Disputa do segundo turno terá o líder da esquerda, que obteve 40,34% dos votos contra o milionário conservador, que surpreendeu adversários e tirou a direita tradicional da briga

 

As eleições presidenciais na Colômbia, que realizou o primeiro turno no domingo, 29, confirmaram o favoritismo do senador Gustavo Petro, ex-prefeito de Bogotá e candidato do Pacto Histórico. Ele obteve 40,34% dos votos, seguido pelo empresário Rodolfo Hernández, da Liga de Governadores Anticorrupção, um populista de direita apelidado de ‘trump colombiano’. O milionário superou as expectativas e conquistou o direito de ir ao segundo turno, ultrapassando o candidato Federico Gutiérrez, da Equipe por Colômbia, apoiado pelo Centro Democrático, o partido de Álvaro Uribe e do atual presidente Iván Duque. 

O economista e ex-guerrilheiro do M-19 conquistou 8.523.554 votos, enquanto Hernández ficou com 5.951.901 votos. Ex-prefeito de Bucaramanga e candidato outsider, com discurso anticorrupção, o milionário colombiano é quem tem agora a simpatia da direita, da mídia e do mercado financeiro, embora seja considerado um político pouco confiável. Gutiérrez conquistou 5.504.120 votos, o equivalente a 23,87% do total. E já aderiu à campanha de Hernández.

“O que se disputa hoje é a mudança, os partidos aliados ao governo Duque, que teve seu projeto político derrotado”, disse Petro, após a vitória no primeiro turno. “Acredito que a votação total na Colômbia envia essa mensagem central ao mundo, uma era está chegando ao fim. Agora é construir um futuro, ver o que vamos fazer com a Colômbia, o que a sociedade colombiana quer de seu próprio país”, afirmou o candidato das esquerdas.

“Nós propomos uma mudança real e estável, onde a família, que é a primeira comunidade será fortalecida se a comida chegar em casa, se pararmos as importações caras para produzir na Colômbia”, comentou o economista. “Queremos uma mudança que construa a paz e acabe com a violência”. Petro prega um modelo de “justiça social e estabilidade econômica”. 

Hernández tem uma plataforma política vaga e sem propostas claras para o país. Ele fez uma aposta nas redes sociais, adotando uma pregação contra a corrupção e a “politicagem”. O milionário de 77 anos optou por não participar dos debates, adotando uma estratégia certeira que parece ter funcionado no âmbito de seu programa de governo, considerado nebuloso.

O segundo turno das eleições serão duras, já que o candidato do governo, Federico Gutiérrez, anunciou apoio a Hernández, reforçando a campanha. “Tomamos uma decisão que queremos comunicar ao país, não falei com Rodolfo, quero expressar publicamente que não queremos perder o país, não vamos colocar em risco a Colômbia ou nossas famílias, nem nossos filhos, e é por isso que votaremos em Rodolfo no próximo dia 19 de junho”, anunciou Gutiérrez logo depois de encerrado o primeiro turno.

O apoio de Gutiérrez significa que a máquina eleitoral, territorial e política do uribismo estará a serviço do canddiato milionário. María José Pizarro, senadora do Pacto Histórico, havia antecipado o anúncio minutos antes: “O uribismo não está derrotado, sabemos que o uribismo deu a ordem dizendo que apoiam Rodolfo Hernández, que é Hernández, a continuidade do uribismo”.

As primeiras pesquisas eleitorais pós-primeiro turno mostram uma disputa acirrada. Levantamento da CNC divulgada na quarta-feira, 1º de junho, mostra Petro com 39% das intenções de voto, tecnicamente empatado com o populista de direita, que tem 41%. Entre os 1,2 mil entrevistados, 5% disseram que votariam em branco, 1% não escolheria nenhum dos candidatos e 14% não souberam ou não quiseram responder. A margem de erro da pesquisa é de 2,8%, foi realizada entre segunda e terça e foi encomendada pela emissora colombiana CM&.

A pesquisa mostra Petro com 10 pontos de vantagem (49% a 39%) sobre Hernández na capital, Bogotá, que é o maior colégio eleitoral do país e cidade da qual o economista foi prefeito nos anos 2000. Apesar disso, o senador do Pacto Histórico está atrás na região de Antioquia, onde fica Medellín, com apenas 26% das intenções de voto, enquanto Hernández tem 54%. •

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