A repercussão internacional do assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira foi grande o suficiente para desgastar ainda mais a imagem do Brasil junto à comunidade internacional. Enquanto a imprensa brasileira divulga sem destacar devidamente as declarações absurdas do presidente Jair Bolsonaro, a mídia internacional — principalmente a estadunidense e europeia — não poupa o governo brasileiro, responsabilizando-o pela Amazônia ter se transformado em uma terra sem lei.

Em editorial, o diário francês Le Monde destacou que o desaparecimento do jornalista e do indigenista lembra as ameaças que pairam sobre os “pulmões” do planeta e as populações isoladas que vivem na região, vítimas do garimpo, da agricultura agressiva, do tráfico de drogas e da visão “desenvolvimentista” do presidente Bolsonaro.

“Do tamanho da Áustria, o Vale do Javari é uma região de difícil acesso. Há a maior concentração de povos isolados, sem nenhum contato com o mundo exterior. Seu número é estimado entre 300 a 500 pessoas segundo especialistas, o que significa que pesam pouco contra a máquina destrutiva que está devastando o ‘pulmão’ do planeta, cujo destino é, no entanto, essencial na luta contra o aquecimento global”, diz.

“Desde que ele assumiu o cargo, o desmatamento e a extração de ouro explodiram, e a monocultura da soja, sinônimo de empobrecimento dramático da terra, está corroendo a floresta”, denuncia o jornal.

Na sexta-feira, 17, o diário britânico The Guardian também expôs diretamente o governo brasileiro. O fez uma homenagem ao repórter inglês, com foto na primeira página, apontando que Dom Phillips morreu tentando alertar o mundo sobre a guerra contra a natureza, em texto assinado por Jonathan Watts, ex-correspondente do Guardian no Brasil e editor de meio ambiente do diário britânico.

“Dom Phillips e Bruno Pereira foram mortos em uma guerra global não declarada contra a natureza e as pessoas que a defendem. O trabalho deles importava porque nosso planeta, as ameaças a ele e as atividades daqueles que o ameaçam importam. Esse trabalho deve continuar”, alerta Watts.

Em editorial, o Guardian denuncia o líder brasileiro: “O presidente do país, Jair Bolsonaro, ao dizer que algo ‘perverso’ aconteceu, também culpou insensivelmente os dois homens. Simplesmente não era do interesse de um Estado capturado por interesses extrativistas e que despreza o Estado de Direito, criando uma cultura de impunidade para aqueles que exploram a floresta amazônica e tornando seus protetores muito mais vulneráveis”.

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