Desmoralizado, Bolsonaro diz que Petrobrás “vai criar o caos no país”, como se o governo não fosse responsável pela explosão da inflação e das tarifas de combustíveis

 

De nada valeram as promessas de Jair Bolsonaro. Menos de uma semana depois de o governo ter apresentado ao Congresso um projeto para zerar o ICMS e reduzir os preços dos combustíveis, a Petrobrás se lixou para a pressão do governo e aumentou os preços do diesel e da gasolina na manhã de sexta-feira, 17.

A gasolina foi reajustada em 5,2%, passando a custar R$ 4,06 o litro nas refinarias da estatal, em um aumento de 20 centavos. Já o diesel será reajustado em 14,2% e passará a custar R$ 5,61 o litro, um aumento de 70 centavos. Os novos preços já entraram em vigor no sábado, 18.

O presidente reagiu como sempre, tentando se justificar pela absoluta ausência de controle sobre a economia. Ele disse que a Petrobrás “pode mergulhar o Brasil num caos”, como se ele não tivesse qualquer responsabilidade sobre a política de preços dos combustíveis praticados pela estatal, que dolarizou as tarifas logo depois do Golpe de Estado que derrubou Dilma Rousseff em 2016.

A gasolina estava congelada há 99 dias, e o diesel passou 39 dias sem aumentos da Petrobrás. Em nota enviada à imprensa, a estatal afirmou que é sensível ao momento que o Brasil e o mundo enfrentam, de alta de preços, rebatendo declarações que vêm sendo feitas há semanas por Bolsonaro.

A presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), criticou o Palácio do Planalto, acusando Bolsonaro de hipocrisia, já que a política de preços de paridade internacional foi adotada pela Petrobrás e seque intocada. “Qualquer discussão séria sobre saídas para a crise passa pela mudança na política de preços, retomada dos investimentos da Petrobrás na produção e distribuição de combustíveis e fim da farra da distribuição de lucros e dividendos aos privados”, disse a parlamentar. “Fora disso, é só oportunismo eleitoreiro”.

Gleisi lembrou que, desde 2016, o país vem sofrendo com a dolarização dos preços da Petrobrás, com o fechamento de refinarias e o aumento da importação de combustíveis. “A cada novo presidente da Petrobrás a situação se agrava, porque trocam os nomes, mas não fazem o que tem de ser feito”, criticou a deputada.

O reajuste dos combustíveis ocorre em meio a uma queda de braço entre a liderança da estatal e o governo, que pressionava para que a empresa não fizesse um aumento do preço dos combustíveis enquanto o Congresso discute uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para compensar os Estados que zerarem a alíquota do ICMS sobre o diesel e o gás de cozinha. 

Os reajustes anunciados refletem a disparada dos preços dos derivados de petróleo no mercado internacional, seguindo a alta da commodity por causa da maior demanda e do fechamento de refinarias em meio à guerra entre a Rússia e Ucrânia. Na sexta-feira, os contratos do petróleo tipo Brent para agosto eram comercializados a US$ 119,50 o barril. •

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