Macron perde a maioria na Assembleia Nacional em derrota histórica. A esquerda unida ganha a segunda maior bancada, mas crescimento da extrema-direita preocupa

 

A coligação do presidente francês, Emmanuel Macron, não conseguiu manter maioria absoluta no Parlamento no segundo turno das eleições legislativas, disputadas no domingo, 19. A surpresa foi o avanço da esquerda. A Nupes, sigla da Nova União Popular Ecológica e Social, uma coalizão das principais forças de esquerda do país, formada por iniciativa de Jean-Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa, da esquerda radical, ficou em segundo lugar e conquistou 131 cadeiras.

É a primeira vez que um presidente recém-eleito (reeleito, no caso de Macron) não obtém maioria absoluta para governar. O mais assustador, contudo, é o crescimento da extrema-direita. O Rassemblement Nacional (Reagrupamento Nacional), liderado por Marine Le Pen, foi a terceira força mais votada e multiplicou por 12 seu número de deputados. O RN alcançou o melhor desempenho em uma eleição legislativa desde sua criação por Jean-Marie Le Pen, pai de Marine, há 50 anos.

O Rassemblement Nacional passou de apenas 7 deputados na atual legislatura, que se encerra, para 89, de acordo com os números divulgados pelo ministério do Interior. “É um tsunami”, declarou o presidente do partido, Jordan Bardella. O resultado inesperado é considerado uma guinada no cenário político francês.

A coligação centrista “Ensemble!” (Juntos!) de Macron obteve 245 cadeiras na Assembleia Nacional. Para obter a maioria absoluta, seria necessário conquistar 289 dos 577 assentos. Apesar de sua coalizão ter sido a mais votada, Macron precisará, na avaliação de especialistas, buscar alianças e terá grandes dificuldades para governar devido ao forte avanço das esquerda e da direita radical.

Com o desempenho, a Nupes — que, além da França Insubmissa, reúne os partidos Socialista, Ecologista e Comunista —, se torna numericamente a principal força de oposição no Legislativo. A questão que se coloca agora é se a aliança, que deverá formar grupos separados no Parlamento em função dos partidos, conseguirá se manter unida e irá durar.

O resultado da coalizão representa um salto em relação à atual legislatura, onde a esquerda como um todo reúne menos de 80 deputados. Em um discurso ainda na noite de domingo, Mélenchon afirmou que a “derrota do partido presidencial é total”.

A primeira-ministra do país, Elisabeth Borne, que também era candidata e conseguiu se eleger, disse em pronunciamento na TV francesa que nunca havia visto uma Assembleia Nacional como a que se configura agora. “A situação representa um risco para o país, dados os riscos que já temos enfrentado nacional e internacionalmente”, declarou. Ela chegou a entregar o cargo, mas Macron não aceitou a renúncia.

O duelo apertado entre a aliança centrista de Macron e a frente de esquerda Nupes no primeiro turno, que resultou em um empate, com uma diferença de apenas cerca de 21 mil votos a favor do Ensemble! de Macron, levou o presidente francês a lançar apelos às vésperas desse segundo turno, alertando que haveria “desordem” ou “bloqueio” da vida política francesa se ele não obtivesse uma “maioria sólida” no Parlamento. • Com a BBC

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