capacidade de não apenas fazer rir, mas também de saber rir de si mesmo, Jimenez teve uma carreira de personagens marcantes, bordões inesquecíveis e uma luta permanente contra a gordofobia.

Vinda do teatro amador, aos 20 anos Cláudia estreou em papel na “Ópera do Malandro”, de Chico Buarque, no final dos anos 1970. De lá foi descoberta pela televisão, onde estreou nos programas de Jô Soares (“Viva o Gordo”) e Chico Anysio (“A Escolinha do Professor Raimundo”).

Cláudia se destacou em diversos programas de humor, como a sitcom “Sai de Baixo” e a primeira fase de “Zorra Total”, novelas como “Torre de Babel” e as “Filhas da Mãe”. Também trabalhou em diversas peças de teatro com os diretores Mauro Rasi, Jorge Fernando e Miguel Falabella.

No cinema, ganhou prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília em 1991 no longa-metragem “O Corpo”, em elenco que ainda contava com Antônio Fagundes, Marieta Severo e Carla Camurati. 

Dona de uma risada solta, Cláudia nunca deixou de denunciar os preconceitos que sofria por ser uma mulher fora dos padrões de magreza — e exatamente por isso, se notabilizava em papéis em que podia justamente explorar a sensualidade, como a empregada doméstica Edileuza, em “Sai de Baixo”.

De acordo com a atriz Ingrid Guimarães, em entrevista ao jornal O Globo, Cláudia “não gostava de piadas com o corpo dela. (…) A vida inteira lutou contra isso, contra o humor depreciativo. Contra o humor que falava do próprio corpo. Apesar de ela brincar com isso, também tinha essa luta”, lembra.

Nos últimos anos, Claudia enfrentava problemas de saúde ligados a uma condição cardíaca. Morreu no Rio de Janeiro. •

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