Quilombo nos Parlamentos é iniciativa suprapartidária da Coalizão Negra por Direitos para apoiar candidaturas de negras e negros nas eleições de outubro

 

Uma das iniciativas mais importantes dessas eleições teve seu lançamento na segunda-feira, 6, em São Paulo. O encontro de movimentos negros de todo o país se deu em um lugar simbólico da lutas pela moradia na cidade, a Ocupação 9 de Julho, liderada por Carmen Silva, do Movimento dos Trabalhadores de Sem-Teto de São Paulo. Centenas de ativistas antirracistas compareceram ao evento organizado pela Coalizão Negra Por Direitos para assistir ao evento de lançamento do Quilombo nos Parlamentos, articulação destinada a apoiar candidaturas negras nas eleições de outubro.

São 67 pré-candidatos que concorrerão ao cargo de deputado estadual, 31 a deputado federal, dois a deputado distrital e um ao Senado por legendas como PT, PSOL, PCdoB, PSB, PDT e Rede, no Distrito Federal e 19 estados.

No lançamento, vários candidatos a vagas para assembleias legislativas e para a Câmara Federal estiveram presentes, bem como ativistas da luta contra o racismo, artistas, intelectuais e dirigentes partidários, como Gleisi Hoffmann, presidenta do Partido dos Trabalhadores. O ex-presidente Lula fez entrada ao vivo, por vídeo, por estar em quarentena devido ao fato de ter testado positivo para covid.

“Eu fico feliz como a pessoa que tem vocês lado a lado na tentativa de reconquistar a democracia nesse país, para que as pessoas voltem a sorrir, para que as pessoas voltem a ter direitos, para que as pessoas voltem a sonhar e para que todo mundo diga em alto e bom som ‘não ao racismo’”, disse Lula.

Criada em 2019 em encontro realizado na Ocupação 9 de Julho, a Coalização Negra Por Direitos é resultado do processo de unificação de movimentos sociais em torno da discriminação racial. Nas eleições de 2020, em plena pandemia, havia resolução para ampliar e visibilizar a presença de ativistas nos espaços institucionais da política. Aa Coalizão estava mergulhada na campanha Tem Gente com Fome, pois a covid atingiu de forma desigual a população negra: pretos e pardos representam 57% dos mortos pela doença, enquanto brancos são 41% dos mortos, de acordo com dados do IBGE.

Para reverter o desmonte promovido pelo governo Bolsonaro e avançar na ampliação de direitos, será necessário ocupar a política. “Como é que a gente quer que as reivindicações e necessidades da população negra e do povo pobre sejam atendidas se não temos essa gente nas Câmaras de Vereadores, nas assembleias, nas prefeituras, nos governos, na Presidência da República, no Congresso e no Senado? Não tem no Judiciário, no MP, na Receita Federal, no sistema de Justiça praticamente inexiste a população negra, porque ela sempre foi marginalizada”, disse Lula.

Robeyoncé Lima, pré-candidata a deputada estadual por Pernambuco, reforça: “É preciso que a gente aquilombe a política com lideranças negras dentro de espaços de poder e de tomada de decisão, a gente não vai mais admitir uma política feita sem os nossos corpos e sem o nosso protagonismo. […] Travestis negras no comando da nação.”

Das jovens lideranças aos militante históricos, a tônica da noite foi a denúncia permanente do racismo, mas também de esperança. Milton Barbosa, fundador do Movimento Negro Unificado, criado em 1978, foi categórico: “Nós vamos derrotar a extrema direita. Nós progressistas, nós negros revolucionários que queremos a transformação, queremos dar norte para este país, vamos dar norte para este país, para as Américas e para o mundo”. •

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