A vice-presidenta da Argentina continua sendo perseguida pelo Ministério Público, acusada de corrupção, sem provas, como Lula. Dilma denuncia: “Ela é vítima de mais um ato brutal de lawfare e de perseguição política”

 

O modelo é o mesmo: aparelhado por adversários políticos, promotores públicos investem contra líderes políticos do campo popular sob acusações genéricas de corrupção e desvio de dinheiro em obras públicas. Foi assim no Brasil, com Luiz Inácio Lula da Silva; no Equador, com Rafael Correa; na Bolívia, com Evo Morales; e em Portugal, com o ex-primeiro-ministro José Sócrates. Agora, o assassinato de reputações acontece na Argentina, contra a vice-presidenta da República Cristina Fernández de Kirchner.

Ela enfrenta acusações de corrupção em licitações de obras que ocorreram durante seu mandato à frente da Casa Rosada, entre 2007 e 2015. O Ministério Público da Argentina pediu, na segunda-feira, 22, nada menos do que 12 anos de prisão para a vice-presidenta argentina, além da perda perpétua de direitos políticos. O caso é mais um escandaloso uso do lawfare contra líderes políticos progressistas na América Latina.

A ex-presidente Dilma Rousseff veio a público no dia seguinte, 23, para traçar paralelos entre o processo enfrentado pela líder  da esquerda argentina e a oposição que ela própria enfrentou no Brasil, vítima de um impeachment que completa esta semana seis anos. Dilma denuncia que até hoje nenhum tribunal argentino considerou válida qualquer acusação contra Cristina e que o caso é “pura perseguição judicial e midiática”. ““Seu direito à defesa foi violado, com o abusivo acréscimo de acusações que nunca haviam sido feitas”, criticou.

“É o método que a extrema direita adota no continente para interditar líderes que vivem no coração do povo”, denuncia a ex-presidenta do Brasil. A própria Cristina denunciou o caráter de perseguição política no Senado da Argentina, ainda na terça-feira. “Este é um julgamento contra o peronismo”, criticou, apontando o movimento político argentino aliado às ideias de Juan Domingo Perón, que comandou o país de 1946 a 1955 e de 1973 a 1974.

A vice-presidente e outras doze pessoas são acusadas de direcionar licitações de obras públicas na província de Santa Cruz para favorecer o empresário Lázaro Báez, que também é alvo no processo movido pelo Ministério Público. Como ocupa o cargo no Executivo e o cargo de presidente do Senado, é necessária uma autorização da Suprema Corte para que uma sentença condenatória, caso ocorra, seja cumprida.

Além de Dilma, mais de 250 líderes mundiais expressaram sua solidariedade com Cristina. Todos denunciaram que o julgamento do chamado “caso Vialidad” contra a vice-presidente é “mais um capítulo da estratégia lawfare” em vigor na América Latina. Eles sustentam que a perseguição contra Cristina também se deve “à sua condição de mulher”. O documento foi assinada por Dilma,  a senadora colombiana Piedad Córdoba; a jornalista espanhola Pilar del Río; a filósofa Chantal Moufee; a ministra boliviana María Nela Prada; e a líder das Mães da Plaza de Mayo, Taty Almeyda.

Também na quarta-feira, o Grupo de Puebla, organização que reúne líderes políticos e intelectuais da região iberoamericana, protestou contra a perseguição à vice-presidenta da Argentina. “No período entre 2015 e 2019, ela foi processada repetidamente, chegando a mais de uma de uma dúzia de processos, em quase todos os casos promovidos pelos mesmos juízes, promotores e outros membros do Judiciário que tinham vínculos com o então presidente Mauricio Macri”, diz um trecho documento divulgado na quarta-feira, 24.

“Através de promotores e juízes, a direita busca bani-la sem permitir que ela se defenda”, afirma o texto do Grupo de Puebla, fazendo alusão direta ao pedido do promotor Diego Luciani para condenar o ex-presidente a 12 anos de prisão e inabilitação perpétua para o exercício de cargos públicos. O Grupo de Puebla cita parecer do Conselho Latino-americano de Justiça e Democracia (Clajud).  •

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