O último suspiro do Clash
Há 40 anos, o clássico Combat Rock era lançado. O disco ainda é um petardo político e sonoro poderoso que continua a surpreender. Agora, saiu uma edição comemorativa do álbum
O ano de 1982 foi um dos mais duros para a juventude inglesa. A Guerra das Malvinas havia estourado e jovens recrutas eram mandados para o Atlântico Sul para lutar pela posse de uma ilha no confins da Argentina. Um trauma que ainda persiste para muitos que cresceram na velha bretanha de Margareth Thatcher.
Em maio daquele ano, a banda The Clash lançava Combat Rock, o último canto da dupla Mick Jones e Joe Strummer, que surpreendentemente tornou-se o disco mais popular do quarteto punk, separado logo depois pelas constantes rixas entre os dois compositores e frontmen.
O grupo estava no auge e havia conquistado o mundo e a América e deixava claro que estava ali para continuar a provocar o establishment. O álbum abre com a furiosa “Know your rights”, um poema-punk que mostra a atitude e a consciência política a milhares de moleques pobres, obrigando-os a encarar a realidade.
A canção é berrada por Strummer: “This is a public service announcement/ With guitar/ Know your rights all three of them/ Number 1/ You have the right not to be killed/ Murder is a crime!/ Unless it was done by a policeman or aristocrat/ Know your rights”.
Em tradução livre: “Este é um anúncio de utilidade pública/ Com guitarra./ Conheça seus direitos, todos os três/ Número 1/ Você tem o direito de não ser morto/ Assassinato é um crime!/ A não ser que seja feito por um policial ou aristocrata/ Conheça seus direitos”. Isso se chama consciência de classe.
Todas as letras parecem gerar aquele mal-estar típico de quem cresceu no mundo pós-Guerra do Vietnã, com a “sensação de mau presságio” e a decadência do Ocidente. Não é para menos. A banda havia sido capturada pelo filme Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola, lançado em 1979.
A canção “Straight to Hell” descreve as crianças geradas por soldados americanos nas vietnamitas violadas e depois abandonadas: “Você quer juntar-se a um coro de blues amerasiático?/ Quando for natal na cidade Ho Chi Min/ A criança dirá papa papa papa papa-san me leve pra casa”.
Embora o disco tenha essa pegada politizada e engajada, é um álbum de rock com sabores pop e pelo menos dois hits matadores que ainda fazem o mundo balançar. O primeiro é “Rock the Casbah“, uma canção do baterista Topper Headon, que toca piano e baixo, com letra de Strummer, ironizando a proibição da execução pública de canções no Oriente Médio, particularmente o Irã, após a revolução de 1979.
O outro sucesso mundial do álbum é “Should I Stay or Should I Go“, de Mick Jones, que é uma canção de amor: “It’s always tease, tease, tease/ You’re happy when I’m on my knees/ One day is fine, next is black/ So if you want me off your back/ Well, come on and let me know/ Should I stay or should I go?”
Em tempo. Saiu uma versão comemorativa do disco, com três CDs, mais um k7, com raridades, takes alternativos e faixas ao vivo, que você pode ouvir no serviço de streaming mais próximo de você. É diversão garantida! E fique atento: este é o último disco de rock que realmente importa. •