– Mais de 30 anos de jornalismo profissional, 12 pelo menos na internet, como blogueiro “sujo”. De alguma maneira, vivemos nesse período uma decadência do jornalismo, ao mesmo tempo que sua reinvenção. Fazendo um exercício de futurologia, como será o jornalismo daqui a 10 anos? Precisaremos ainda do jornalismo? Qual e por quê?

— A mídia corporativa brasileira, que fez um “ensaio” de se abrir para visões mais plurais nos anos 1980 e 1990, mergulhou de cabeça no que poderíamos chamar de “jornalismo de campanha”, nesse início de século 21. Campanha em defesa de privatizações, de esvaziamento do Estado nacional, num primeiro momento. Depois, a mídia corporativa retomou a velha sintaxe lacerdista e foi pra cima do PT, dos sindicatos, de qualquer coisa que significasse contra-poder ao projeto neoliberal. E aí expurgou jornalistas que não aceitaram participar dessa marcha da imprensa, que se abraçou gostosamente ao bolsonarismo.

Seguiremos precisando de jornalismo. Evidente que também na mídia corporativa há lampejos de bom jornalismo. Mas há uma interdição: jornalismo que conteste o poder político, ok. Mas os cânones liberais seguem intocáveis! Precisamos, hoje, daqui a 10 ou 100 anos, de um jornalismo que mostre o absurdo que significa apostar na destruição do Estado — sabendo que foi quem construiu alguma civilidade no Brasil. Precisamos de jornalismo que conteste o poder e o projeto do rentismo. E não virá da mídia corporativa.

 

— Como foi o critério de seleção? Você levou em consideração audiência e/ou repercussão do post ou a ideia foi estabelecer uma linha lógica e cronológica?

— Selecionei os textos, escritos a quente durante 10 ou 12 anos, que ajudassem a contar a história cronológica da estranha travessia vivida pelo Brasil. É a primeira camada do livro: uma sequência de crônicas curtas que ajudam a recontar a história recente. A segunda: os combates da comunicação, dos blogueiros progressistas. E há uma terceira, quando me arrisco a defender a “tese” de que Lula e Dilma no poder significaram a retomada do fio da história do velho trabalhismo. O ataque a Lula/Dilma é o ataque ao projeto de um Brasil independente.  A questão nacional, o petróleo e a ideia de uma Nação autônoma e menos desigual, estão na raiz do Golpe de 2016.

 

— História e jornalismo se encontram onde? No dia-a-dia, no impulso de contextualizar e explicar o que estamos testemunhando, ou a posteriori?

— Jornalismo e história podem se encontrar dessas duas formas que você define. Para mim, se encontram já na hora da escrita, com os paralelos e o olhar que leva em conta também a “longa duração” dos dramas sociais e políticos brasileiros: escravidão, casa grande e senzala, a falta de uma burguesia nacional, o Estado como condutor da construção nacional, o golpismo da elite. Tudo isso “vem de looonge”, como dizia Brizola. Mas jornalismo e história se encontram também na hora de fazer uma síntese, dando um sentido ao que escrevi ao longo de dez ou doze anos na internet. •

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